Autárquicas2021: Mudanças de campo, estreias e eventuais surpresas em Portimão

Portimão passou de 7 para nove vereadores. Irá isso refletir-se nos resultados eleitorais?

Sete candidaturas, algumas mudanças de campo e duas estreias: são assim as listas que querem ganhar a Câmara Municipal de Portimão, nas Eleições Autárquicas do próximo dia 26 de Setembro.

O Partido Socialista está no poder desde as primeiras eleições para as autarquias após a Revolução do 25 de Abril, em Dezembro de 1976, ou seja, há quase 45 anos. A Câmara de Portimão é das poucas no país que nunca mudou de cor política. Será desta?

Pelo PS, a candidata é a atual presidente da Câmara Isilda Gomes. Se ganhar, este será o seu terceiro e último mandato. A autarca, que já foi Governadora Civil, teve este ano um faux pas que manchou a sua imagem: o facto de ter sido vacinada contra a Covid-19 antes da sua vez, invocando o facto de ser voluntária no hospital de campanha do Portimão Arena. Isilda Gomes explicou o que se passou, mas não se livrou de ser constituída arguida.

Como principais opositores, Isilda Gomes tem um antigo vice-presidente da Câmara de Portimão (Luís Carito) e o ainda presidente da Câmara de Monchique (Rui André). Será um verdadeiro combate de chefes.

O médico Luís Carito surge como cabeça de lista da coligação Portimão Mais Feliz, que junta CDS-PP, Nós Cidadãos e Aliança. O mais curioso é que Carito foi uma alta figura do PS a nível local, regional e mesmo nacional. Na presidência de Manuel da Luz, foi vice-presidente da Câmara com o pelouro financeiro e das empresas municipais.

Em 2013, com a Câmara de Portimão e grande parte das suas empresas municipais (à exceção da EMARP) a debater-se com graves problemas, devido aos milhões de dívida acumulada (a seguir a Gaia, Portimão tinha a maior dívida municipal do país), Carito acabou por ser detido, com outras pessoas.

Em causa estava um alegado desvio de 4,6 milhões de euros do Estado, com um «esquema fraudulento», relacionado com a “Cidade do Cinema” e a requalificação do Estádio de Portimão.

Foi durante a sua detenção que o agora candidato à Câmara comeu um papel, um post-it, alegadamente para esconder informação importantes que lá teria escrita. Esse post-it, aliás, é agora usado nos cartazes da coligação Portimão Mais Feliz, numa tentativa de brincar com o assunto…e de o desvalorizar.

Certo é que Luís Carito veio a ser absolvido de todas as acusações, numa decisão conhecida em Janeiro de 2020. A absolvição, aliás, foi pedida pelo Ministério Público que o tinha acusado.

Em 31 de Março passado, Carito anunciou a sua candidatura à Câmara, então supostamente com o apoio do PSD, da Iniciativa Liberal e do CDS. Mas se a IL depressa negou esse apoio, nos social-democratas, o assunto causou grande irritação a Rui Rio, tendo a Comissão Política Distrital acabado por vetar a hipótese de apoiar o antigo vice-presidente socialista de Portimão.

E o que levou Carito a trocar de campo e a candidatar-se contra o seu partido de sempre? Foi o próprio que o explicou na sua apresentação em finais de Março, dizendo que, ao longo dos oito anos que durou o processo judicial em que esteve envolvido como principal acusado, o PS nunca o apoiou, um silêncio que se manteve mesmo depois da sua absolvição.

Curioso é ainda que Carito surja agora como o candidato do CDS-PP e que a sua candidatura congregue alguns antigos membros do PSD, precisamente os partidos e as pessoas que o criticavam mais acerbamente quando era vice-presidente da Câmara. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, já dizia Camões.

Outra das candidaturas com possibilidade de fazer sombra à socialista Isilda Gomes é a coligação Um Novo Portimão (PSD+PPM+MPT), que tem como cabeça de lista à Câmara o social-democrata Rui André (ainda presidente da Câmara de Monchique, à qual não pode voltar a candidatar-se).

Novidade nesta lista é o facto de Ana Fazenda, ex presidente da Junta de Freguesia de Portimão e ex vereadora da Cultura no primeiro mandato de Isilda Gomes, sempre eleita pelo PS, ser agora a número dois da candidatura de Rui André. Velhas desavenças com a atual presidente da Câmara estiveram na génese desta mudança de campo.

 

Quem também mudou de campo – e, neste caso, várias vezes – é o cabeça de lista do Chega, Pedro Castelo Xavier. É que ele já foi presidente da Concelhia do PSD de Portimão e candidato à presidência da Câmara pelos social-democratas, em 2013.

Eleito vereador, garantiu à socialista Isilda Gomes, que ganhou mas não conseguiu maioria, a estabilidade de que esta precisava para governar a autarquia. Tendo-lhe garantido um lugar de vereador permanente e remunerado, com pelouros atribuídos, Isilda conseguiu assim o voto de que precisava no executivo.

Em resultado desta aliança com o PS, Pedro Xavier foi sujeito a processo disciplinar pelo PSD e suspenso do partido. Acabou por demitir-se.

Em 2019, Pedro Xavier passou-se para as hostes do Partido Aliança, que tinha sido fundado por Pedro Santana Lopes, chegando a ser seu coordenador em Portimão e número 2 da lista de candidatos a deputados nas Eleições Legislativas do mesmo ano.

Para estas Autárquicas, Pedro Castelo Xavier volta a mudar de campo e surge como o candidato do Chega à Câmara de Portimão.

Quem se mantém candidato pelo mesmo partido pelo qual foi eleito vereador (e deputado) é João Vasconcelos, cabeça de lista do Bloco de Esquerda. Trata-se de um professor, figura bem conhecida no concelho e a nível regional, sobretudo pela sua luta contra as portagens na Via do Infante.

A CDU, que em tempos já teve um vereador na Câmara de Portimão, apresenta uma nova cara. Trata-de de Nuno Cordas, técnico superior de diagnóstico e terapêutica, árbitro jubilado pela Associação de Futebol do Algarve e microempresário no setor dos transportes e turismo.

Quanto ao PAN, esta é a primeira vez que se candidata à Câmara portimonense, apresentando Ricardo Cândido, engenheiro civil e empresário local.

Para a Assembleia Municipal, também há novidades, no que diz respeito aos primeiros candidatos. Assim, o socialista João Vieira, que até era o presidente da AM, não volta a candidatar-se, sendo substituído pela advogada Isabel Guerreiro, que já foi presidente da Junta de Freguesia e vereadora. Volta agora à política ativa.

A coligação Um Novo Portimão (PSD+MPT+PPM) apresenta Carlos Gouveia Martins, presidente da Concelhia social-democrata, a coligação Portimão mais Feliz (CDS+Nós Cidadãos+Aliança) tem como cabeça de lista a advogada Ângela Venâncio Quadros, enquanto a CDU escolheu a também advogada Lurdes Melo.

O Bloco de Esquerda apresenta Pedro Mota, funcionário dos CTT, o PAN tem como cabeça de lista à AM a empresária local Daniela Duarte, enquanto o Chega escolheu Mário Espinha.

 

 

Para as Assembleias de Freguesia, adivinham-se também lutas interessantes.

Assim, em Portimão, e tendo em conta que o atual presidente da Junta, Álvaro Bila, é o número 2 da lista de Isilda Gomes para a Câmara, há uma nova candidata do PS: Maria da Luz Santana Nunes.

O seu principal opositor será José Pedro Caçorino, que já foi dirigente local e regional do CDS, e que, em 2013, quase roubava a Câmara portimonense aos socialistas, enquanto cabeça de lista da coligação Servir Portimão. Eleito vereador, nessas eleições e nas de 2017, tem sido dos mais acérrimos críticos da gestão de Isilda Gomes.

A coligação Um Novo Portimão (PSD) apresenta o conhecido bombeiro Ricardo Silva, a CDU candidata Ana Paula Duarte, o Bloco de Esquerda tem Miguel Madeira como primeiro candidato e o Chega tem Jorge Vieira. Quanto ao PAN, o seu candidato à Junta de Portimão é o mesmo que à Câmara, Ricardo Cândido.

Em Alvor, o PS recandidata o atual presidente Ivo Carvalho, a coligação Portimão Mais Feliz apresenta César Barata, a Um Novo Portimão candidata Hugo Carrajola.

Bruno Lourinho, André Nunes dos Santos e Paulo Simões são os candidatos do Bloco de Esquerda, CDU e Chega, respetivamente.

Na Mexilhoeira Grande, José Vitorino Nunes, atual presidente, continua a ser o candidato do PS, a coligação Portimão Mais Feliz apresenta Ricardo Coelho, a Um Novo Portimão candidata Carmen Esteves. Quanto ao Bloco de Esquerda, CDU e Chega, candidatam Joana Eusébio, Alexandre Silva e Marco Marreiros, respetivamente.

Nas Eleições Autárquicas do próximo dia 26 de Setembro, há mais um fator a ter em conta e que poderá baralhar as contas, no que à Câmara Municipal de Portimão diz respeito. É que, graças ao aumento do número de eleitores (nomeadamente estrangeiros), esta autarquia passou de sete para nove vereadores (incluindo a ou o presidente). Se e como irá isso refletir-se nos resultados eleitorais é algo que se verá na noite de 26 de Setembro.

Em 2017, votaram no concelho de Portimão 19.962 pessoas, num universo de 48.497 inscritos, o que corresponde a 41,16% do total (a abstenção foi de 58,84%).

O PS recebeu 44,56% dos votos e elegeu 4 vereadores (presidente da Câmara incluída), a coligação que juntou CDS-PP, PSD, MPT e PPM alcançou 24,36% (2 vereadores) e o Bloco de Esquerda conseguiu 11,66% (1 vereador).

 

 

 

 



Comentários

pub