24 km com “arte popular” e outras coisas que o caminho proporciona

Mais um dia de 24km

T3:E12 – Alvorge / Conímbriga

O Algarve é muito apreciado pelos sítios por onde tenho passado. Quando o dono do albergue viu de onde eu vinha, disse que já tinha passado férias no Algarve – e os olhinhos até brilharam. 

No albergue de Alvorge (apercebi-me que as pessoas daqui têm que soletrar o nome da terra, porque a tendência dos de fora é dizer alforge) estava um casal de italianos, dois portugueses e o célebre argentino “El Ressonador”, que jantou ao nosso lado. Ele vem bem preparado (disse logo que tínhamos que provar o queijo ao passar em Rabaçal), está a fazer um périplo por França, Espanha, Marrocos e Portugal e a coisa que mais estranhava por cá era a ausência de crianças e pessoas na rua e a falta de apoios, tipo cafés e pastelarias. Realmente ele tem razão, tenho constatado isso nestas últimas etapas.

Já agora, Alvorge deriva do árabe “al burdj”, que significa “a torre fortificada”.

Esta etapa também foi bastante agradável, terreno praticamente plano, entre sobreiros, oliveiras e outra vegetação da boa (poucos eucaliptos).

Quando passámos por Rabaçal, fizemos uma paragem técnica para reabastecimento – e havia tantos queijos, de tantas espécies e com tão bom aspeto que, se não fosse o peso, acho que tinha trazido uns quantos. Assim, fiquei só a salivar.

Já devem ter reparado que às vezes uso o plural, porque eu e a portuguesa estamos a caminhar em conjunto. É agradável caminharmos sozinhos, mas também é agradável termos companhia. E é o Caminho que nos proporciona isso, neste caso, a boa companhia da P.

Depois de até Santarém as setas azuis (Fátima) e amarelas (Santiago) apontarem na mesma direção, agora já as setas amarelas apontam no sentido oposto às azuis, ou seja, as azuis para sul e as amarelas para norte. Por isso hoje já nos cruzámos com peregrinos que vão para Fátima e ultrapassámos um casal de estrangeiros, que vão para Santiago, parados com problemas técnicos nos pés. Claro que oferecemos ajuda, mas disseram que não precisavam. Uma das coisa que tenho reparado é no aumento de “arte popular” relacionada com os Caminhos, mas ainda muito ligados aos pastorinhos.

Também nos cruzámos com uns miúdos que iam de bicicleta, que nos cumprimentaram e ouvimos “Eh! Estes falam português!!!”.

A seguir a um sítio chamado Fonte Coberta havia uma ponte mandada construir no tempo da dinastia filipina e atravessámos para o outro lado. Começámos a estranhar não ver setas amarelas nem postes indicativos, consultámos o gps e tivemos que andar para trás. O sinal que falhámos era enorme, um autêntico sinal de trânsito.

Já no albergue, em Conímbriga, chegou um espanhol (de Barcelona, frisou) que vinha de Lisboa e voltámos a encontrar o argentino. Vai ser (mais) uma noite sonoramente animada.

Mais um dia de 24km.

Leia os outros episódios da Temporada 3 da saga d’O Caminhante:

Episódio 1 – Junto à Sé de Lisboa, começa a Temporada 3 da saga do Caminhante
Episódio 2 – Hoje não temos couratos
Episódio 3 – Desventuras de um algarvio nas voltas da grande idade
Episódio 4 – Entre estradão e alcatrão, até ao pescador do peixe-gato com 10 quilos
Episódio 5 – O milagre da fonte à beira do caminho
Episódio 6 – Uma cabeçada no beliche, um cão muito mau e um final com pés de molho
Episódio 7 – O Caminhante na terra de Saramago
Episódio 8 – De Vila Nova da Barquinha a Tomar, há Vhils e “Caça Brava”
Episódio 9 – Nos Casais, o caminhante foi recebido com sinos
Episódio 10 – Uma caminhada de quase 24 km e um almoço na Casa do Benfica
Episódio 11 – O Caminhante encontrou “homem nu” e chegou a Alvorge

 

Leia mais um pouco!
 
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