O Caminhante encontrou “homem nu” e chegou a Alvorge

Mais uma dia cheio de histórias na rota do nosso caminhante

T3 : E11 – Alvaiázere / Alvorge 

Ontem à noite, a Cruz Peregrina e o ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani, símbolos da Jornada Mundial da Juventude, passaram por Alvaiázere e hoje ainda se viam alguns arranjos florais na calçada da igreja.

Há uns episódios atrás o único argentino com quem me cruzei tinha ficado no beliche por cima do meu e tinha ressonado desalmadamente. Esta noite acho que ficou no quarto por cima do meu e, mesmo assim, deu para ouvir o ressonar.

Fiz toda a etapa acompanhado pela peregrina ribatejana, que está rendida à pomadinha que lhe aconselhei, que mitigou bastante o problema do ombro e das costas. E, como quatro olhos veem mais que dois, foi só seguir os postes de sinalização e as setas amarelas. Nem cheguei a ligar o gps/app.

O caminho hoje foi muito agradável, por trilhos florestais na sua maior parte, olivais e sobreirais. Muitas vezes o caminho seguia enquadrado por muros de pedra, alguns deles cobertos de musgo. Quando os vejo, lembro-me sempre que, quem dá estabilidade e consolida as pedras grandes dos muros, são as pedrinhas pequenas.

Mesmo quando o caminho era na estrada tínhamos surpresas agradáveis, como inúmeras orquídeas silvestres (orchis Itálica). Para não pensarem que eu sou uma sumidade nesta coisa, a identificação da orquídea foi feita através de uma foto que tirei e enviei para a minha amiga S., que também adiantou que o nome comum desta espécie era orquídea do homem nu. E tem este nome porque cada flor parece mesmo um homem nu…

Hoje vimos muitos peregrinos. Ultrapassámos muitas vezes o tal argentino, que parece sempre que vai desfalecer ali, e ele também nos ultrapassou algumas vezes, quando parávamos para tirar fotografias.

No fim de uma subida, quando parámos para recuperar o fôlego, fomos alcançados por uma jovem holandesa, que vinha a caminhar desde Lisboa e estava encantada com o nosso país. Como ela tinha a vantagem competitiva da idade e umas pernas até ao pescoço, ao fim de um bocadinho de conversa de circunstância, ligou o turbo e lá foi.

Passámos/fomos passados por um dinamarquês já conhecido doutras etapas e, em Ansião, num café junto à Câmara Municipal, chegaram a juntar-se uma dezena de peregrinos a comer qualquer coisa. Para mim foi uma novidade, mas neste café o pagamento da despesa é feito numa máquina, que recebe notas e moedas, e dá troco!

Em Ansião, que era mais ou menos a meio do percurso, fomos à biblioteca municipal carimbar a credencial e, desta vez, vimos a chegada da caravana da Jornada Mundial da Juventude, que meteu discurso do presidente(?) da Câmara.

Antes de chegarmos a Alvorge tivemos uma subida em cascalho, ao sol, que nos deixou prontos para uma cervejinha no albergue. Hoje foi mais uma tirada de 25kms, mas tive local para lavar a roupa – e a ser criativo a tentar secá-la.

 

Leia os outros episódios da Temporada 3 da saga d’O Caminhante:

Episódio 1 – Junto à Sé de Lisboa, começa a Temporada 3 da saga do Caminhante
Episódio 2 – Hoje não temos couratos
Episódio 3 – Desventuras de um algarvio nas voltas da grande idade
Episódio 4 – Entre estradão e alcatrão, até ao pescador do peixe-gato com 10 quilos
Episódio 5 – O milagre da fonte à beira do caminho
Episódio 6 – Uma cabeçada no beliche, um cão muito mau e um final com pés de molho
Episódio 7 – O Caminhante na terra de Saramago
Episódio 8 – De Vila Nova da Barquinha a Tomar, há Vhils e “Caça Brava”
Episódio 9 – Uma caminhada de quase 24 km e um almoço na Casa do Benfica

 

 



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