Desventuras de um algarvio nas voltas da grande cidade

Camiões, parque à beira Tejo, comboios e muito mais

O Caminhante e o Caminhante…

T3:E3 – Alverca do Ribatejo>>Vila Nova da Rainha

Nas outras temporadas e etapas, tive sempre a companhia de familiares e/ou amigos. Hoje, não. Hoje foi a primeira vez que me meti a caminho sozinho.

Abalei da casa da minha filha e resolvi dar uma volta passando pela Igreja dos Pastorinhos, ainda em Alverca, igreja esta que tem um grande significado para a família e, coincidência ou não, praticamente tropecei num dos postes que sinaliza o Caminho.

A partir daí, foi ir seguindo a rota até chegar à “perigosa” N10. Quem assim a classifica é um dos livros em papel que eu levo na algibeira. Tem razão, porque o trânsito é brutal, os camiões muitos e grandes, mas, com cuidado, atenção e devagarinho, faz-se.

Mas também aconteceram coisas boas, como um carro abrandar a marcha, o condutor baixar o vidro e desejar “boa viagem” ou um motorista de um camião dos tais de dez rodas acenar um cumprimento.

 

A ponte de Vila Franca de Xira noutra perspetiva

 

Depois foi bom. A partir de Alhandra até Vila Franca de Xira, é tudo através de um espetacular parque ribeirinho, sempre com vista para o Tejo e com todas as condições para andar a pé ou de bicicleta.

Almocei numa tasca no Carregado e aproveito aqui para realçar o excelente trabalho da Câmara de Vila Franca de Xira na marcação dos dois caminhos, o de Fátima e o de Santiago. Muitos parabéns!

Chegado ao destino planeado, Vila Nova da Rainha, fui à Junta de Freguesia carimbar a credencial, perguntando se havia lugar para dormir. Pura e simplesmente não havia. Apesar de me sentir em condições de continuar após 25 km, como o percurso passava mesmo pelo apeadeiro, a tentação foi grande pelo que resolvi voltar para trás e ir asilar à da minha filha.

E fiquei a ver passar comboios até chegar o suburbano. Eu, habituado à calma dos comboios no Algarve, fiquei estarrecido com a brutal velocidade dos daqui. Quando passavam, tudo estremecia. Vocês não fazem ideia.

 

A lezíria

 

Mas a aventura não acaba aqui. Como no apeadeiro não havia ninguém, nem uma máquina para comprar bilhete, entrei no comboio na clandestinidade. E não é que apareceu o revisor da CP? Entre as explicações que eu dava, o barulho do comboio, o meu sotaque algarvio, o tentar pagar com um título de transporte caducado que a minha filha tinha lá por casa, com isto tudo o homem saca do multibanco para eu pagar o bilhete e pergunta:

– Para onde é que o senhor vai?
– Alverca, disse eu, muito convicto.
– Mas Alverca já passou, diz o revisor.
– Não pode ser, é a estação a seguir, teimei eu.

Depois de uma explicação sobre o mapa das estações e a chegada à Póvoa, fui despejado sem pagar bilhete e uma carrada de instruções sobre mudar de linha e como voltar para trás.

Mas a trágico-comédia continuou. Para evitar mais enredos, resolvi telefonar à minha filha para me ir buscar e, enquanto escolhia o local, dei de caras com uma praceta onde estavam sentados uns velhos (como eu) que declararam logo, alto e a bom som: Este anda perdido!

Fugindo deles, dou de caras com outro que me interpela: Caminho de Fátima?

Depois de algumas explicações a dizer que não havia problema, telefona a minha filha a dizer que estava no outro lado da estação e não naquele onde eu estava.

Enfim, desventuras de um algarvio na Grande Lisboa…

 

 

Leia os outros episódios da Temporada 3 da saga d’O Caminhante:

Episódio 1 – Junto à Sé de Lisboa, começa a Temporada 3 da saga do Caminhante
Episódio 2 – Hoje não temos couratos

 

Leia mais um pouco!
 
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