Almargem: Captação de água no Pomarão é «megaprojeto» que não resolve problemas

«Ninguém pensa que seria um bom negócio construir uma pista de ski no Cerro de São Miguel»

A associação Almargem considera que a captação de água no Pomarão (Guadiana), para reforçar a barragem de Odeleite, é um «megaprojeto» que não resolverá «os problemas estruturais» de escassez hídrica na região. 

Esta associação ambientalista participou na consulta pública que terminou a 29 de Abril, dando o seu parecer de discordância.

«Além dos vários impactos ambientais provocados por este projeto, que são referidos no parecer da Almargem, também se detetaram algumas falhas e omissões, nomeadamente, não haver sinal de negociação com a vizinha Espanha, parceira de Portugal na gestão do caudal do rio Guadiana», diz a Almargem.

A participação da associação teve por base três pontos.

No primeiro (caudal ecológico do Guadiana- Alqueva), a Almargem defende que «usar para outros fins económicos, um caudal ecológico, que foi definido aquando da construção da Barragem do Alqueva, provocará um gravoso dano ambiental que irá comprometer populações, setores económicos de pequena dimensão e sobretudo valores naturais a jusante deste novo sistema de captação».

«A disponibilidade de água dependerá sempre da precipitação e dos compromissos da empresa que gere a área de regadio do Alqueva, Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, S.A. (EDIA), além de ter que manter o caudal ecológico, caudal que a EDIA tem que cumprir», acrescenta.

No entender da Almargem, é «uma grande irresponsabilidade a região querer suportar, através desta origem de água, setores económicos (sobretudo turismo e agricultura), em vez de optar por medidas de redução de consumo e promoção de medidas de aumento da infiltração e disponibilidade de água no solo».

No segundo ponto (ausência de informação e concordância pela EDIA), a associação considera ser «uma irresponsabilidade avançar até este ponto, a intenção de licenciamento deste projeto sem haver um entendimento com a EDIA e/ou um acordo formalizado (não é público se existe, uma vez que nada foi divulgado sobre este assunto)».

Por fim, em relação à dependência da disponibilidade de água, «é do entendimento da Almargem que as autoridades deveriam ter em consideração o desenvolvimento sustentável da região, e não promover a economia assente principalmente em dois setores altamente consumidores de água».

A Almargem propõe que a empresa Águas do Algarve use «um modelo de captação superficial, a aplicar nos vários pontos onde acontecem as descargas das Estações Elevatórias que ligam os sistemas das principais barragens para abastecimento público».

Apesar desse volume de água ser desconhecido do grande público, «há um caudal enorme, não sistematicamente calculado, e que é subaproveitado, porque se perde no meio ambiente. Este recurso é desperdiçado e será um reforço mais proveitoso para o abastecimento de água no Algarve, sem os impactos da obra do Pomarão».

A associação ambiental Almargem «defende que a solução passa por adoptar um modelo económico na região suportado pela capacidade de carga do território, promovendo um desenvolvimento sustentável, que considere a capacidade do território em disponibilizar recursos naturais e que sejam os setores económicos a adaptar-se e gerir as suas atividades em função da existência abundante, ou não, de uns e outros recursos».

«Ninguém pensa que seria um bom negócio construir uma pista de ski no Cerro de São Miguel, e assim da mesma forma, não se pode dimensionar consumos de água para uma quantidade que não existe», conclui.

De resto, tanto a Plataforma Água Sustentável (PAS), como a associação Zero também já se pronunciaram contra esta obra que faz parte do Plano de Eficiência Hídrica do Algarve. 

 



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