Fábio Fatal/Ergue-te: «Povo português está em sério risco de extinção, por dispersão e diluição»

«Sou totalmente contra a regionalização»

Fábio Fatal, tem 35 anos e é pai de dois filhos. Cresceu na aldeia de Martim Longo no concelho de Alcoutim, Nordeste Algarvio. Neste momento, trabalha como técnico de Análises Clínicas na área da Grande Lisboa, onde reside. É o cabeça de lista do Algarve pelo partido Ergue-te às Eleições Legislativas, pelo círculo do Algarve.

Agora que já está a decorrer a campanha eleitoral, o Sul Informação está a publicar entrevistas com os cabeças-de-lista dos 14 partidos ou coligações que se candidatam às Legislativas do próximo dia 10 de Março.

As mesmas questões foram enviadas, atempadamente, a todos os 15 pri-meiros candidatos, abrangendo os principais temas em foco no Algarve.

As entrevistas serão publicadas à medida que as respostas forem chegan-do à nossa redação.

Sul Informação – Quais são as prioridades da sua força política na próxima legislatura para o Algarve?
Fábio Fatal – As prioridades na nossa força política são reduzir o despesismo público, reverter os fluxos migratórios e combater a seca crónica que assola a região.

SI – O que levou a aceitar ser cabeça de lista pelo partido que representa?
FF – Somos o único partido que se preocupa verdadeiramente com a substituição de portugueses por estrangeiros, por isso penso que a nossa missão é extremamente importante. Como poderia recusar ser cabeça de lista pelo Ergue-te no nosso Algarve?

SI – Quais são as expetativas e objetivos da sua força política em relação a estas Eleições Legislativas?
FF – Não temos as expectativas muito elevadas porque somos realistas e sabemos como é difícil o crescimento para os partidos sem representação parlamentar,que vive apenas do esforço dos seus militantes… Já o objetivo é outra coisa: eleger pelo menos um deputado, pois entrar na AR é a única coisa que realmente nos interessa.

SI – O que falta fazer no Algarve?
FF – Falta fazer muita coisa, mas, para ser breve, devemos diversificar a atividade económica da região que, a meu ver, depende demasiado do turismo. E falta resolver o problema crónico de falta de água.

SI – A seca e a falta de água é um tema premente no Algarve. Que soluções defende, no curto prazo, sabendo-se que a água atualmente disponível só chega até Agosto? E no médio e longo prazo?
FF – Quando me diz que só já há água até agosto, suponho que está a falar do nível de água das barragens. Se a água das barragens “acabar”, ainda podemos recorrer à água subterrânea com furos e até ao verão ainda se espera que chova.
Por isso, no curto prazo, cabe às entidades competentes tomar medidas mais drásticas quando a situação se estiver a tornar mais desesperante.
E se a água acabar mesmo, vai ver que rapidamente aparecem as dessalinizadoras por ajuste direto…
A médio e longo prazo temos de investir fortemente no aproveitamento das águas residuais para a rega e na dessalinização da água do mar.

SI – A Saúde é um setor muito deficitário no Algarve e no país. Que medidas preconiza para resolver os problemas da Saúde no Algarve?
FF – O Algarve nem tem o problema de ser “no fim do mundo” como muitas das regiões do interior do país, eu diria que é das regiões do país onde é possível ter maior qualidade de vida.
Se há falta de meios humanos e materiais no Algarve, será por falta de investimento, não é por faltarem pessoas dispostas a trabalhar nesta região.
Portanto: investir no SNS em quantidade e em qualidade, melhorar as condições laborais de quem trabalha na área da saúde.

SI – E quanto ao Hospital Central do Algarve? O que deve ser feito?
FF – O Novo Hospital Central do Algarve já está no horizonte, por isso ao nível da infraestrutura não há grande coisa a acrescentar neste momento ao Hospital de Faro.
É tentar gerir da melhor maneira possível o funcionamento deste, melhorando a parte humana e material.
Até que o novo centro hospitalar seja uma realidade, não devem ser desperdiçadas as possibilidades de cooperação com as entidades privadas já existentes na região. Se for necessário dar continuidade a essa cooperação, que assim seja.

SI – O Centro Hospitalar Universitário do Algarve e a Administração Regional de Saúde juntaram-se, a partir de 1 de Janeiro, num único organismo, a Unidade Local de Saúde do Algarve. O que pensa desta alteração e que expetativas tem para o seu futuro?
FF – Parece-me positiva a cooperação entre a administração regional e o meio universitário, mas só o tempo dirá se a mudança vai trazer vantagens reais no terreno. Esperamos que sim.

SI – O anterior Governo, agora apenas em gestão, transformou as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional em Institutos Públicos, agregando novas funções (como a Agricultura e Pescas, bem como a Cultura). O que pensa desta alteração e que expetativas tem para o seu futuro? Trata-se de um primeiro passo para a Regionalização?
FF – Acho que os poderes de decisão das diferentes áreas económicas devem estar centralizados por especialidade e não por área geográfica, por isso não sei se esta é a melhor estratégia.
Se é um primeiro passo para a regionalização, não devia ser, porque a questão da regionalização não é uma questão menor e nunca poderá ser feita sem, no mínimo, haver um referendo.

SI – É a favor ou contra a Regionalização? Porquê?
FF – Sou totalmente contra a regionalização: primeiro porque as diferentes regiões do país se devem articular a entre-ajudar como uma só, como a Nação que somos.
E segundo porque a regionalização vai aumentar ainda mais as possibilidades de abuso por parte do poder local, vai criar mais oportunidades para se criarem mais tachos e tachinhos para os amigos e para os familiares de todos aqueles que já abusam atualmente do poder local.
Para além disso, se os mesmos serviços estiverem mais centralizados, são mais fáceis de escrutinar.
Por fim, e não menos importante, o facto de termos transferido soberania para a União Europeia, acrescido de uma eventual regionalização, representaria o desmantelamento total de Portugal enquanto nação.

SI – A integração das antigas Direções Regionais de Cultura e de Agricultura e Pescas na CCDR terá ou não efeitos benéficos para estes setores?
FF – Como referi duas perguntas atrás, não tenho grande expectativa nesta solução, mas, se estiver enganado, ainda melhor.

SI – Que soluções preconiza para as portagens na Via do Infante?
FF – Não compreendo porque é que a Via do Infante continua com portagens. Estas, para além de prejudicarem a população, já se percebeu que são ilegais… ainda por cima agora somos o país das contas certas, qual é a necessidade de extorquir a população?

SI – E para a conclusão das obras na EN125, de Olhão a Vila Real de Santo António?
FF – De certeza que o dinheiro arrecadado na Via do Infante nos últimos anos dá para pagar as obras da N125, mais as da Via do Infante que, apesar de ser paga, nalguns troços está num estado lastimável…

SI – Um dos grandes problemas do Algarve é o da mobilidade. Estão a ser feitas obras para a eletrificação da Linha do Algarve, prevê-se a criação do Metrobus e fala-se de uma eventual ligação por TGV entre Faro e Huelva/Sevilha. Qual a sua opinião sobre estas questões e que soluções defende?
FF – Acho muito bem que se eletrifique a linha do algarve, já o Metrobus parece-me demasiado paralela à linha do Algarve que já liga Faro a Olhão e não passa muito longe de Loulé… se calhar fazia mais sentido ligar a linha do Algarve aos pontos que o Metrobus pretende ligar, mas de certeza que há por aí quem perceba mais disto que eu e defenda o contrário.
A ligação de TGV a Huelva/Sevilha não me parece prioritária, tal como não me parece prioritária a ligação Lisboa/Madrid, de que já se fala há mais anos e ainda não saiu do papel.

SI – O presidente da Região de Turismo do Algarve queixou-se de que o orçamento deste organismo é curto e não é aumentado há largos anos. O que preconiza para este setor, na região algarvia?
FF – Acho que o investimento público deve ser feito onde é mais necessário e não me parece que o turismo do Algarve esteja a precisar do dinheiro dos contribuintes para prosperar. Para além de o turismo estar a crescer bem com base no investimento privado, esta é uma atividade que também tem consequências como, por exemplo, a necessidade constante de importação de mão de obra estrangeira.

SI – No atual Governo, o Turismo partilha uma secretaria de Estado com o Comércio e Serviços? Considera que é suficiente? Ou um futuro Governo deveria dar mais importância ao Turismo? De que forma?
FF – De certa forma já respondi a isto na pergunta anterior. A ajuda que o governo deve dar ao turismo não se deve focar no seu crescimento, mas na sua manutenção e sustentabilidade.
Por exemplo, fornecendo alternativas no fornecimento de água para encher piscinas e regar campos de golfe. E criando condições para que o trabalho no turismo seja atrativo para os algarvios (residentes e emigrados).

SI – No caso de questões mais fraturantes, votará na AR de acordo com a sua convicção, mesmo que vá contra as orientações do seu partido?
FF – Já sou militante do partido desde 2009 e foram muito poucas as questões em que a minha opinião foi substancialmente diferente da do partido, por isso não espero grandes conflitos de convicções… mas, a haver esse conflito, é lógico que votarei de acordo com as minhas convicções.

SI – Considera que seria útil alterar a lei eleitoral, para criar círculos uninominais e parciais e um círculo nacional de compensação, e assim aproximar mais os deputados dos cidadãos? Porquê ou porque não?
FF – O nosso partido tem mesmo uma proposta no seu programa eleitoral para que se crie um círculo único nacional, de forma a distribuir os deputados proporcionalmente ao número de votos, abolindo o método de Hondt, que só beneficia os grandes e esmaga os pequenos.

SI – Quer acrescentar mais algum tema ou questão?
FF – Penso que o nosso país está a apostar demasiado na formação superior, quando, na nossa economia, faz mais falta a formação técnico/profissional.
Este tipo de política só faz com que cada vez mais jovens emigrem e depois falta mão de obra em áreas essenciais ao nosso país e à nossa economia, levando ao ponto em que cada vez “precisamos” mais de imigração.
O povo português está em sério risco de extinção, por dispersão e diluição.
Outra política que está errada é a da subida constante, por decreto, do ordenado mínimo.
O que isto tem feito é nivelar todas as profissões por baixo. Quem ganha menos acaba por não ganhar poder de compra e, quem ganha um pouco mais, cada vez tem menos.
Por exemplo: há dez anos, um polícia ou um profissional de saúde conseguiam ganhar facilmente dois ordenados mínimos e hoje em dia ganham pouco mais que um…

 

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