Autárquicas: Em VRSA há corrida entre “filho pródigo” e dois Álvaros a uma cadeira vazia

Recente detenção da presidente da Câmara (PSD), que a fez renunciar ao cargo, é uma das coisas que apimenta esta disputa autárquica – mas não a única

O ponto de partida é aliciante, para quem, no domingo, vai ter curiosidade em saber se haverá surpresas nas Autárquicas: uma Câmara deixada “órfã” pela presidente eleita, que saiu do cargo a braços com a justiça, o regresso do seu antecessor como candidato, qual filho pródigo, e dois Álvaros a concorrer por dois partidos que já detiveram o poder em Vila Real de Santo António.

Ao todo, são oito as forças que apresentam candidatos à presidência do município, nas eleições de dia 26. Mas vamos por partes.

A Câmara de VRSA já passou pelas mãos de três partidos, desde as primeiras Eleições Autárquicas democráticas, em 1976.

Depois de 25 anos em que o PS e a CDU se revezaram no poder, o PSD impôs-se e conseguiu vencer as quatro eleições que se realizaram desde 2005, inclusivamente.

E quem conseguiu, nesse ano, conquistar a Câmara, naquilo que à data foi considerada uma vitória surpreendente, foi o social-democrata Luís Gomes.

Em 2017, esse presidente (que começou nesse mandato uma carreira paralela de cantor, que ainda hoje mantém), já não se podia recandidatar, por ter atingido o limite de mandatos consecutivos, e a escolha do PSD recaiu sobre Conceição Cabrita, que era, à data, a nº2 da Câmara.

Nas eleições desse ano, a candidata social-democrata conseguiu a maioria e tudo parecia correr “sobre rodas”, até que, em Fevereiro de 2021, quando nada o fazia esperar, Conceição Cabrita anunciou que não se iria recandidatar, alegando razões profissionais, mas também pessoais, embora se tenha comprometido em levar o mandato até ao fim.

No entanto, passado pouco mais de um mês, a 13 de Abril, a ex-presidente da Câmara de VRSA foi detida por suspeitas de corrupção, no âmbito de um negócio imobiliário, em Monte Gordo.

Apenas dois dias depois, Conceição Cabrita renunciou à presidência da edilidade e deixou Luís Romão sentado na cadeira do poder.

O atual presidente não é, ainda assim, a escolha do PSD, que volta a candidatar Luís Gomes, cujo reaparecimento facilmente pode ser considerado como o regresso do filho pródigo, à presidência da autarquia.

O PS, que em 2017 também candidatou um antigo presidente da Câmara, neste caso, António Murta, aposta agora em Álvaro Araújo, diretor do Instituto do Emprego e Formação Profissional de Vila Real de Santo António.

Este antigo professor, licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses, pela Universidade do Porto, vai tentar recuperar uma Câmara que já foi ganha quatro vezes pelos socialistas, a última vez em 2001.

Mais antiga é a última vitória da CDU nas Autárquicas, em VRSA: 1993. Ainda assim, desde então, só por uma vez é que esta coligação não elegeu qualquer vereador.

Álvaro Leal, candidato comunista em 2017, foi eleito para o executivo e será, de resto, o único atual vereador que vai a votos, como candidato à Câmara, nas eleições de dia 26.

Antes, o informático, funcionário da Câmara de Castro Marim, já tinha sido membro da Assembleia Municipal de VRSA.

Também candidata ao município em 2017, mas sem ter conseguido um lugar de vereação, foi Maria Celeste dos Santos, formadora e professora de inglês, que volta a ser a escolha do Bloco de Esquerda.

E se há quatro anos só houve quatro candidaturas à Câmara, em 2021 há o dobro.

O CDS-PP volta a apresentar um candidato, oito anos depois, desta feita Augusto da Paz, um trabalhador do setor hoteleiro.

Há também duas forças políticas em estreia: o PAN e o CHEGA.

O Pessoas-Animais-Natureza apresenta Saúl Rosa, um jovem instrumentista de orquestra, enquanto o CHEGA avança com David da Costa, bancário licenciado em Gestão pela Universidade do Algarve.

Também candidato, mas pelo movimento “Candidatura Independente Construir o Futuro” (CICF), é o arqueólogo Marcelo Jerónimo. Esta candidatura conta ainda com Paulo Simões, antigo comandante da corporação de bombeiros da cidade, o número dois da lista.

O movimento independente vilarrealense também aposta numa figura conhecida, o antigo chefe dos serviços de Finanças Alberto Ferreirinho, como candidato à Assembleia Municipal.

A luta para este último órgão, mas também para as Assembleias de Freguesia, será feita a sete, uma vez que o CDS-PP só apresentou lista candidata à Câmara.

O PSD, que em 2017 venceu a eleição com uma lista encabeçada por José Carlos Barros, que foi depois eleito presidente da Assembleia Municipal, aposta agora em Carlos Lança, também ele membro deste órgão, onde se senta na bancada social-democrata.

O PS aposta em Célia Paz, antiga deputada à Assembleia da República, como candidata à AM.

Maria dos Santos (CDU), Mário de Matos (BE), Saúl Rosa (PAN) e Smith Ferreira (CHEGA) também encabeçam listas à Assembleia Municipal.

Na freguesia de Vila Real de Santo António, Jorge Nogueira, o atual presidente da Junta, volta a candidatar-se pelo PSD.

Nas urnas vai enfrentar Albertina Murta (CICF), Jacinto Camarada (CHEGA), Luís Vargas (CDU), Saúl Rosa (PAN), Sebastião Pires (BE) e Valentim dos Santos (PS).

O presidente da junta de Monte Gordo, Ricardo Catarino, eleito pelo PSD, vai novamente a votos. Com ele irão Adriano Rosa (CHEGA), Beatriz Gonçalves (BE), José Botequilha (CICF), Marco Romão (CDU), Maria da Conceição Alves (PAN) e Patrícia Martins (PS).

Luís Rodrigues, do PS, é o atual presidente da junta de Vila Nova de Cacela e volta  a candidatar-se ao cargo. Nas eleições de domingo terá a oposição nas urnas de Amaro Antunes (PSD), conhecido ciclista, que venceu as duas últimas edições da Volta a Portugal, Filipe Martins (BE), Gonçalo Gil (CICF), Pedro Correia (CHEGA), Sandra de Jesus (CDU) e Sara dos Santos (PAN).

Nas Autárquicas de 2017, votaram no concelho de Vila Real de Santo António 9520 pessoas, num universo de 16.994 inscritos, o que corresponde a 56,02% do total (a abstenção foi de 43,98%).

O PSD recebeu 44,95% dos votos e elegeu 4 vereadores. O PS alcançou 30,05% (2 mandatos), a CDU garantiu 18,79% (1 mandato) e o BE arrecadou 2,71% dos votos.

 

 

 

 

 



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