Como noticiaram os jornais nacionais o 25 de Abril de 1974 no Algarve?

A partir da consulta dos jornais de âmbito nacional, o investigador Aurélio Nuno Cabrita conta como foi vivida a revolução, pelos algarvios

Manifestação em Tavira – Foto Andrade (Catálogo da exposição Fotografar, Museu de Tavira)

Como reagiram os algarvios à notícia da queda do Estado Novo, em Lisboa? É a questão a que nos propomos responder, a partir da consulta dos jornais de âmbito nacional, como o «Diário de Lisboa», «Diário de Notícias» (DN), «República» e «O Século», publicados entre o dia 25 de Abril e 1 de Maio.

Pela primeira vez, desde 1926, a imprensa tinha agora edições inteiramente livres, não verificadas ou censuradas por qualquer exame prévio.

O vespertino «Diário de Lisboa», na sua edição do dia 25 de Abril, fez duas referências ao Algarve, nomeadamente a Vila Real e Faro. Em Vila Real de Santo António, a situação estava «calma, notando-se muito interesse da população pelas emissões da Rádio». Mencionava ainda que «alguns grupos de pessoas aglomeravam-se pelas ruas e avenidas principais fazendo comentários sobre o movimento», enquanto os quartéis da Guarda Fiscal e da  DGS (Direcção Geral de Segurança, criada em 1969, para substituir a PIDE – Polícia de Defesa do Estado) estavam encerrados.

Já em Faro, excetuando o movimento das «forças da P.S. P. e da G. N. R. (…) nas proximidades dos quartéis e em algumas ruas», tudo decorria normalmente, com os estabelecimentos comerciais e as repartições públicas abertas. Os farenses mantinham-se «na expectativa, escutando as comunicações dadas pela emissora do Movimento».

O mesmo jornal dá notícias do aeroporto, onde «um informador do Movimento das Forças Armadas declarou que a situação era absolutamente normal tanto naquele local como na cidade», recusando-se a fazer mais comentários.

Se estas informações foram breves, o «Diário de Notícias», na sua edição de 26 de Abril, descreveu com algum detalhe aquela quinta-feira, dia 25 de Abril, em Faro e na região.

Assim, segundo aquele diário, «foi através do Rádio Clube Português que a população do Algarve tomou conhecimento do movimento que eclodira, durante a madrugada, em Lisboa». Registava-se «absoluta calma, havendo, porém, a salientar a corrida aos telefones para saber notícias de pessoas radicadas em Lisboa».

As guarnições militares localizadas no distrito, nomeadamente o Regimento de Infantaria 4, em Faro, o Centro de Instrução dos Sargentos Milicianos de Infantaria, em Tavira, e o Centro de Instrução e Condução Auto, em Lagos, «encontravam-se nos respectivos quartéis, bem como as forças militarizadas, prosseguindo a vida normalmente».

Ao nível civil, «reinou a maior calma na população», o comércio manteve-se aberto, tal como as repartições públicas, enquanto os transportes rodoviários e ferroviários se efetuaram com normalidade. As escolas «funcionaram quase plenamente» e, como nota discordante de um dia costumeiro, de um país cinzento e orgulhosamente só, refira-se o encerramento de alguns bancos a meio da manhã e a ausência de notícias de cariz nacional no Emissor Regional do Sul. Este ocupou a emissão unicamente com música portuguesa, tendo os noticiários das 12:h00 e das 19h30 sido preenchidos apenas com notícias de âmbito regional.

Por sua vez, o «Diário de Lisboa», do dia 26, inseriu uma pequena notícia do Algarve, a derradeira daqueles dias, dando nota dos bancos terem permanecido encerrados, enquanto, na véspera, «o público, privado de acompanhar o desenrolar dos acontecimentos da capital, recorreu avidamente às emissões do estrangeiro». Nos quartéis, as forças militares mantinham-se de prevenção.

 

1ª página da 2ª edição do «República» do dia 25 de Abril de 1974, ostentado em baixo uma frase que dizia: «Este jornal não foi visado por qualquer comissão de censura»

 

A ausência de informação levou a uma corrida aos jornais. Em Faro, «esgotaram em poucos minutos depois da sua chegada», como dá nota «O Século», na edição de 27 de Abril, para complementar: «os algarvios, privados de informações (tanto mais que, as emissoras deixaram de transmitir na onda de frequência modulada, captada nesta província), “assaltaram” os postos de venda de jornais, mal os carros de distribuição entravam nas localidades».

Prudência, curiosidade e expectativa é como podemos qualificar a reação dos algarvios ao movimento militar no próprio dia 25 de Abril. Mas, se aqueles viveram um dia normal, o mesmo não aconteceu com os turistas. Com o encerramento do tráfego aéreo em todos os aeroportos, o de Faro não foi excepção e ali apenas aterrou um avião vindo de Luanda, que se destinava a Lisboa. Os 15 voos previstos não se realizaram e, sem eles, os turistas tiveram de prolongar as suas férias ou deslocarem-se de autocarro até Sevilha (note-se que na altura a viagem era morosa, pois a ponte sobre o Guadiana era tão somente uma promessa), como sucedeu com os viajantes que se dirigiam para Dusseldorf e Copenhaga. Também para Sevilha foram desviados os voos que se destinavam a Faro.

Na edição de 27 de Abril, o DN inseriu uma breve notícia oriunda de Lagos, decerto do dia anterior: «chegaram a esta cidade, vindas de Portimão e Silves, algumas camionetas ocupadas por muitos rapazes e raparigas estudantes, acompanhados de vários automóveis também cheios, manifestando a sua alegria pela mudança de Governo, dando vibrantes vivas ao general Spínola, às Forças Armadas, à República e a Portugal».

Mais informava que ostentavam dísticos e, tendo-se dirigido até à porta do regimento local, onde manifestaram a sua satisfação, foram recebidos amigavelmente pelo comandante. Este dirigiu-se de seguida, com alguns militares, ao edifício onde estave instalada a Legião Portuguesa, «tendo arrancado o emblema daquela corporação».

Os estudantes, «dando mostras da intensa alegria, cruzaram as principais artérias da cidade, após o que regressaram às suas localidades». Terminava mencionando que «parte da população da cidade associou-se às manifestações de alegria».

A mesma edição, numa notícia de Faro, não datada, dá conta da prisão, naquela cidade, de elementos da Direcção Geral de Segurança: «na madrugada de hoje ,a DGS de Faro rendeu-se, sendo presos o inspector e mais nove agentes».

A rendição foi espoletada pela entrada na subdelegação da PIDE do tenente coronel Bernardino dos Santos, 2º comandante do R. I. 4 de Faro, às 00h15. Pouco depois, chegaram mais elementos do Exército, sob o comando do major Caniné. A população que ali se encontrava, segundo «O Século» do dia 29, desde as 20h00 do dia anterior, não obstante o adiantar da hora, «vitoriou as Forças Armadas, na pessoa deste militar», lê-se no DN.

Cerca das 00h41, saiu o primeiro jipe com um elemento da DGS, levando a multidão a manifestar-se «rigorosa e vigorosamente». No interior do edifício, foi feito o arrolamento do armamento e munições existentes.

Por fim, pelas 3h05, foi organizada uma coluna de veículos militares, na qual foram integrados o armamento e os ex-agentes daquela polícia, nove agentes e o inspetor Jaime Paulino. «O entusiasmo popular atingiu então o rubro. O povo conseguiu, por momentos, ultrapassar os cordões de policiamento, vaiando elementos detidos e vitoriando as Forças Armadas».

Os presos foram conduzidos para o quartel do R. I. 4. Saliente-se que a RTP filmou o ambiente que se vivia em Faro naquele dia, inclusive no momento da rendição da DGS, como se pode ver aqui.

A rendição da polícia política na capital algarvia foi o único acontecimento que o jornal «República», conotado com a oposição ao Estado Novo, aludiu nas suas páginas sobre o Algarve, na edição do dia 27.

 

Manifestação em Faro, no jornal «O Século»

 

Os farenses não arredaram pé naquela noite e o dia 27 de Abril foi longo e intenso em Faro, como por toda a região. «Milhares de pessoas homenagearam em Faro as Forças Armadas»: foi desta forma que o DN se referiu à manifestação que ocorrera na cidade, na sua edição de 28 de Abril.

Pessoas de todas as idades, não obstante a chuva, «não arredaram pé», empunhando «cartazes com aplausos ao Movimento das Forças Armadas e à instauração dos direitos cívicos do povo português», vitoriando o «golpe de Estado que pôs termo à anterior situação política».

Auxiliada pela Banda Artistas de Minerva de Loulé, a multidão encaminhou-se para o Largo de São Francisco, onde se localizava o Regimento de Infantaria n.º 4 (hoje Escola de Hotelaria e Turismo): «viam-se muitas bandeiras nacionais, cartazes e o entusiasmo popular era extraordinário». Junto ao quartel, «foi ouvido o hino nacional», tendo, junto à porta do Regimento, comparecido o seu comandante, coronel Octavio Pimentel, que se fazia acompanhar pelo 2º comandante, tenente coronel Bernardino Santos, e por outros oficiais, entre os quais os majores Rolita Caniné e Manuel Francisco da Silva.

«Nas janelas do edifício do Regimento, muitos militares de todas as patentes correspondiam também às saudações entusiásticas do povo. Assistiu-se depois à impressionante cerimónia do hastear da bandeira nacional. Formada a respectiva guarda, foram executados os respectivos toques de clarim. A banda tocou o hino nacional e a densa multidão, em coro, acompanhou-a também, após o que soltou vivas a Portugal», lê-se naquele jornal.

Seguiu-se o discurso do «dr. Luís Filipe Madeira, advogado e membro da Comissão Democrática Eleitoral, que, em 1969, se candidatara a deputado por este círculo eleitoral. Referiu-se à acção das Forças Armadas e ao facto de o povo estar inteiramente ao lado do Movimento nesta arrancada histórica». Preleção que foi muito aplaudida, seguindo-se vivas a Portugal e ao Exército.

Por sua vez, o comandante do Regimento, coronel Octávio Pimentel, agradeceu o apoio dos manifestantes, e «uma senhora da Comissão Democrática Eleitoral do Algarve fez a entrega de flores àquele oficial, em homenagem às Forças Armadas». A terminar, foi tocado de novo o hino nacional.

Os manifestantes, acompanhados de numerosas viaturas, que tocavam os seus «claxons» e exibiam dísticos e bandeiras nacionais, percorreram de seguida algumas das artérias da cidade, nomeadamente a Rua de Santo António e a Rua D. Francisco Gomes.

Para o correspondente do DN, a «manifestação decorreu com elevado espírito cívico», constituindo inequívoca expressão de aplauso popular ao Movimento das Forças Armadas.

 

Manifestação em Albufeira, n’«O Século» de 29 de Abril

 

Por sua vez, «O Século», na sua edição de 29 de Abril, traz-nos notícias de Albufeira: «pelas 15 horas de ontem, realizou-se nesta vila uma manifestação popular, que levava à frente a bandeira nacional e que integrava muitos populares a pé e nos seus automóveis, que entoavam o hino nacional e “slogans” como “O povo unido jamais será vencido”, “Vivam as Forças Armadas”, “Viva a liberdade”, “Viva o general Spínola”. Os manifestantes percorreram as ruas da vila e, junto do edifício da Câmara Municipal, os populares arrearam as bandeiras nacional e do concelho que, de seguida, voltaram a hastear ao mesmo tempo que entoavam em coro o hino nacional».

Entretanto, e segundo o repórter daquele jornal, nas paredes da Câmara Municipal encontravam-se escritas «em letras grandes, frases como “fora o presidente desta freguesia”, “abaixo os monopolistas”».

A manifestação, chefiada por José Manuel Osório e outros, terminou no Largo Eng. Duarte Pacheco, tendo ficado combinada uma outra a realizar no dia 1 de Maio. Ainda segundo aquele diário: «no momento de terminar a manifestação, alguém se lembrou de apontar um espectador como tendo pertencido à PIDE, valendo-lhe a intervenção do nosso correspondente que, junto dos manifestantes, conseguiu acalmar os ânimos, transportando-o ao quartel militar, em Faro, onde ficou sob custódia das Forças Armadas».

Já em Lagos, noticiou o DN, a 29 de Abril: «na Praça Gil Eanes, desta cidade, realizou-se uma manifestação popular, durante a qual usou da palavra o capitão Branco, que salientou a acção vitoriosa do Movimento das Forças Armadas, aconselhando o povo a manter o seu civismo para não desvirtuar o sentido da acção militar, feito em prol das liberdades cívicas da Nação».

Seguiu-se «o advogado Vasco Gracias, conhecido democrata, que manifestou a sua congratulação pela gloriosa acção, que salvou o povo português da vergonha e sofrimento de quase 50 anos», bem como o arq.º Albuquerque Veloso, «a quem se deveu a iniciativa da manifestação e que evocou os nomes dos antigos democratas».

Após ter falado um «jovem aspirante a oficial do Centro de Instrução de Condução-Auto n.º 5, encerrou a série de discursos o sr. Luís da Gloria, que se referiu à acção notável das Forças Armadas e salientou o doloroso sofrimento que os presos políticos tiveram durante os 48 anos do anterior regime».

Segundo aquele jornal, «todos os oradores foram entusiasticamente aclamados pela multidão que enchia a Praça Gil Eanes». Encontravam-se à frente dos destinos da Câmara Municipal, José de Oliveira Marreiro, vice-presidente do mesmo Município, enquanto o C.I.C.A. 5 era comandado pelo major Castela Rio.

 

Manifestação em Lagos – Foto de José Alexandre Rosa | Fototeca Municipal Lagos

 

Sobre Vila Real de Santo António, publicou «O Século», na edição de 29 de Abril: «efectuou-se, ontem em Vila Real de Santo António, uma manifestação de apoio à Junta de Salvação Nacional, de regozijo pela mudança do regime político, que reuniu cerca de 2000 pessoas. No sítio do Encalhe, formou-se o cortejo cívico encabeçado por numerosos vila-realenses, que, empunhando cartazes, vitoriavam o general António Spínola e o Movimento Libertador, manifestando-se contra as organizações políticas do anterior regime».

Acompanhadaospela banda de Castro Marim, os participantes dirigiram-se ao Quartel da Guarda Fiscal, onde «o dr. José Furtado, professor da Escola Técnica, saudou as Forças Armadas, cuja acção agradeceu, sendo correspondido pelo comandante da 4ª companhia daquela corporação, capitão Dias Pinto».

O cortejo dirigiu-se depois para a Capitania do Porto, «onde foram recebidos pelo respectivo comandante capitão-tenente Pires Dias, tendo ali feito uso da palavra o escritor António Madeira Santos, que manifestou o seu regozijo e o da população de Vila Real, pela vitória das Forças Armadas na luta, contra a opressão que dominava o País».

Em ambos os locais, a população entoou em coro o hino nacional. A manifestação «cívica terminou na Praça Marquês de Pombal, tendo, ali Joaquim Baptista Correia, conhecido democrata, agradecido à população o patriotismo e compostura de que dera provas».

No mesmo dia, o DN, sobre a vila pombalina, acrescentou: «esta vila tem dado um belo exemplo de civismo, que, certamente, surpreendeu os inúmeros estrangeiros que se encontram a veranear no Algarve. Com ávido interesse, ouve-se todo o noticiário dos órgãos de informação e, inclusivamente, os televisores ligados para Espanha para se saber o que no estrangeiro se pensa sobre o Movimento das Forças Armadas. O movimento da fronteira está a decorrer normalmente, sob as ordens da Guarda Fiscal, não tendo até agora havido qualquer incidente».

Contudo, a permanência da guarda-fiscal naquelas funções acabaria por contar com elementos da DGS, que, afastados e entregues às Forças Armadas, retomariam o serviço, ainda que sob controlo dos primeiros, causando desconforto na Vila, conforme noticiou, a 30 de Abril, «O Século». Apesar de, e nas palavras do DN, do mesmo dia: «a vida continua a decorrer normal, aqui e em Monte Gordo, onde se encontram inúmeros turistas estrangeiros a veranear».

Com «calma e expectativa» viviam também os albufeirenses, como dá nota o mesmo diário. Ainda assim, nas ruas mais movimentadas de Albufeira, haviam «surgido inscrições de apoio às Forças Armadas e de incitamento à participação activa, mas ordeira, dos cidadãos na vida política da Nação». Ali, como em toda a região, os jornais eram disputados e os noticiários escutados com máxima atenção.

Já em Faro, a convocação de uma reunião pela Comissão Democrática Eleitoral reuniu centenas de pessoas, que o DN enumerou na mesma edição de 30 de Abril.

 

Manifestação a 27 de Abril de 1974, em Lagos – Foto de José Alexandre Rosa | Fototeca Municipal Lagos

 

Por sua vez, em Olhão, teve lugar, no dia 28, «uma manifestação espontânea de jovens, os quais percorreram as principais ruas da vila empunhando dísticos patrióticos», lê-se no DN, de 1 de Maio. Já a Câmara Municipal, em sessão extraordinária e «por unanimidade», manifestou a sua aceitação e concordância com o programa estabelecido pela Junta de Salvação Nacional.

No mesmo jornal, foi noticiado um comício em Monchique, na Casa do Povo, de «apoio e solidariedade ao Movimento das Forças Armadas». Na sala, «totalmente repleta de todas as classes sociais do concelho», discursaram António Pires Ventura, Maria Laura, António Albano Lopes, Luís Catarino e Diogo Filipe, sobre «as condições sócio-politicas existentes até agora no concelho e na Nação, nas esperanças no futuro e à necessidade de concórdia entre a família portuguesa». Usaram ainda da palavra o capitão José Varela e o major Carlos Leal Branco. A sessão terminou «entre vivas ao Exército, ao general Spínola e à liberdade».

Por fim, «O Século», na edição de 1 de Maio, anunciou a prisão, em Faro, «durante a noite de ontem, por elementos das Forças Armadas, de mais vinte e cinco agentes da Direcção-Geral de Segurança. Os presos foram levados numa viatura militar para o presídio de Peniche».

Referindo que, «além de alguns movimentos de tropas, que a população não deixa de vitoriar, não se nota movimento desusado na cidade», informava que os jornais continuavam «muito disputados, desde há vários dias, e formam-se longas bichas para os obter».

Numa outra notícia, «O Século» acrescentava que havia decorrido uma reunião promovida pelo coronel Mendes Baptista, diretor do C.I.S.M.I., onde procurou esclarecer que, desde a primeira hora, havia secundado o Movimento Militar, sendo aquela unidade a responsável pela tomada das instalações da DGS, em Vila Real.

Se o dia 25 de Abril foi normal no Algarve e para os algarvios (os turistas viram os seus voos cancelados), ainda que, com expetativa e prudência, a maioria saiu à rua no sábado, 27, ou nos dias seguintes, regozijando-se com o Movimento Militar, como em Faro, Albufeira, Tavira, Lagos e Vila Real.

Refira-se que a maioria das notícias não foi datada, pelo que não é possível, a partir delas, aferir o dia exato dos acontecimentos descritos. Manifestações, até então proibidas, tornaram-se generalizadas, com palavras de ordem, paredes pintadas, e algumas tentativas de ajustes de contas com os antigos agentes da polícia política (os papéis invertiam-se, os algozes eram agora presos e transformados em vítimas).

Todavia, a verdadeira consagração do Movimento dos Capitães ocorreu no dia 1 de Maio de 1974, feriado nacional, quando os algarvios saíram massivamente à rua glorificando-o. Infelizmente, a imprensa nacional consultada não publicou notícias oriundas de Portimão, Lagoa, Silves ou Loulé. Se, por um lado, seria impossível os jornais aludirem a todas as povoações do país, ou mesmo terem correspondentes em todas elas, por outro, a presença de tropas em Tavira, Faro e Lagos, ou a condição fronteiriça de Vila Real, terão tornado estas localidades privilegiadas.

Quase 48 anos depois de os militares extorquirem, a 28 de Maio de 1926, os destinos do país à maioria dos portugueses, dando lugar ao mais longo regime autoritário do ocidente europeu, o poder regressava, pelos mesmos militares, ao povo e através do sufrágio universal a todos os portugueses, sem exceção.

Contudo, nem todos assistiram e viveram aqueles dias sublimes, muitos sucumbiram às mãos da tortura da polícia política e das prisões arbitrárias, muitas vezes por apenas ousarem manifestar que pensavam de uma forma diferente. Mas, tudo isso era agora passado, a Democracia era finalmente uma realidade. Foi há 50 anos.

 

Manifestação em Lagos, a 27 Abril de 1974 – Foto: Fototeca Municipal de Lagos

 

Leia também: Como noticiaram os jornais algarvios o 25 de Abril de 1974?

 

 

 

Autor: Aurélio Nuno Cabrita é engenheiro de ambiente e investigador de história local e regional, bem como colaborador habitual do Sul Informação.

 

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