O livro do Projeto Técnicas Ancestrais, Soluções Atuais (TASA) foi lançado no passado dia 20 de agosto em plena Fatacil, trazendo consigo a confirmação do seu sucesso e a preocupação de que o futuro está em aberto e que não será fácil criar a sustentabilidade que ele merece.
O TASA é um projeto lançado pela CCDR Algarve e que permitiu que uma equipa de Designers trabalhasse em conjunto com artesãos no Algarve na reabilitação do artesanato, pretendendo revitalizar um setor votado ao abandono e almejando também, com isso, a construção de uma perspetiva comercial.
Não é todos os dias que se vê um investimento desta natureza na revigoração de um artesanato perdido da identidade de uma sociedade algarvia que se habituou a olhar para o turismo e as outras culturas, vendendo artefatos banais e esquecendo muitas vezes a matéria prima que os artesãos sempre estimaram e os ensinamentos que urge preservar e passar às gerações vindouras.
Acresce que existe um processo – produto-confeção-estatuto cultural – que esteve bem presente na 1ª fase do projeto e um outro que terá ainda um longo caminho a percorrer e que inclui a relação do produto com a economia do artesanato e a lógica de mercado. A sustentabilidade do artesanato algarvio do TASA dificilmente vingará se na 2ª fase, que agora se inicia, não se der especial atenção aos fatores que constituem o sucesso da 1ª e dos quais ressalta a “horizontalidade” que me parece a sua maior virtude!
O sucesso do projeto TASA, como muito bem refere o texto dos The Home Project Gbr a quem muito se deve o teor desta iniciativa, deriva de um trabalho que soube envolver todos os agentes em pé de igualdade, provocando o efeito horizontal que originou o princípio do que se poderia entender como uma verdadeira rede. Uma rede de trabalho que se foi gerando, e com ela, muitas sinergias profissionais e sociais que importa valorizar.
O projeto deixa antever essa potencialidade de juntar saberes, de comunicar em diversas áreas com discurso direto e mediação eficiente e capaz de juntar o negócio do medronho com o da olaria ou o da cortiça com o da cerâmica, potenciando ao mesmo tempo os saberes de ambos os artesãos.
Desde a apresentação do TASA, que decorreu no ano passado em Faro, saltou-me à vista que, independentemente do estatuto comercial que estas peças possam ter, existe um potencial humano de valorização do património imaterial que nos faz sonhar e acreditar que é possível dar um novo rumo a esta actividade. Esse sucesso deve-se essencialmente ao diálogo e é ele que deve prevalecer do princípio ao fim deste investimento.
O que pude confirmar na apresentação do livro foi a elevação de todas estas características únicas e perceber como o Design aliado à inteligência coletiva nos trouxe um documento cuidado, com uma grafismo louvável e um trabalho de documentação que nos deixa um importante contributo para o conhecimento nascido da relação entre a criação artesanal e a produção científica.
Pese embora todo o sucesso alcançado, os moldes em que decorreu a apresentação do livro (numa Fatacil que pouco o engrandece e sem a presença da maior parte dos seus atores) sintomatizam a existência de alterações profundas na estratégia cuidada da comunicação que estes objetos tiveram durante o seu parto.
É importante que pensemos que o lançamento deste livro, bem como as apresentações públicas e institucionais que dos objetos forem feitas, só terão a ganhar se trouxerem o rigor, o design e o envolvimento comunitário como fator diferenciador, pelo que acresce também questionar que esta publicação só fará sentido se os agentes envolvidos e documentados sentirem que o livro é seu, que lhes pertence como herança de um trabalho que ainda agora começou e que nos valoriza também a nós, algarvios!.
Autor: Jorge Rocha é Artista e Produtor independente
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