Abate de árvores no Ancão já começou a ser (mais que) compensado pelos donos do terreno

Foi criado um Plano de Gestão Florestal a 20 anos para recuperar e preservar ambientalmente o terreno situado junto à praia

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Começou mal, com o abate de pinheiros, alguns deles centenários, num terreno junto à praia do Ancão, em Maio de 2020. Esta sexta-feira, dia 14 de Janeiro, a empresa dona desta propriedade começou oficialmente a “emendar a mão” e apresentou o Plano de Gestão Florestal que já está em curso e que visa garantir que a história acaba bem.

A plantação de três mil árvores, limpeza de matos e desbastes seletivos, a remoção e controlo de espécies invasoras, a remoção de eucaliptos e a instalação de caixas-ninho e de abrigos para morcegos e coelhos são algumas das ações previstas no plano, que tem «um período de vigência de 20 anos (2020-2039)» e foi uma promessa feita dias depois da denúncia pública de que tinham sido abatidas árvores ilegalmente.

A intervenção que está prevista «assume exclusivamente preocupações de salvaguarda e de valorização e qualificação ambiental e paisagística, bem como de conservação e promoção da biodiversidade», assegurou a AM|48, a empresa proprietária deste terreno com cerca de 47 hectares.

Na manhã de ontem, decorreu neste local da Praia do Ancão um ato simbólico de lançamento do Plano de Gestão Florestal, que irá motivar, nesta fase inicial, um investimento de cerca de 100 mil euros.

 

 

Além de Alejandro Martins, diretor executivo da AM|48, estiveram presentes Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé, que, em Maio de 2020, apelidou de «crime ambiental» o abate das árvores que então foi feito, e António Miranda, diretor adjunto da Direção Regional do Algarve do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, entidade que levantou um auto de contraordenação aos proprietários do terreno, devido a esse mesmo abate, e embargou os trabalhos que estavam em curso.

A presença neste ato de Vítor Aleixo e de um dirigente regional do ICNF acaba por ser um sinal de reconhecimento do esforço feito pela empresa para, não só, repor a situação, como elaborar uma estratégia de longo prazo para a conservação do espaço.

Apesar de ter admitido que, num primeiro momento, ponderou não marcar presença no ato, Vítor Aleixo revelou que ficou convencido ao «ler a nota de imprensa», onde eram elencadas as ações previstas e a filosofia do plano.

«Não podia deixar de estar presente porque este é um plano de gestão florestal num terreno de quase 50 hectares, numa área de excelência do turismo nacional.  (…) Ver uma resposta tão rápida, tão ambiciosa, tão bem pensada, porque vai desde a recuperação da área florestal, à recuperação dos ecossistemas, da biodiversidade… tudo está pensando neste plano da gestão da floresta», disse o presidente da Câmara de Loulé.

 

Vítor Aleixo – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Apesar de não esconder que a área florestal em causa «foi objeto recentemente de uma intervenção absolutamente infeliz», o edil louletano reconhece em Alejandro Martins «um investidor que tem esta sensibilidade ambiental» e que «está de parabéns».

«Acho que este é um momento importantíssimo, é até um momento exemplar para a atividade turística no Algarve, que precisa de olhar para esta intervenção, a que se está a dar hoje o pontapé de saída aqui no Ancão, e replicá-la o mais possível na região. Esse é o único caminho através do qual nós podemos manter no Algarve, enquanto destino turístico, o nível de excelência e de importância mundial», concluiu o autarca.

Alejandro Martins, por seu lado, explicou o que levou ao abate inicial das árvores, em Maio de 2020.

«Quando nós comprámos o terreno – nessa altura ainda só tínhamos o contrato de promessa -, não fomos informados pelo anterior proprietário de que tinha pedido ao ICNF para limpar a propriedade. O ICNF disse que sim, mas que havia certas condições, mas nós não sabíamos. Foi ele próprio que encetou a limpeza», enquadrou.

Tudo isto «coincidiu com a situação da Covid». Dessa forma, «nós não vínhamos cá. Sei que iam passando aqui pessoas e, de repente, fomos também, de algum modo, apanhados de surpresa com o trabalho que foi feito», assegurou.

Terá sido após perceber que «houve coisas mal feitas» que os novos proprietários do terreno, «conforme o sugerido pelo ICNF e pela própria Câmara», decidiram avançar com um Plano de Gestão Florestal.

 

Alejandro Martins – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

No Algarve, este instrumento de ordenamento só é obrigatório para parcelas com 50 hectares ou mais. «Nós só temos 47, mas fomos os próprios a dizer: “achamos bem, vamos fazê-lo, nem que fossem 30”».

«Queremos repor as espécies, queremos repor os habitats, queremos repor tudo aquilo que foi destruído e aumentar com novas espécies, que também fazem parte da região e da sua autenticidade, como as alfarrobeiras, muitos sobreiros», referiu,

No fundo, disse, trata-se de assegurar «a biodiversidade e sustentabilidade de todo este espaço».

O plano foi submetido ao INCF, que o aprovou e vai monitorizar a sua aplicação no terreno. Também a Câmara foi incluída no processo, assegurou Alejandro Marques.

António Miranda, do ICNF, confirmou que a empresa «desde logo demonstrou interesse e fez várias reuniões connosco, no sentido de repor a situação e de a melhorar».

Quanto ao plano hoje apresentado, «tem a nossa concordância, porque dá um conjunto de garantias de que vão continuar a acompanhar o crescimento das árvores que estão agora a ser plantadas, o controlo das infestantes e um conjunto de outras ações para fomento da fauna e das espécies protegidas».

 

António Miranda – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

E porque é que uma empresa do setor imobiliário como a AM|48 decide fazer um investimento na conservação da natureza e na manutenção de uma área florestal de quase 50 hectares numa das principais zonas turísticas do Algarve?

Alejandro Martins não esconde que o que lhes for permitido fazer na parte urbanística e que esteja «de acordo com todos os regulamentos», «com certeza que iremos fazer».

«Mas já está visto que nunca será nesta propriedade e nesta intervenção. Poderá ser nas pré-existências» à volta do terreno, disse.

«A nossa ideia é criar aqui observatórios, para os turistas poderem tirar fotografias às aves, criar passagens, os trilhos que nos for permitido abrir e que estão previstos no próprio PGF», disse o diretor executivo da AM|48.

«Quero aqui uma propriedade que seja uma referência, mesmo para os próprios turistas. Isto era o que era e hoje é o que é. E portanto, tudo o que pudermos utilizar para catapultar mais o turismo, iremos fazer, sempre acompanhados pelo ICNF e pela Câmara e outras entidades que sejam necessárias», rematou.

 

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 

 



Comentários

pub