Número de andorinhas em Portugal caiu quase para metade em 20 anos

Declínio acentuado também se verifica em relação a outras espécies migratórias

Andorinha-das-Chaminés – Foto: Ben Andrew | SPEA

«Se nada mudar, em breve teremos de encontrar outro símbolo para a chegada da Primavera». O aviso é feito pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), na sequência do mais recente Censo de Aves Comuns, publicado esta terça-feira, que aponta para uma diminuição de 40% do número de andorinhas-das-chaminés em Portugal, nos últimos 20 anos.

A diminuição da população desta emblemática ave, que associamos ao início da Primavera, é «representativa do declínio generalizado de diversas espécies de aves migradoras de longa distância», nomeadamente o cuco, picanço-barreteiro e rola-brava, que também viram os seus números baixar, «não só em Portugal, mas também em Espanha e na Europa em geral».

«Em plena crise da biodiversidade, termos acesso a informação atualizada sobre o estado das nossas espécies de aves comuns é uma enorme mais-valia», afirmou Hany Alonso, técnico da SPEA e coordenador do Censo de Aves Comuns.

«Ao olharmos para as aves comuns podemos compreender melhor o que se passa em nosso redor. Estas espécies vão ser as primeiras a dar-nos indicação de que alguma coisa não está bem», acrescentou.

A SPEA salientou, de resto, que as aves migradoras como as andorinhas «têm sofrido com as alterações climáticas, que afetam desde os sinais que estas espécies usam para iniciar a migração até à abundância dos insetos de que necessitam para alimentar as crias».

Também aves comuns nos meios agrícolas, como o pardal, o peneireiro e a milheirinha estão em declínio nos últimos 20 anos, «devido à intensificação das práticas agrícolas, que têm vindo a artificializar os nossos campos, destruindo os mosaicos tradicionais que permitiam que a biodiversidade florescesse».

«Para travar estes declínios, será necessário restaurar a natureza, implementar políticas que promovam práticas agrícolas sustentáveis e adotar uma visão estratégica e de longo prazo no ordenamento do território, no desenvolvimento energético, e nas avaliações de impacto», defende a associação.

No relatório do Censo de Aves Comuns foram avaliadas as tendências populacionais de 64 espécies de aves comuns em Portugal continental para o período 2004-2023. O relatório apresenta ainda uma comparação dessas tendências com a situação dessas mesmas espécies em Espanha e na Europa.

«Numa altura em que precisamos de ter mais informação sobre o estado da biodiversidade, estes dados são importantes porque além de nos ajudarem a identificar as espécies e habitats que podem estar sob maior ameaça e sobre as quais devemos priorizar medidas de conservação, também podem ajudar a definir e a implementar políticas e medidas de gestão sustentáveis», salientou Hany Alonso.

Em conjunto com dados de programas similares noutros países da Europa, os dados do Censo de Aves Comuns permitem, por exemplo, medir o progresso relativamente às metas estabelecidas pela União Europeia para travar o declínio da biodiversidade.

O Censo de Aves Comuns é um programa de monitorização a longo prazo de aves comuns nidificantes e seus habitats, em Portugal. Nesta contagem anual, que decorre há 20 anos, centenas de voluntários recolhem, de forma sistemática, dados sobre a presença de diferentes espécies.

«Para conseguirmos dados fidedignos, que nos mostrem o panorama destas espécies a nível nacional, ano após ano, dependemos das muitas dezenas de voluntários que têm participado no Censo ao longo destes 20 anos, e a quem agradecemos por todos os contributos. E aproveito para deixar o convite aos observadores de aves que se juntem a nós no próximo censo», concluiu Hany Alonso.

 

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