Em “A Pedra, a Mágoa”, as pedreiras são uma metáfora. Durante a pandemia, o algarvio Daniel Matos leu uma notícia sobre pedreiras abandonadas e começou a associá-las à ideia de decomposição da ideia social do conceito de família. Desse trabalho, nasceu este novo espetáculo que se estreia hoje, 4 de Maio, a partir das 21h00, no Teatro das Figuras, em Faro.
No fundo, neste novo objeto coreográfico, o artista coloca a família no seio da criação, explorando as relações de hierarquia que a compõem.
«Eu já queria trabalhar sobre os meus pais há muito tempo», começa por explicar Daniel Matos, em conversa com o Sul Informação.
A leitura dessa notícia sobre pedreiras abandonadas – associada a um convite por parte do coreógrafo Rui Horta, antigo diretor do “Espaço do Tempo”, em Montemor o Novo – deu asas ao desejo.
«Comecei a linkar essa ideia das pedreiras abandonadas com a minha família. Como é que associava essas feridas na paisagem ao meu lugar familiar; como é que as via como um trabalho de escavação, que também queria desenvolver no seio da minha família», explica o coreógrafo.
Um dos objetivos também foi evocar um papel quase mitológico que é associado à parentalidade.
«De certa forma, coloca-los num pedestal, chegas a uma idade e começas a descontruir isso: a ter um olhar mais horizontal», acrescenta.
O espetáculo, de cerca de uma hora, conta com milhares de frames por segundo acompanhados pela revisitação à obra musical “Prélude à l’après-midi d’un Faune”, de Claude Debussy, numa nova versão criada por João Galante.
Os pais de Daniel Matos vão estar na estreia, em Faro, até porque este é um espetáculo que, de certa forma, «constrói uma história para eles».
«É devolver-lhes uma história: não é uma reconciliação; é só a minha maneira de ver o mundo e partilhar esta maneira de ver o mundo e que eles se sintam abraçados e também confrontados», diz.
Para o coreógrafo, estrear no Algarve tem também outro significado.
O espetáculo é produzido pela CAMA AC, sediada em Lagos, conta com uma equipa de intérpretes composta por Lia Vohlgemuth, Joana Simões e Elia Pangaro e com colaboração artística de João Catarino.
Depois da estreia do espetáculo, será apresentado no dia 18 de Maio, no Cine Teatro de Pombal, e no dia 25, no Centro Cultural de Lagos.
“A Pedra, A Mágoa” é uma coprodução do Teatro das Figuras, Cine-Teatro Louletano, Casa Varela/Cine-Teatro de Pombal – Município de Pombal, Município de Lagos.
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