Dona do terreno para a dessalinizadora contesta expropriação em tribunal

Estado ofereceu, na expropriação, 630 mil euros; o terreno está avaliado em 15 milhões

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

A proprietária do terreno onde está prevista a construção da dessanilizadora, no litoral do concelho de Albufeira, está contra a instalação do projeto. Albida Ferreira recebeu a carta de expropriação em Dezembro, mas já contestou, no tribunal, a posse administrativa e promete não baixar os braços. Ao seu lado, tem um grupo de estrangeiros de Albufeira que vai começar uma ação de sensibilização para travar o avanço da dessalinizadora, alegando razões ambientais. 

O terreno, que se localiza perto da praia da Falésia, «não está à venda».

«Nem por valor nenhum», disse esta quarta-feira, 7 de Fevereiro, ao Sul Informação, Albida Ferreiro, filha do dono da empresa Seacliff -Compra e Venda de Imóveis, dona da Quinta da Ponte.

É lá que se quer instalar a dessalinizadora, num terreno que «tem grande valor sentimental» para a família. Comprado em 2005, por 1,7 milhões de euros, o espaço está hoje avaliado em 15 milhões.

O que o Estado ofereceu, na expropriação, foram 630 mil euros, segundo Albida.

Em declarações aos jornalistas, numa conferência de imprensa realizada na manhã desta terça-feira, junto à entrada da praia da Falésia, a proprietária explicou qual era o desejo da família.

«O que queríamos fazer era um lar de idosos num terreno rodeado de natureza viva, de ovelhas, de animais ao redor. Não tínhamos entregado ainda o projeto, mas este é o sonho do meu pai», disse.

A família recebeu, a 27 de Dezembro, a carta de expropriação, enviada pela Águas do Algarve; antes, em Fevereiro de 2023 tinha chegado uma missiva com a intenção de compra, rejeitada pelos proprietários.

De acordo com Albida, a expropriação já foi contestada no tribunal e não ficarão por aqui. Apesar de não saber os moldes jurídicos, a filha do proprietário garante que não vai desistir.

Nesse lar, que seria privado, o objetivo era criar algo «à semelhança do que fazem na Suíça», com direito a uma enfermaria privada. Uma das ideias até passava por criar uma pista de aterragem de helicópteros «para se ter acesso rápido aos hospitais».

Tudo, segundo Albida, seria «rodeado de natureza». «Nós somos amantes da natureza: não queremos que a destruam», reitera.

Mas a própria construção desse lar que a família pretendia construir no terreno não teria também os seus impactos?

«As obras não iam pôr em causa a questão ambiental porque seria tudo reutilizável. Temos painéis solares, as águas são reutilizáveis, o próprio lar seria sustentável», garante.

Apesar de já terem o terreno desde 2005, os proprietários dizem que não avançaram ainda com o projeto do lar porque têm «outras obras» a decorrer.

Questionado sobre se esta é uma luta ambiental ou também económica, Albida garantiu que o que a move é a preservação do ambiente.

E acrescentou: «se o ambiente está mal, a economia também está mal. O turismo é o que dá de comer ao Algarve; se estragam a Praia da Falésia, os apartamentos, o turismo, tudo se desvaloriza».

Nesta batalha, Albida Ferreiro tem o apoio de um grupo informal de estrangeiros que nasceu em Albufeira, mas já se expandiu para o resto do Algarve.

 

Paolo Funassi – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

 

Paolo Funassi é o fundador e também esteve presente na conferência de imprensa desta quarta-feira.

Em declarações aos jornalistas, o italiano, residente em Albufeira, explicou que a proprietária do terreno também faz parte do grupo e pediu ajuda para fazer «uma batalha também mediática para alertar os cidadãos».

«Nós estamos preocupados com o ambiente. Aqui é a Praia da Falésia, uma das 10 mais bonitas do mundo: imaginem o que será criar aqui uma dessalinizadora que vai criar contaminação e poluição, com a salmoura jogada no mar. Os canos vão passar debaixo da praia: imaginem o dano», considerou.

Para o grupo de estrangeiros, haveria «outras soluções para a falta de água», dando como exemplo combater as perdas na rede ou uma possível ligação que traria água das barragens do Norte para as do Sul.

«A reutilização das águas residuais é muito baixa e acho que há outras soluções. Assim, vamos investir milhões e milhões para criar um outro dano – ao turismo, aos residentes e aos pescadores», defendeu.

Uma das principais contestatárias ao projeto da dessalinizadora tem sido, desde o início, a Plataforma Água Sustentável (PAS) que também esteve presente na conferência de imprensa de ontem.

Maria Emília Costa, membro da PAS, explicou que a plataforma, que já se manifestou contra durante a consulta pública que terminou em Dezembro, considera que os «perigos são imensos».

«Além de atuar no meio aquático e marinho, a letalidade pode ser muito grande, tanto no momento da descarga da salmoura [que resulta do processo de dessalinização], como no local de recolha da água do mar. Outra questão importante é que a conduta passa na falésia, na arriba, e vai desestabilizá-la. A água do mar vai ser alterada porque há uma concentração muito grande de metais, de microrganismos e de toda a água suja proveniente das lavagens da estação que vai juntar-se à salmoura», defendeu.

Outra questão é a Ribeira de Quarteira que terá «descargas eventuais» que danificarão a vida deste habitat; a isto junta-se um «aumento da temperatura da água que chegará a 26 graus».

No fundo, concluiu, será «um conjunto de problemas numa zona de excelência da nossa costa».

 

 

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