Já há 5500 italianos a viver no Algarve

«É este tipo de atividade que me motiva a fazer aquilo que faço, com muito prazer»

Francesco Berrettini (à direita), com o embaixador Carlo Fomosa (ao centro) e o autarca José Carlos Rolo

A comunidade italiana, em dez anos, passou de cerca de 400 residentes no Algarve para os atuais 5500, revelou Francesco Berrettini, Cônsul Honorário de Itália na região algarvia.

Berrettini falava depois de lhe ter sido entregue a condecoração de “Cavaliere dell’Ordine della Stella d’Italia”, pelo Embaixador de Itália Carlo Formosa, durante uma cerimónia quase íntima, com apenas 30 convidados, em Albufeira.

Esta que é uma das mais altas condecorações do Estado italiano é atribuída a italianos no estrangeiro ou cidadãos de outros países pelos seus «feitos extraordinários na promoção de relações amistosas e cooperação entre a Itália e outros países». No caso, foi atribuída devido à «forma espantosa de trabalhar do cônsul», explicou o embaixador Carlo Formosa.

O diplomata referiu-se sobretudo aos difíceis e ainda recentes anos da pandemia de Covid-19, que apanhou muitos italianos no Algarve, tendo a «comunidade italiana tido alguma dificuldade em lidar com esta situação nova num país estrangeiro».

«Uma vez passada a situação de emergência e recuperado o desenvolvimento natural da sua função, demonstrou-me que tinha compreendido que um cônsul honorário hoje em dia não é o que era há 20, ou mesmo há 10 anos», acrescentou o embaixador italiano.

Um cônsul, explicou, «tem de ser o centro de interlocução não só para os que estão debilitados ou os que precisam de um serviço consular, mas também estar pronto para dar conselhos, para orientar e desenvolver perspetivas de negócios». Isso «pressupõe criar relações, criar redes, criar possibilidades de interlocução para quando é preciso».

«O cônsul Berrettini mostrou, desde o início da emergência, mas também depois de voltar a normalidade, que merecia a minha proposta para que fosse considerado para uma condecoração que é muito importante em Itália. A minha recomendação foi imediatamente acolhida pelo nosso ministro dos Negócios Estrangeiros e pelo Presidente da República Italiana», concluiu o embaixador Carlo Formosa.

 

 

 

 

Depois de receber o diploma e de a condecoração lhe ter sido imposta, Francesco Berrettini salientou que «desde muito cedo na minha vida experimentei ajudar os outros». Foi escuteiro, quando veio para Portugal ajudou outros italianos, nomeadamente estudantes universitários, sempre tendo dedicado «uma parte» do seu tempo «ao benefício coletivo».

«Também o meu trabalho de hoje, nesta sociedade com a qual colaboro, a Empowered Startups, tem uma componente de benefício social, porque estão a ajudar as universidades e os politécnicos portugueses a fazer pesquisas científicas com empresários com altas qualificações».

Por isso, quando foi nomeado cônsul honorário, «há quase 10 anos, foi como dar continuidade a esse meu espírito».

Ser cônsul honorário, explicou Berrettini, «é um cargo voluntário», mas tem de ser sempre «uma pessoa com fortes ligações ao território».

Em quase uma década, as características do seu trabalho mudaram, acompanhando a própria mudança da comunidade italiana residente no Algarve. «Quando fui nomeado, segundo a estatística do SEF, a comunidade italiana no Algarve era composta por cerca de 400 pessoas. Desde 2017, houve um crescimento significativo, tendo passado para cerca de 5500 italianos», sublinhou.

De tal como que «os italianos no Algarve são a 5ª comunidade estrangeira mais importante, depois do Reino Unido, Brasil, França e Roménia»

E o que atraiu estes italianos? Empresário e professor, com experiência no mundo dos negócios e da academia, o cônsul não tem dúvidas de que «foram os benefícios fiscais para o residente não habitual».

Tudo isso «alterou um pouco o perfil demográfico e psicossocial da comunidade italiana: temos registadas pessoas de uma idade mais avançada, com algum poder económico e com experiência significativa, embora sem grande experiência de vida no estrangeiro».

No início, recorda, «as necessidades que surgiram foram a um nível mais elementar: ter apoio no relacionamento com o Serviço Nacional de Saúde, como poder trazer uma animal de estimação para Portugal», esse tipo de situações.

Outro «fator significativo» apontado pelo cônsul é o aumento da migração do Brasil para Portugal, já que muitos desses imigrantes vêm para o Algarve e «têm dupla nacionalidade italiana-brasileira».

Para lá do trabalho administrativo, próprio de um cônsul, mesmo honorário, «existe uma outra faceta menos conhecida, mas que, quando a conseguimos fazer bem, dá alguma satisfação», acrescentou.

E essa faceta tem a ver com a «ajuda que tentamos proporcionar aos italianos no território, em caso de doença, assaltos, falecimento, procura de pessoas, detenções. É isto que me estimula a continuar».

 

 

O período da pandemia foi particularmente difícil. Aliás, a primeira pessoa a morrer por causa de Covid no Algarve foi um italiano. E Francesco Berrettini estava lá, não só para acompanhar, dentro do possível, o doente, mas também para «fazer a ponte com a família, com os médicos, com tudo o que estava relacionado».

A esse respeito, o cônsul fez questão de salientar que um dos seus apoios no meio hospitalar é o médico italiano Giovanni Cerullo, responsável pela unidade de Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), um dos convidados para esta cerimónia restrita.

Francesco Berrettini contou vários casos, alguns tristes, o que até motivou uma brincadeira do embaixador, outros «mais simpáticos», como o do idoso italiano internado num hospital do Algarve, para o qual o cônsul conseguiu que a filha, «que não falava há 30 anos com o pai, viesse cá buscá-lo e o levasse para Itália», onde o acompanhou nos seus últimos dias.

Ou o caso de um casal que ficou retido em Faro, porque teve um bebé prematuro. «Foram bem recebidos pelo hospital, acompanharam o bebé durante seis meses, e, por dois ou três anos, mandaram-me fotografias do bebé como se eu fosse um tio».

Ou ainda o de «uma jovem rapariga que teve um enfarte cá no Algarve, mas sobreviveu e regressou a Itália num voo hospitalar. O pai, durante anos, mandava-me fotos da filha, quando se licenciou, etc. O que vale é que a minha mulher não é ciumenta ou eu teria tido problemas», brincou.

«É este tipo de atividade que me motiva a fazer aquilo que faço, com muito prazer», reforçou.

Mas nada deste trabalho se faz sem a tal rede: «Tudo isto só é possível com a ajuda de pessoas que o Cônsul conhece no território, como as autoridades, os autarcas, as autoridades de saúde e todos quantos ajudam a resolver os casos».

«Esta condecoração inesperada enche-me de orgulho para continuar a servir o meu país de nascimento, mas, já agora, também este país onde escolhi viver, porque também sou cidadão português», acrescentou.

A terminar, Francesco Berrettini fez um agradecimento emocionado à sua mulher Helena, também presente na cerimónia.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

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