Centro de Alojamento de Emergência Social do Algarve já muda vidas

«O nosso trabalho é mostrar às pessoas que aqui chegam que acreditamos que elas conseguem e o que procuramos é ajudar a criar a vontade de mudar de vida»

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

Foi um «caminho muito difícil» até à inauguração do Centro de Alojamento de Emergência Social (CAES) do Algarve, mas, depois de anos a idealizar o projeto, a casa já está pronta para receber 46 pessoas que precisem, de forma temporária, de um sítio para morar. 

É nos antigos edifícios da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, no Patacão, que funciona agora este alojamento que pretende ajudar a «criar a vontade de mudar de vida» a todos os que cá entram. A inauguração oficial está marcada para hoje, quarta-feira, 7 de Setembro.

Ao todo, há lugar para acolher 46 pessoas – sendo que inicialmente foi criada uma resposta para 30 – que Fábio Simão, presidente do Movimento de Apoio à Problemática da Sida (MAPS), espera que aqui se sintam «em casa». Uma casa que, aliás, desde 1 de Setembro, já deu abrigo a cinco pessoas.

«O CAES surgiu de um sonho para a comunidade algarvia. É uma resposta que nós queremos implementar de forma a que ninguém passe necessidades e fique com uma porta fechada», diz ao Sul Informação o presidente da associação e líder deste projeto de alojamento, que está a ser posto em prática em estreita colaboração com o Centro Distrital da Segurança Social de Faro, dirigido por Margarida Flores.

Entrar no Centro de Alojamento de Emergência Social do Algarve não é como entrar noutro centro social qualquer. Aqui, trabalhou-se para deixar de lado o «aspeto institucional» e criar muito mais do que «só um sítio com camas e cacifos».

«Isto parece um Hostel de 5 estrelas, sim, mas temos de compreender que a nossa preocupação é a dignidade humana. Imaginemos que estamos numa situação horrível, em que, de um momento para o outro, perdemos tudo. Chegar a um sítio que nos inspira conforto, cuidado e que foi feito de pessoas para pessoas, é totalmente diferente. O nosso objetivo é que entrem aqui dentro e pensem que vai correr tudo bem», explica Fábio Simão, referindo que muito do que aqui se encontra é também fruto da solidariedade dos algarvios.

 

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

Muitas das mobílias vieram de hotéis, outras foram doadas e restauradas pelos voluntários, que também pensaram na decoração e trabalharam horas a fio para, como diz Fábio, «todos os dias fazer desta casa um lugar melhor». Além disso, as tintas, azulejos e outros materiais de construção foram doados por empresas.

«Isto é uma casa de todos nós, porque a verdade é que nunca sabemos o dia de amanhã. Nunca sabemos se vamos precisar de ajuda. E, no dia em que eu precisar de ajuda, eu dava tudo para entrar num sítio como este», realça, ao Sul Informação.

Há 12 anos à frente da presidência do MAPS, de forma voluntária, Fábio Simão, juntamento com Elsa Morais Cardoso, vice-presidente, e a restante equipa, têm vindo, com os projetos que desenvolvem, a colocar a associação num patamar de referência a nível nacional.

 

Elsa Morais Cardoso, vice-presidente do MAPS. Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

«Além do CAES, temos muitos outros trabalhos em andamento», diz o presidente, referindo o exemplo dos apartamentos partilhados, em funcionamento há um ano, e que deram ao Algarve «a melhor taxa de integração do país».

«Já somos uma referência a nível nacional no trabalho com os sem-abrigo e quando, há uns tempos, criámos um projeto e me perguntaram o que faltava fazer, eu disse: primeiro é tornar o Algarve na primeira região do país sem pessoas a viver na rua, depois é o país e depois é o mundo. Enquanto existir algum tipo de desigualdade, o MAPS vai continuar a existir e, por isso, é importante as pessoas aproximarem-se destas situações e conhecerem as realidades», diz, referindo que muito se deve à relação de proximidade que existe entre o MAPS e o Centro Distrital da Segurança Social.

«O Algarve tem uma característica muito saudável e de louvar que é a relação de proximidade que todas as entidades têm. Às vezes, eu acho que não damos o devido valor à nossa região, nem à forma como fazemos as coisas. Costumo dizer que o MAPS é uma extensão dos serviços da Segurança Social, porque nós conseguimos sempre, em conjunto, procurar uma resposta e focarmo-nos na solução», continua, enaltecendo a «visão» e «trabalho incansável» de Margarida Flores e da sua equipa.

Foi, aliás, através deste trabalho conjunto que conseguiram dar andamento à obra do CAES, que, devido a todos os entraves, também provocados pela pandemia, foi muito mais morosa e cara do que estava previsto.

 

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

De um investimento inicial estimado de 200 mil euros passaram para quase 600 mil. A data de inauguração teve de ser adiada mais do que uma vez, mas, durante o processo, Fábio frisa que contaram com o apoio de muitas empresas e também da Câmara Municipal de Faro, que, além do investimento de 180 mil euros, paga, mensalmente, a renda do espaço (quase quatro mil euros).

Após anos de trabalho, o CAES é oficialmente inaugurado esta quarta-feira, 7 de Setembro, mas, para Fábio, o momento mais marcante já passou: «foi quando recebemos aqui a primeira pessoa».

Ao Sul Informação, explica que o CAES, que ainda se encontra em restauros finais, vai funcionar em três modalidades.

O alojamento normal, de três meses, com possibilidade de renovação por mais três, permite acolher pessoas que, por qualquer motivo, ficaram sem casa ou se encontram em situação de crise. O alojamento de emergência, previsto para acolher pessoas durante 72 horas, destina-se, por exemplo, a quem esteja a passar por uma situação de violência doméstica e precise de uma resposta rápida. Além disso, o CAES tem ainda uma equipa disponível para, a qualquer hora, sair e auxiliar quem está em situação de crise.

«Todas as situações de emergência têm um lugar aqui, acionando a linha 144, durante os períodos em que a Segurança Social está fechada, ou dirigindo-se à Segurança Social, que é quem sinaliza para aqui».

Como explica o presidente do MAPS, o CAES é um projeto piloto – «um desafio do Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social de criar algo diferente e inovador e, sendo um projeto piloto, se correr bem, será um modelo a espalhar pelo resto do país».

Ao Sul Informação confessa que não tem dúvidas de que irá correr bem.

«Desde 1 de Setembro, já recebemos quatro pessoas e vamos agora ter mais uma integração. Sem identificar a pessoa, posso-lhe dizer que o nosso primeiro utente, que entrou aqui há cinco dias, hoje já é nosso colaborador. O nosso trabalho é mostrar às pessoas que aqui chegam que acreditamos que elas conseguem e o que procuramos é ajudar a criar a vontade de mudar de vida», remata.

 

Fotos: Mariana Carriço | Sul Informação

 

 

 



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