Chuvas de Outubro e Novembro acabaram com a seca mas só deram água para mais um ano

As duas maiores barragens da região estão a cerca de metade da sua capacidade. Os aquíferos subterrâneos continuam em níveis muito baixos

Barragem de Beliche – Imagem de Arquivo – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

A chuva que caiu em Outubro e Novembro deu para aumentar o volume de água armazenado nas barragens algarvias, principalmente no Sotavento, e até para acabar com a situação de seca no Sul do país. Ainda assim, as atuais disponibilidades hídricas no Algarve só chegam para garantir o abastecimento público durante cerca de um ano, caso não chova.

Segundo relatório do mês de Novembro da Comissão Permanente de Acompanhamento da Seca, na Barragem de Odelouca, a maior da região e dedicada, exclusivamente, ao abastecimento público, há água para mais de um ano.

Mas, no Sotavento, os volumes armazenados nas duas albufeiras ali existentes, a de Odeleite e a de Beliche, «são ainda inferiores a um ano de reserva de água para a garantia do abastecimento público, sendo essencial que o período húmido deste novo ano hidrológico permita uma regularização significativa destes volumes, equivalente à de um ano médio ou húmido».

Ou seja, apesar da muita chuva que caiu em Outubro e Novembro – que até causou inundações em várias localidades do Algarve, em dias diferentes -, as barragens do Algarve continuam bem longe dos níveis ideais, ainda que melhor do que estavam em Setembro.

Há mesmo albufeiras, nomeadamente a da Bravura e a de Beliche que estavam identificadas, no final do mês de Novembro, como estando em «situação crítica» e sob vigilância.

Estas duas barragens estavam, há pouco mais de um mês, entre aquelas do país com um volume armazenado abaixo de 40% da sua capacidade total. A da Bravura era a que estava em situação mais crítica, com 14% do volume total. Já Beliche estava nos 38,3%.

 

Barragem da Bravura quase seca, no final de Agosto – foto: © João Mariano | The Understands – Aljezur BTT Team

 

Da mesma lista das albufeiras com menos de 40% também consta a do Arade (26,4%), que não é considerada, ainda assim, como estando em situação crítica.

Segundo a Comissão Permanente de Acompanhamento da Seca,  a chuva que caiu em Outubro e Novembro «pouco contribuiu para a recuperação de volumes» na barragem da Bravura.

Já na Barragem de Odelouca, houve uma recuperação significativa de volume, não apenas devido à chuva, mas também devido ao facto de ter sido suspendida a captação de água nesta Albufeira, entre 7 de Janeiro e 30 de Junho.

Desta forma, o volume armazenado em Odelouca em Novembro «era de cerca de 76,8 hm3 [48,9%], a que corresponde um volume útil de 47,9 hm3 , ou seja, uma reserva superior a um ano de consumo do abastecimento público».

Ainda assim, os volumes acumulados não permitiam «assegurar uma gestão plurianual desta origem de água, sendo relevante que este novo ano hidrológico permita uma regularização significativa dos volumes armazenados».

Em Dezembro, o volume das barragens algarvias aumentou mais um pouco.

Os dados mais recentes das albufeiras pertencentes ao Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água e Saneamento do Algarve (SMAASA), gerido pela empresa Águas do Algarve, relativos a segunda-feira, dia 4, revelam que Odelouca está agora a 55,4% da sua capacidade total, Odeleite tem 51,34% e Beliche conta com 43,6%.

As outras barragens, destinadas à rega, também recuperaram. A da Bravura está a 21,4% da sua capacidade total, a do Arade a 27,5% e a do Funcho a 70,9%.

Novembro foi também o mês em que a seca, finalmente, “deixou” de vez o Algarve e o Baixo Alentejo – no fim de Outubro ainda havia partes do território mais a Sul de Portugal Continental em seca moderada -, segundo a mais recente atualização do Índice PDSI (Palmer Drought Severity Index), feita pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

No final de Novembro, o Sotavento Algarvio e a metade nascente do Alentejo, que há muito estavam em situação de seca, passaram a ter a classificação “Chuva Fraca”. A poente de Beja e no Barlavento Algarvio, a situação é, agora, considerada “normal”.

 

 

Ainda assim, continua a haver aquíferos subterrâneos em situação crítica, «onde persistem, ao longo de vários meses, níveis inferiores ao percentil 20», todos eles no Sul do país, principalmente na região algarvia.

As dez massas de água em situação crítica na bacia hidrográfica das Ribeiras do Algarve são: Campina de Faro – Subsistema Vale de Lobo; Campina de Faro – Subsistema Faro; Quarteira; Almádena – Odiáxere; São João da Venda-Quelfes; Albufeira-Ribeira de Quarteira; Almancil-Medronhal; Peral-Moncarapacho; Malhão;  e São Bartolomeu.

Todos eles são aquíferos que registam «níveis muito baixos» desde o início do ano hidrológico 2018-2019, «continuando sem recuperar».

Também há massas de água em vigilância, na bacia das Ribeiras do Algarve, nomeadamente as de Querença-Silves, Ferragudo-Albufeira, Mexilhoeira Grande-Portimão e Luz-Tavira.

Para garantir que a água que está armazenada à superfície e aquela disponível no subsolo durem o máximo de tempo possível, a Águas do Algarve está a adotar medidas de contingência para adaptar o sistema  «aos fenómenos de escassez hídrica, característicos da região do Algarve».

A curto prazo, a empresa responsável pelo sistema multimunicipal de abastecimento de água no Algarve pretende «promover a elaboração de um projeto para a instalação de um Sistema Temporário de Captação do Volume não utilizável/morto da albufeira de Odeleite».

 

Barragem de Odeleite / Imagem de arquivo – Foto: Flávio Costa|Sul Informação

 

Na prática, esta medida significa que seria possível aproveitar mais água desta barragem do que se consegue atualmente.

Por outro lado, a Águas do Algarve também contribuirá «para a promoção da  utilização de águas para reutilização (ApR) em usos urbanos não potáveis, de forma a reduzir a captação de água e a pressão sobre as atuais origens, tendo sido estabelecidos Protocolos de fornecimento neste sentido».

A reutilização da água tratada nas ETAR é uma das ideias chave do Plano Regional de Eficiência Hídrica (PREH) do Algarve, apresentado em Setembro, que preconiza o aproveitamento de esgotos tratados para múltiplos fins, nomeadamente para rega de campos de golfe, de algum tipo de culturas agrícolas e para usos urbanos, como a limpeza de ruas ou rega de jardins públicos.

Outras medidas de curto prazo previstas são a «avaliação da operacionalidade e definição do modelo de exploração das captações públicas de água subterrânea estratégicas para o abastecimento público» e o reforço das campanhas de sensibilização e comunicação «sobre a necessidade de redução de consumos de água na região, utilização responsável da água e aumento da eficiência hídrica», lê-se no relatório da Comissão Permanente de Monitorização da Seca.

A médio/longo prazo está em cima da mesa um eventual reforço da  interligação dos subsistemas de abastecimento do Barlavento e do Sotavento, para potenciar a transferência de água tratada dentro do SMAASA.

Por outro lado, será feito um estudo para construção de uma estação de dessalinização, a solução de aumento das disponibilidades hídricas no Algarve prevista no PREH que reúne maior consenso.

Por fim, a Águas do Algarve promete «articular e colaborar com a APA, no âmbito dos estudos que esta entidade pretende promover, para a avaliação das disponibilidades hídricas atuais e futuras, atendendo às alterações previstas para o regime de precipitação e alteração de temperatura, e a viabilidade técnica, ambiental e de sustentabilidade económica de uma solução ou combinação de várias soluções, que possam aumentar a reserva hídrica».

 

 

 

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