As árvores e a mania saloia de dar nomes “estrangeiros” às coisas

Tratar mal as suas árvores e jardins é um desporto a que todas as Câmaras algarvias (e não só) se têm dedicado nos últimos anos

Ai, esta mania tão saloia que nós, portugueses, temos de dar nomes “estrangeiros” às coisas, para as fazer parecer mais…giraças…

Vem isto a propósito da notícia de que Faro vai criar uma «Living Street», para convívio e atividades ao ar livre…e que até ganhou um prémio com este projeto.

Neste caso, acho curioso que Faro, que se tem dedicado a destruir as árvores que a cidade tem, algumas com largas dezenas de anos (veja-se a amputação feita às árvores no secular Jardim da Alameda, o arranque das pobres laranjeiras do Largo da Sé, a poda radical de outras árvores nas ruas. largos e avenidas (exemplo: largo da Estação e arredores), agora resolva fazer uma muito fashion “living street”…

Sublinho, para não lerem nesta minha crítica qualquer intenção partidária, que tratar mal as suas árvores e jardins, mais ou menos históricos, é um desporto a que todas as Câmaras algarvias (e não só), (quase) sem exceção, sejam elas de maioria PS, PSD ou CDU (veja-se o caso de Silves e do seu jardim…), se têm dedicado nos últimos anos.

Se se perguntar aos responsáveis autárquicos qual a razão para este ódio às árvores (que o arquiteto paisagista Fernando S. Pessoa, num artigo publicado no Sul Informação, já disse que se chama dendroclastia ou dendrofobia), todos responderão que a culpa é dos técnicos, que os técnicos é que sabem e que as árvores mereciam essa morte sem glória porque estavam doentes…

Pois é, meus senhores: mas as árvores também se tratam. Alguém tratou, atempadamente de forma constante, as que assim foram condenadas à morte?

E há técnicos e técnicos…

Além disso, há o bom senso…que deveria prevalecer sempre, sobretudo quando está em causa a qualidade de vida nas nossas zonas urbanas.

Para abater uma árvore, para lhe decepar o topo e impedi-la de crescer e de viver, são apresentadas as mais variadas razões, mas que têm sobretudo a ver com um mau hábito que as árvores têm: deixarem crescer as suas raízes, deformando pavimentos, deixarem cair as suas folhas e às vezes seiva e frutos (imagine-se!!!), sujando carros e ruas, deixarem cair, em dias de vento, uns ramos sobre os carros estacionados, e, cúmulo dos cúmulos, deixarem-se cair, elas próprias, sobre os carros, as ruas, as estradas… Resumindo: as árvores são espécimes de maus hábitos, que urge conter! E abater!

Neste caso da “living street” que a Câmara de Faro, tão ufanamente, anunciou, apenas espero que as árvores que já existem neste espaço e que se veem na foto não sejam sacrificadas…

Mas olhem que se podia fazer pior do que se faz no Algarve. Podia fazer-se como está a acontecer em Lisboa, onde também se tem sacrificado muita árvore (embora criando uns espaços verdes novos, batizados com nomes apropriados e politicamente corretos…), mas onde, depois, se cria as “city trees”, que são «estruturas de madeira, equipadas com diferentes tipos de musgo, que produzem oxigénio»…Para mais, cada “City Tree” purifica o ar de “sete mil pessoas por hora”. E uma árvore, verdadeira, que vivesse umas dezenas ou (sejamos malucos!) centenas de anos, quanto ar purifica???

Em relação à “Living Street” de Faro, só espero que seja o prenúncio de uma nova atitude do Município em relação às suas árvores… Não é que tenha muita esperança nisso, já que, como salientou há pouco tempo o movimento Glocal Faro, o projeto para a requalificação da Mata do Liceu passa pelo abate de 168 árvores

 

 

Autora: Elisabete Rodrigues é jornalista e diretora do Sul Informação

 

 

Ajude-nos a fazer o Sul Informação!
Contribua com o seu donativo, para que possamos continuar a fazer o seu jornal!

Clique aqui para apoiar-nos (Paypal)
Ou use o nosso IBAN PT50 0018 0003 38929600020 44

 

 



Comentários

pub