Podas do arvoredo urbano: a saga continua

Ano após ano, assistimos a estas desoladoras caricaturas das árvores urbanas

Todos os anos, por esta altura, saem os arboricidas municipais, de serra em riste, a desancar no pobre arvoredo urbano.

As fotografias que se tiram hoje podiam ser as do ano passado, e pergunta-se mais uma vez: ninguém consegue pôr cobro a este triste espectáculo?

Os arquitectos paisagistas são os técnicos, em princípio, mais habilitados a tratar do arvoredo urbano, dos parques e jardins, é a essência da sua formação universitária e é – deve ser – um dos aspectos fundamentais da sua vida profissional.

Em quase todas as Câmaras Municipais, existem hoje estes profissionais e não imagino um arquitecto paisagista a pactuar com práticas lesivas da integridade do material vegetal. Então porque não são eles os encarregados da manutenção dos espaços verdes?

Outros técnicos do âmbito agrário são mais induzidos a práticas para formarem o comportamento das árvores, por vezes drasticamente, em fruticultura por exemplo. Mas não os arquitectos paisagistas.

Todos sabemos que se fazem podas de formação ainda nos viveiros, para conferir às árvores de alinhamento (a algumas espécies, não a todas) o porte adequado e fica por aí (salvo sempre situações de excepção) a prática de deformar o arvoredo ornamental. Já passou de moda, salvo para alguns jardineiros, a topiária…

Ano após ano, assistimos a estas desoladoras caricaturas das árvores urbanas; algumas Câmaras Municipais parece que, seja por ignorância, seja por desleixo ao tomar decisões, são incapazes de assumirem a tarefa de renovar o arvoredo urbano: vale mais mandar arrancar as árvores velhas, deformadas e/ou que estejam em locais impróprios e substituí-las por novos exemplares.

Deverá caber ao arquitecto paisagista indicar qual a espécie que melhor se adapta a determinada situação viária, se se trata de árvores de alinhamento, porque nem todas as espécies se adaptam facilmente a esse condicionalismo.

Agora plantar qualquer árvore em qualquer sítio, só porque sim, e depois ter todos os anos que aplicar esta técnica arboricida, é um tremendo disparate, que nunca mais vemos arredado dos nossos territórios municipais.

 

 

Autor: Fernando Santos Pessoa é arquiteto paisagista

 

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