Dendroclastia e Dendrofobia

Então num jardim frondoso, dos poucos que existem na cidade, faz-se um assassinato de árvores com esta dimensão!?

Foto nº 1 – Estoi

O meu amigo Dr. Raimundo Quintal, ilustre dendrologista e ambientalista madeirense, intitulou um artigo da forma que, com a devida vénia, aqui utilizo também neste texto, porque são duas palavras que explicam muito do que se passa sobre a índole façanhuda contra as árvores de ornamento, aqui pelas terras de Faro.

Dendroclastia significa “aversão à árvore” e dendrofobia significa “medo ou horror à árvore”. E recordo-me de ter lido em Alexandre Herculano que “o homem do sul tem horror à árvore” – mas, ao fim de tantas décadas de progresso civilizacional e desenvolvimento de conhecimentos sobre a Natureza, e, claro, sobre as árvores, já era tempo de os procedimentos terem mudado.

Há um vídeo oficial da Câmara Municipal de Faro em que um “agrónomo” debita fartos conhecimentos sobre “as podas de rolagem que são necessárias para a conservação das árvores”.

Ignora-se nessa longa dissertação, diz ele apoiado em muitos especialistas, que desde há décadas que as podas de rolagem, as arreias e outros termos deste tipo deixaram de fazer parte do léxico das árvores ornamentais.

Foto nº 2 – Jardim da Alameda, Faro

Poderão ser necessárias em fruticultura e eu disso não falo, mas os engenheiros agrónomos e engenheiros agrícolas (não apenas “agrónomos”) que devem saber de fruteiras, se quiserem saber de árvores ornamentais e de jardinagem, têm de estudar mais um bocado.

Por exemplo, devia ser reeditada e distribuída gratuitamente pelos serviços das Autarquias a obra “A Àrvore”, dos professores Caldeira Cabral e Gonçalo Ribeiro Telles, editada nos anos sessenta do século XX, e que o ilustre engenheiro agrónomo e professor catedrático Tomás Moreira classificou como uma espécie Bíblia dos serviços de jardinagem.

A fotografia nº1 que aqui apresento é a dos abortos ou vassouras em que são sistematicamente transformados os jacarandás de Estoi e não se percebe para quê. Não afectam moradias, nem incomodam ninguém e aquela ideia abstrusa de que, podados em vassoura dão mais flor, é uma treta completa.

Para não tornar este texto mais pesado, não publico a fotografia, mas sugiro que vão ver dois jacarandás na entrada do Refúgio Aboim Ascensão, devidamente podados (só pedem agora uma limpeza dos secos) e ver como eles se cobrem de flor. Ou então vejam na avenida central da baixa da cidade do Funchal, conheço aqueles jacarandás há sessenta anos, enchem-se de flor e apenas levaram a poda de formação inicial com que foram plantados.

Foto nº 3 – Jardim da Alameda, Faro

As fotos nº 2 e 3 são do jardim da Alameda, em Faro. Aqui o disparate brada aos céus! Então num jardim frondoso, dos poucos que existem na cidade, faz-se um assassinato de árvores com esta dimensão!?

Se os autores do acto estão à espera que eu venha aqui explicar razões técnicas e fundamentos para a minha posição, bem podem esperar, porque bastaria pedir aos alunos de arquitectura paisagista que digam alguma coisa sobre o assunto. A Câmara Municipal de Lisboa há décadas que abandonou esta prática.

Fica apenas a pergunta : havendo na Câmara Municipal de Faro tantos arquitectos paisagistas e alguns com larga experiência, porque é que não são eles os responsáveis pela manutenção dos espaços verdes e pelas árvores ornamentais?

 

Autor: Fernando Santos Pessoa é engenheiro silvicultor e arquiteto paisagista…e escreve com a ortografia que aprendeu na escola

 

 

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