Quota da sardinha duplicou mas sindicatos da pesca querem (muito) mais

Federação dos Sindicatos do Setor da Pesca volta a insistir no aumento da quota para 30 mil toneladas, em vez das atuais 12.705

A quota de pesca da sardinha para 2020 foi recentemente aumentada para as 12.705 toneladas, mais do dobro inicialmente previsto, mas este crescimento das possibilidades de captura continua sem convencer a Federação dos Sindicatos do Setor da Pesca, que insiste que o limite devia subir até às 30 mil toneladas ainda este ano.

Esta posição surge dias depois da publicação em Diário da República de um despacho assinado por José Apolinário, o secretário de Estado das Pescas, que estipulou que, a partir de dia 1 de Agosto, próximo sábado, a frota do cerco pode capturar mais 6405 toneladas de sardinha.

Este valor acumula com as 6300 toneladas desta espécie de peixe que os pescadores portugueses podem apanhar até dia 31.

Os sindicalistas dizem, no entanto, que o despacho em causa «insiste na imposição de limites de captura de sardinha para o resto do ano de 2020, muito para além do que seria aceitável», numa altura em que «o stock do recurso sardinha evidencia uma assinalável recuperação».

«O Governo, ignorando todas as evidencias, incluindo os recentes dados dos cruzeiros científicos realizados, que confirmam o que os pescadores insistentemente têm afirmado quanto à abundância do recurso sardinha, e não tendo em conta os sacrifícios feitos pelos pescadores nos últimos anos, insiste numa política de limitação das capturas de sardinha, que desbarata recursos e põe em causa a sustentabilidade económica e social do setor», acusa a federação.

No entanto, foi precisamente uma reavaliação do stock da sardinha solicitada pelos governos de Portugal e Espanha ao CIEM (Conselho Internacional para a Exploração do Mar) que deu conta da franca recuperação deste recurso.

Isso permitiu que a quota gerida em conjunto pelos dois países fosse aumentada das «10.799 toneladas para 19.100 toneladas», segundo revelou ao Sul Informação José Apolinário.  Esta quota é «referente a 2020» e Portugal tem direito a cerca de 66,6% do total, neste caso «a 12.705 toneladas».

Mas, para a federação dos sindicatos do setor, este aumento esteve longe de ser suficiente, insistindo que «as possibilidades de pesca da Sardinha, tendo em conta o estado actual do recurso e a sustentabilidade do mesmo, se deveriam situar, este ano de 2020, na ordem das 30 mil toneladas».

Esta não é, de resto, uma posição nova, uma vez que a mesma federação já havia vindo a público em Maio pedir o aumento da quota para este limite.

«Se o recurso mostra uma evidência recuperação, já reconhecido por todas as entidades relacionadas, porque não pescar o máximo possível, sem prejudicar o recurso?Insistir numa inapropriada política de restrição das capturas é insistir na “asfixia” de quem, todos os dias, luta e arrisca a própria vida, para tentar trazer o seu salário ao fim da safra», concluem os sindicalistas.

Visão bem distinta têm os armadores, que já se mostravam preocupados com o aumento da quota para as 6300 toneladas originais, num ano marcado pela Covid-19, que impossibilitou a realização dos tradicionais arraiais dos Santos Populares e limitou a atividade dos restaurantes.

Uma junção de fatores que levou a que o preço da sardinha em lota tenha estado bem aquém de outros anos.

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