Tavira sonha com um museu onde possa mostrar a sua cidade de Balsa

Escavações arqueológicas começaram hoje e duram até 5 de Setembro

As escavações para tentar perceber, exatamente, onde se ergueu a cidade romana de Balsa, há cerca de 2 mil anos, e a sua real dimensão começam hoje, dia 19, e vão durar até 5 de Setembro. Os trabalhos agora lançados deverão ser um primeiro passo para o nascimento de um novo museu arqueológico e de um campus visitável na zona de Torre de Aires, na freguesia da Luz de Tavira.

Esta segunda-feira, para além do início do trabalho de campo, está agendada para as 18h30, na Biblioteca Municipal Álvaro de Campos, a apresentação do projeto “Balsa – em busca das origens do Algarve”, a cargo do investigador João Pedro Bernardes, da Universidade do Algarve.

Nos próximos três anos, arqueólogos da UAlg, da Direção Regional de Cultura do Algarve (DRCAlg) e da Câmara de Tavira vão estudar o local onde se pensa que existiu Balsa, uma cidade que faz parte do imaginário dos tavirense e dos algarvios e que é fonte de muitas especulações.

Entre os especialistas, as opiniões sobre qual terá sido a real dimensão e importância de Balsa divergem. Certo é que há alguns dos vestígios ali encontrados que apontam para uma elevada importância da cidade, nomeadamente «moedas cunhadas com a imagem de Balsa e o facto de Estácio da Veiga ter encontrado coisas muito importantes e relevantes e que são hoje elementos centrais do Museu de Arquelogia de Lisboa, para onde foram levadas», segundo Adriana Nogueira, diretora regional de cultura do Algarve.

«Estas escavações podem não dar uma resposta cabal às dúvidas que subsistem sobre Balsa, como as pessoas quereriam, mas penso que darão algumas respostas», afirmou a mesma responsável, à margem da cerimónia de assinatura do protocolo de colaboração entre a UAlg, a DRCAlg, a Câmara de Tavira e o Centro Ciência Viva de Tavira, para a operacionalização e financiamento desta campanha.

 

 

Apesar da importância daquilo que foi descoberto por Estácio da Veiga, na segunda metade do século XIX, João Pedro Bernardes, coordenador da campanha, põe água na fervura.

«Não vale a pena estarmos já a pensar em voos muitos grandes nem em fazer de Balsa uma Conímbriga, quando ninguém sabe o que lá há, nem o que ainda poderá restar», disse ao Sul Informação o professor e arqueólogo da UAlg, à margem da palestra “A cidade romana de Balsa e a identidade mediterrânica do Algarve”, que proferiu em Maio conjuntamente com Cristina Tété Garcia (CEAACP/UAlg e DRCAlg).

A partir de hoje e nas próximas três semanas, os arqueólogos vão voltar ao local onde terá existido esta histórica cidade romana, depois de uma primeira incursão no terreno em 2016 e 2017, muito focada na prospeção geofísica.

Mas, desta feita, o grande objetivo é começar com as escavações arqueológicas, propriamente ditas.

«Ao abrigo do protocolo que foi assinado, pretendemos fazer prospeções geofísicas e escavações, para perceber o que é que temos naquele espaço e definir algumas estruturas. Numa prospeção feita anteriormente, percebeu-se que havia algumas estruturas», enquadrou Adriana Nogueira.

«Como isto é um projeto a três anos, muita coisa se poderá encontrar. Portanto, eu acho que neste momento é um pouco prematuro antecipar o que poderá existir lá. Em Setembro, quando terminar, vamos ver o que lá existirá, porque até entre os investigadores há opiniões diferentes», reforçou.

 

 

Também expectante quanto ao que se poderá encontrar na Quinta de Torre d’Aires, em cujos terrenos se pensa que se poderá situar Balsa, está Jorge Botelho, o presidente da Câmara de Tavira.

Até porque o protocolo que foi assinado «prevê a musealização, a cargo da autarquia».

«No limite, temos um local onde poderá ser apresentado aquilo que vai sendo encontrado, em progresso. Mas a nossa ideia é, no final, ter um campus visitável, com um centro interpretativo e um Museu Arqueológico, onde se conte a história de Balsa. Agora, como será, exatamente, teremos de ver o que se pode fazer, na altura», revelou o edil tavirense.

«Algumas peças já existem, foram retiradas de lá [por Estácio da Veiga e levadas para Lisboa] e poderão ser concentradas. Há moedas, peças de cerâmica, capitéis e outros vestígios. Nós sabemos que era uma cidade importante no que toca ao sal e ao peixe», disse.

E, apesar de a ideia passar por criar algo no próprio local onde existiu Balsa, não há a intenção «de alterar a paisagem. Queremos fazer algo como deve ser, de tranquilidade, para dar a ideia de como é que os romanos viviam na altura. Estamos a falar de uma encosta virada para a Ria Formosa e muito próxima dela», concluiu Jorge Botelho.

As escavações arqueológicas que tiveram hoje início vão contar com a participação de arqueólogos da UAlg, a DRCAlg e da Câmara de Tavira, bem como de alunos da universidade, numa lógica de campo-escola, como o que tem existido em Cacela Velha, onde também têm decorrido escavações.

No dia 5 de Setembro, será promovido um Dia Aberto, em que as portas do campo arqueológico de Balsa são abertas ao público em geral.

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