Arqueólogos vão tentar perceber onde está, afinal, a romana Balsa

Arqueólogos vão para o terreno do dia 19 de Agosto

Perceber, exatamente, onde se situou e qual era a verdadeira dimensão da cidade romana de Balsa é o objetivo da campanha arqueológica que vai decorrer entre 19 de Agosto e 6 de Setembro, na quinta da Torre d’Aires, em Tavira.

Os arqueólogos vão voltar ao local onde terá existido esta histórica cidade romana, depois de uma primeira incursão no terreno em 2016 e 2017, muito focada na prospeção geofísica.

Assim, pode dizer-se que, agora, «as escavações vão, finalmente, começar», como ilustrou ao Sul Informação João Pedro Bernardes, arqueólogo e professor da Universidade do Algarve.

Este especialista no período romano vai ser um dos coordenadores do projeto “Balsa, Recuperação e divulgação de uma cidade romana do Sudoeste ibérico – Projeto cultural para a coesão social e sustentabilidade local”, promovido em conjunto pela Direção Regional de Cultura do Algarve (DRCAlg), pela Universidade do Algarve e pelo Município de Tavira, e que conta com a participação do Centro de Ciência Viva de Tavira e dos proprietários locais.

As entidades envolvidas no projeto vão assinar esta sexta-feira, dia 26, em Tavira, um protocolo de colaboração «para o desenvolvimento de projetos conjuntos de cariz científico, técnico e formativo no âmbito da salvaguarda do património arqueológico, histórico e natural» deste sítio arqueológico, segundo a DRCAlg.

À margem da palestra “A cidade romana de Balsa e a identidade mediterrânica do Algarve”, que proferiu em Maio conjuntamente com Cristina Tété Garcia (CEAACP/UAlg e DRCAlg), João Pedro Bernardes explicou ao Sul Informação em que consistirá a campanha que começará a 19 de Agosto.

 

 

«Esta campanha vai assentar sobre as prospeções geofísicas feitas em 2016 e 2017, pagas pelo proprietário de então, que entretanto desistiu [de um projeto para instalação de estufas] e vendeu a propriedade», contou o arqueólogo.

Uma vez no terreno, a primeira coisa a saber é «quais eram os limites da área urbana de Balsa», tendo em conta que, «na verdade, ninguém sabe exatamente qual o tamanho da cidade e onde é que esta se situava».

«Depois, através da geofísica e das escavações arqueológicas, vamos tentar perceber o que ainda se preserva e onde se concentram os potenciais vestígios. Só depois disso é que podemos detalhar com mais pormenor um projeto futuro», disse João Pedro Bernardes.

Apesar de existir todo um imaginário à volta do que terá sido Balsa, a realidade é que se sabe muito pouco de concreto sobre esta cidade que existiu há quase dois mil anos no local agora chamado Torre d’Aires, à beira da Ria Formosa. Daí que seja importante perceber com o que se está a lidar.

«Não vale a pena estarmos já a pensar em voos muitos grandes nem em fazer de Balsa uma Conímbriga, quando ninguém sabe o que lá há, nem o que ainda poderá restar», acredita o arqueólogo da UAlg.

Na prática, o objetivo da campanha, «para já, é isolar o núcleo urbano de Balsa de todo aquele ruído que existe à volta, que era onde se situavam as villas e as casas particulares, que é algo que tem baralhado muita gente. A partir daí, é ver o que há dentro da cidade».

Os arqueólogos têm uma área grande para sondar. «Já temos identificado um conjunto de anomalias que correspondem a estruturas. Temos é de fazer sondagem sobre essas anomalias para perceber que tipo de estruturas são e o seu estado de conservação».

 

 

Apesar destas indicações, não é possível saber o estado de conservação dos vestígios arqueológicos. As estruturas podem, inclusivamente, «estar completamente destruídas», avisou João Pedro Bernardes, em declarações ao Sul Informação.

Outro objetivo, este mais específico, é tentar «resolver algumas incógnitas que pairam no ar, relativamente à zona portuária».

«Como esta era uma cidade portuária, a zona do porto era fundamental. Como estava junto da ria, tinha de haver um ancoradouro. E, na geofísica que já fizemos, aparecem algumas anomalias que podem corresponder a essa infraestrutura», segundo o arqueólogo.

A campanha visa, igualmente, «promover, através do seu estudo e divulgação, o reforço da formação da comunidade em geral e da população escolar em particular, contribuindo para a sua autoestima, coesão social e para o diálogo intergeracional», explica a DRCAlg, não estando colocada de parte a possibilidade de criar um campo-escola.

O protocolo que será assinado esta sexta-feira prevê a realização de escavações em 2019 e 2020.

«No final desta primeira fase, está previsto fazer uma exposição sobre Balsa no Museu de Tavira. Os dados que recolhermos, independentemente da dimensão, vão permitir, pelo menos, criar um pequeno centro interpretativo no próprio museu», disse João Pedro Bernardes.

Quanto a um centro interpretativo de Balsa, no verdadeiro sentido da palavra, este só avançará «numa segunda fase e se se justificar».

Para o trabalho de campo a realizar em Agosto, estão destinados cerca de 60 mil euros. Esta verba está incluída numa candidatura de 237 mil euros, que contará com 60% de co-financiamento do Programa Operacional CRESC Algarve 2020.

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