Balsa tem «anteprojeto» para criar Centro Interpretativo, mas ainda está tudo por definir

Nos últimos trabalhos arqueológicos, de Maio de 2016 a Maio de 2017, encontrou-se «muita cerâmica», ânforas do século I e […]

Nos últimos trabalhos arqueológicos, de Maio de 2016 a Maio de 2017, encontrou-se «muita cerâmica», ânforas do século I e descobriu-se o sítio onde se localizava o forum da antiga cidade romana de Balsa, situada na zona onde hoje fica a Luz de Tavira. Agora, há um «anteprojeto» para continuar os trabalhos, delimitar os limites da cidade e até criar um Centro Interpretativo. Só que, para já, não há quase nada definido. Nem se sabe de onde virá o dinheiro.

O Centro Ciência Viva de Tavira foi pequeno para acolher tantos interessados em ouvir as novidades de Balsa, dadas a conhecer este sábado, 20 de Janeiro.

Vítor Silva Dias, o diretor dos últimos trabalhos arqueológicos, explicou que, nestes, se comprovou a existência de «estruturas murais» e de «vias que se prolongam para Este». Além disto, está «praticamente garantido» o local onde se situava o forum: perto da torre da Quinta da Torre D’Aires.

«Isso documenta a centralidade da cidade e a importância política e social que teve», explicou, ao Sul Informação, à margem da sessão. Para Vítor Silva Dias, os «resultados atestam a necessidade de continuar a estudar Balsa».

Opinião idêntica tem João Pedro Bernardes, professor do Departamento de História Arqueologia e Património da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, e consultor científico dos últimos trabalhos feitos em Balsa.

Apesar das escavações feitas recentemente, permanece uma dúvida: qual é o perímetro de Balsa? É por aí que querem começar os futuros trabalhos deste «anteprojeto», cujo objetivo é «desembocar» na construção de um Centro Interpretativo, mas também na criação de um Campo Arqueológico já numa segunda fase.

Jorge Botelho, Cristina Garcia e João Pedro Bernardes

«Fala-se que era uma cidade com muitos hectares, mas ninguém sabe qual era o perímetro exato. Só depois desta informação podemos avançar para uma segunda fase», explicou ao Sul Informação. 

Para se chegar a esta informação mais detalhada, um dos objetivos é fazer levantamentos geofísicos, que têm por base técnicas de georradar, nos terrenos vizinhos da Quinta da Torre d’Aires, onde decorreram as últimas escavações.

Dessa forma, consegue-se logo saber que zonas podem ter mais vestígios arqueológicos, sem ter de escavar o terreno.

Só que o próprio avanço destes trabalhos está dependente de financiamentos. «Estamos numa fase em que vamos lançar as candidaturas», adiantou João Pedro Bernardes.

Cristina Garcia, da Direção Regional de Cultura do Algarve, também esteve presente nesta sessão, onde explicou que, no imediato, é possível candidatar o projeto ao CRESC Algarve 2020, com a Câmara de Tavira a encabeçar a possível candidatura. Até porque Balsa se inclui nas «prioridades de nível 1» desta linha de financiamento.

Depois, podem entrar outros financiamentos internacionais, a abrirem em 2019. Certo é que, segundo João Pedro Bernardes, «há boas perspetivas» para o financiamento do Algarve 2020.

Na opinião do arqueólogo, já nesta primeira fase «há muito trabalho a fazer». «Temos de ter uma equipa de, pelo menos, duas pessoas no terreno, em permanência. A solução de ter apenas uma pessoa durante 15 dias ou um mês a escavar e depois acabou, não é a melhor», adiantou ao nosso jornal.

E que custos estariam envolvidos? «Ainda não está avaliado. Isto é um projeto que vai avançando por módulos», explicou.

Todo o projeto poderá ter, ainda, outro entrave: o facto de os terrenos serem privados. Quer o da Quinta da Torre d’ Aires, onde já houve escavações, pagas pelo proprietário, quer os adjacentes, onde se quer descobrir os limites de Balsa.

Jorge Botelho, presidente da Câmara de Tavira, defende que os terrenos «devem passar para a esfera pública», expropriando os donos. Aliás, para o autarca, «o ministro da Cultura deve ser envolvido em todo o processo».

Quanto ao proprietário do terreno da Quinta da Torre d’Aires, João Pedro Bernardes adiantou que «há bastante abertura para, nesta primeira fase, pelo menos ver no que dá» este projeto.

O próprio processo de alargamento da Zona de Proteção, para garantir maior proteção da área arqueológica daqueles terrenos, ainda não está concluído.

Também ouvida pelo Sul Informação, Alexandra Gonçalves, diretora regional de Cultura do Algarve, explicou que, por agora, vigora uma «Zona Especial de Proteção Provisória, de 233 hectares, mas as suas regras «ainda estão em fase de definição».

Ainda assim, a responsável diz «ver com bons olhos este projeto», se bem que… «continua a ser um espaço privado», como fez questão de referir.

Se tudo isto chegar a ver a luz do dia, a ideia é também envolver a população e as escolas numa «recuperação da memória» daquilo que terá sido a cidade romana portuária de Balsa.

Para Jorge Botelho, «se fizermos um plano consistente, sem pressas, mas com uma linha, chegamos lá. Balsa merece um centro interpretativo, um grande plano arqueológico e trabalhos permanentes financiados por fundos locais, europeus e nacionais», reforçou.

Mas, como sublinha João Pedro Bernardes, tudo isto é (apenas) um «anteprojeto: um corpo de intenções, que se poderá configurar no projeto a implementar no terreno».

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

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