Da palhinha entalada no nariz de uma tartaruga nasceu um projeto ambiental vencedor

Chama-se Straw Patrol, ganhou uma menção especial no Prémio Terre de Femmes, da Fundação Yves Rocher, e nasceu… de um […]

Chama-se Straw Patrol, ganhou uma menção especial no Prémio Terre de Femmes, da Fundação Yves Rocher, e nasceu… de um vídeo em que uma tartaruga tinha uma palhinha entalada no nariz. Carla Lourenço, bióloga marinha do CCMar – Centro de Ciências do Mar na Universidade do Algarve, é a mentora do projeto, que quer alertar para a problemática do lixo marinho.

Além de idas às escolas – algarvias e alentejanas – o Straw Patrol promove limpezas de praia, como a que aconteceu este domingo, dia 19 de Março, a partir do novo parque de estacionamento da Praia de Faro, e onde foram recolhidos 267 quilos de lixo.

Esta foi mesmo a ação, na Ria Formosa, em que foi apanhada uma maior quantidade de lixo. «É um número muito maior do que o habitual», explicou Carla Lourenço ao Sul Informação. As 14 pessoas que participaram na iniciativa recolheram, por exemplo, quatro pneus, um rádio, mas também «muitos restos de madeira do passadiço da Praia de Faro»…deixados pelas obras.

A isto, juntaram-se «pacotes de sal usados pelos mariscadores para apanhar lingueirão», «brinquedos de 2004 e 2008» ou «várias dezenas de garrafas de plástico», que ajudam a explicar o porquê de terem sido recolhidos 81 quilos de plástico. Já as idades dos participantes «rondaram os 20, 30 anos».

É que o plástico é mesmo um dos principais males que este projeto quer combater. Carla Lourenço, em entrevista à Rádio Universitária do Algarve (RUA FM), explicou que algo que «parece tão simples e descartável» como uma palhinha, presente, por exemplo, nos pacotes de sumo, «traz muitos problemas».

Até porque, além de ser feita de plástico, é revestida também por um plástico. Nas praias algarvias, é comum encontrar várias palhinhas, vindas de estabelecimentos comerciais ou levadas pelos banhistas, que podem ser comidas por animais, como a tartaruga.

«Há aves marinhas que morrem todos os anos por causa do lixo. Achamos que é muito importante passar a mensagem de que o lixo marinho é um problema», considera Carla Lourenço.

A equipa que participou na última limpeza

Às palhinhas, juntam-se outros objetos mais caricatos que têm sido “apanhados”, quando as limpezas são em zonas estuarinas da Ria Formosa, como televisões. Já quando as limpezas são nas praias, é comum encontrar cordas, restos de aprestos de pesca, galochas e até… cotonetes.

Os microplásticos são, também, um problema. Presentes em cremes esfoliantes ou em pastas de dentes, chegadas ao sistema de esgoto, estas pequenas partículas, com menos de cinco milímetros, vão parar ao oceano e «podem ser comidas por peixes», explicou Carla Lourenço ao Sul Informação.

«Depois, outros peixes podem comer os peixes que já ingeriram os microplásticos e gera-se um ciclo que pode chegar ao nosso prato», disse.

E o grande problema é que essas partículas «funcionam como esponjas dos contaminantes da água do mar. Os cientistas ainda não sabem como é que isso nos afeta diretamente, mas já vimos que os peixes ficam mais lentos, e, por exemplo, as ostras reproduzem-se 50% menos», acrescentou a bióloga marinha.

Através de três pilares (educar, reduzir e proteger), que até fazem parte do nome do Straw Patrol, o projeto quer alertar para estas realidades.

«Na parte da educação, vamos a escolas e damos palestras sobre a problemática do lixo marinho, falando dos problemas, das consequências e do que podemos fazer para melhorar a qualidade de vida dos organismos marinhos», disse Carla Lourenço.

Assim, às idas que estão marcadas para escolas de Faro, juntam-se outras já realizadas, como em Vila Nova de Milfontes ou no Cercal do Alentejo.

Este pilar associa-se logo à questão do “reduzir”. «Sabemos que, por promover a educação e o conhecimento, estamos a levar à redução do consumo de plástico. Temos pessoas que vêm ter connosco dizendo-nos que já não usam palhinhas e que passaram a adotar práticas sustentáveis e amigas do ambiente», explicou.

Apesar de, na opinião de Carla Lourenço, a costa algarvia «não ser tão poluída», em termos de quantidade, como outras zonas, com o litoral alentejano a servir de exemplo, a verdade é que esse fenómeno «também se nota no Algarve».

O prémio que o projeto venceu servirá para investir na área da educação. Os 3 mil euros serão usados para «ajudar nas deslocações às escolas», revelou Carla Lourenço. Quanto à distinção, a bióloga marinha disse que «não estava
à espera» e que foi «uma grande surpresa».

E para o próximo ano letivo, haverá um grande aliciante: o Straw Patrol vai usar o dinheiro que ganhou com a menção especial para criar um prémio monetário ao qual os alunos podem concorrer. Para tal basta submeter trabalhos que ajudem a sensibilizar para a proteção dos oceanos.

 

Fotos: Pedro Lemos|Sul Informação

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