Há sítios arqueológicos subaquáticos na embocadura do Arade que podem atrair turistas

O sítio arqueológico submerso Ponta do Altar A, situado na embocadura do rio Arade, frente à praia dos Caneiros, é […]

Mergulhador com a ânforaO sítio arqueológico submerso Ponta do Altar A, situado na embocadura do rio Arade, frente à praia dos Caneiros, é «perfeitamente valorizável» do ponto de vista turístico, garantiu o arqueólogo subaquático Cristóvão Fonseca em entrevista ao Sul Informação.

Debaixo de água, a uns seis a oito metros de profundidade, há três canhões de ferro, resultantes de um «naufrágio em época moderna» (século XVI/XVII), que podem ser vistos por banhistas usando «uns óculos de mergulhar e umas barbatanas». «Se houver um painel na praia a explicar o itinerário subaquático, depois o turista, com uma pequena prancha que explique, vai ao sítio e percebe que houve ali um naufrágio ao ver aqueles canhões», acrescentou.

Dentro do estuário do Arade, ali a dois passos, e cheio de vestígios arqueológicos subaquáticos, «não se pode fazer isso, não se pode pôr ali turistas a mergulhar de óculos e barbatanas, por causa das condições de visibilidade das águas, mas também devido ao tráfego de barcos constante», explica Cristóvão Fonseca.

Para o arqueólogo subaquático, porém, apesar do muito que já se sabe sobre os vestígios submersos junto à embocadura do Arade, «toda a costa de Portimão está por trabalhar».

Por isso, em terra, os investigadores do Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar (CHAM), em conjunto com o Museu de Portimão, têm estado a fazer um «levantamento junto de pessoas que estiveram ligadas a esta realidade do mergulho, uma delas é o Hélder Mendes», mergulhador e ex realizador da RTP que nos anos 70 do século passado filmou pela primeira vez, debaixo de água, os vestígios subaquáticos no rio Arade. «Cruzando informação, conseguiremos identificar mais sítios potenciais».

Cristóvão Fonseca, a par de José Bettencourt, foi o responsável pela campanha de arqueologia subaquática realizada pelo CHAM, unidade de investigação interuniversitária da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, no rio Arade durante as duas primeiras semanas de Setembro, no âmbito do projeto «Entre o Mediterrâneo e o Atlântico: uma aproximação ao património cultural subaquático do estuário do rio Arade».

 

Canhão_Arade2016Foto2b

O objetivo desta curta campanha foi «fazer um ponto da situação sobre todos os sítios» arqueológicos já identificados em anteriores trabalhos no estuário do Arade, em especial o GEO 5 e o Arade B, mas também fora, com o Ponta do Altar A (onde foi feito o registo arqueográfico) e B, também à volta do Leixão da Gaivota. Além da avaliação, houve ainda trabalhos de «prospeção e de recuperação de espólio em risco».

Do sítio Arade B, que foi um fundeadouro dentro do rio, desde a época romana até à época moderna, já lá foram identificados «alguns conjuntos de roldanas com cabos, âncoras, cerâmicas dos séculos XVI e XVII e madeiras de navio ibero-atlântico características dessa época», o que indica poder ter sido um «sítio de naufrágio da época moderna».

Mas, tendo em conta a quantidade de ânforas, os investigadores pensam que terá sido também «um sítio de naufrágio da época romana», e, nesse aspeto, muito, muito interessante.

Naquele local, ao longo de campanhas em anos anteriores, já foram identificadas – e retiradas do fundo do rio – 13 ânforas, «algumas delas completas e todas da mesma tipologia (Dressel 7-11). Este ano, os arqueólogos retiraram mais uma ânfora , «praticamente completa», revelou ao Sul Informação.

O problema é que o local onde fica o sítio arqueológico Arade B continua, nos tempos atuais, a ser «um fundeadouro e é difícil balizar a área para evitar que os barcos ali fundeiem. Se tivéssemos mais trabalho feito, conseguiríamos uma definição, uma circunscrição do espaço e poderia ser balizado de modo a não se poder fundear por cima do sítio», admite Cristóvão Fonseca.

Na situação atual, salienta, «se uma daquelas ânforas leva com um ferro em cima, fica em estilhaços», por isso os arqueólogos retiram do fundo «o material que nos dá mais informação».

«Enquanto não pudermos fazer trabalhos mais sistemáticos e durante mais tempo, enquanto não for possível fazer sondagens por escavação, não conseguimos sair disto: apenas se salvaguarda o registo desse espólio e algum material que vamos recuperando».

 

Mergulhadores_Arade2016Foto1b

No sítio GEO 5, foi constatado pela equipa de investigadores que «um navio de madeira cavilhado a liga de cobre, possivelmente do século XIX, apresenta a sua estrutura naval atualmente muito exposta e por isso em progressivo estado de degradação, mas oferecendo uma oportunidade única de estudo».

E nestas duas semanas de trabalho foi ainda feita uma descoberta: foi identificada «uma âncora inédita, possivelmente do século XIX, ao largo do Leixão da Gaivota».

A equipa que esteve a fazer esta campanha foi constituída por seis elementos fixos, dos quais três alunos do curso de Arqueologia da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Nova de Lisboa, e os restantes arqueólogos subaquáticos do CHAM, bem como por três elementos do Museu de Portimão. Debaixo de água, sempre que os fogos lhes davam descanso (ambos são bombeiros), estiveram os técnicos do Museu Nuno Silva e Rui Nicolau, enquanto em terra, esteve Andreia Machado, técnica de conservação e restauro. Foi no Museu de Portimão que funcionou também a base de apoio logístico da equipa para esta campanha.

Apesar do curto espaço de tempo, Cristóvão Fonseca considera que «a campanha realizada cumpriu com os objetivos inicialmente definidos de reavaliação do património arqueológico do estuário e embocadura do rio Arade, assim como de reconhecer a potencialidade de implementar um projeto que promova a investigação a sensibilização pública para a temática do património cultural subaquático». «Tivemos bastantes resultados e a campanha foi muito proveitosa», garantiu, na sua entrevista ao Sul Informação.

Mas, para que um projeto de fôlego possa voltar a ter lugar no Rio Arade, de modo a investigar, dar a conhecer e valorizar o seu enorme património subaquático, terá que haver, salienta o arqueólogo, «uma congregação de esforços no sentido de angariar maior sustentabilidade e procurando assegurar uma abordagem mais profunda, alargada e contínua».

 

Mergulhador_Arade2016Foto3b

Apesar de todas as boas vontades que, desta vez, foram reunidas, para levar a cabo a investigação sistemática que a riqueza submersa do Arade merece, é preciso dinheiro, que garanta meios e mais tempo aos arqueólogos. Não pode ser o «toca e foge» atual, de duas semanas intensas, mas insuficientes.

De qualquer modo, esta campanha contou com o apoio de várias instituições, nomeadamente o Museu de Portimão, a Câmara Municipal de Portimão, a Junta de Freguesia de Portimão, o Clube Naval de Portimão, a Associação Arqueológica do Algarve, o Grupo de Amigos do Museu de Portimão, a empresa de arqueologia Archeosfera Lda, o Clube Subaquático de Mergulho Portisub, a Capitania do Porto de Portimão, a Administração dos Portos de Sines e do Algarve, a Direção-Geral do Património Cultural e o Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática.

Para o ano – espera-se – há mais!

 

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