T4-E1: Coimbra>>Sernadel
Cá estou eu outra vez. Voltando a utilizar a nomenclatura das netflixes e afins, esta é a temporada 4 das aventuras d’O Caminhante.
Recordando as anteriores, a primeira foi de Sagres a Santiago do Cacém, a segunda de Santiago do Cacém até Vendas Novas, a terceira de Lisboa a Coimbra, e agora é o primeiro episódio, de Coimbra até…
Se está a ler isto pela primeira vez, recordo que todos os percursos foram feitos a pé e é por isso que está ali o até… até as perninhas (e a minha provecta idade) deixarem, porque os caminhos são longos e nunca se sabe o que acontece.
Mas, como otimista militante que sou e usando uma expressão que esteve na moda em tempos idos: “vai correr tudo bem!”.
Desde Janeiro que esta viagem estava programada, mas tenho tido grandes dificuldades de agenda, porque esta vida de reformado não me dá descanso. Então tive que me impor um ultimato: é agora e pronto, estou a caminho.
Fui de comboio até Coimbra, tendo sido curiosa a reação dos estrangeiros quando passámos do túnel do Pragal e começámos a atravessar a ponte 25 de Abril. Ficou tudo de galga no ar, a apreciar o Tejo e Lisboa.
Já em Coimbra, ao dar umas voltas antes de me deitar, fiquei espantado com a quantidade de restaurantes coreanos (a novidade) e japoneses que por lá havia.
Indo agora ao que interessa, a caminhada desta vez é completamente “a solo”, desde o início sem amigos ou família, mas, mesmo no princípio, passou por mim um dos sete peregrinos que encontrei hoje – e isto sem falar daqueles que iam em sentido contrário, para Fátima. É uma verdade, nunca estás só no Caminho.
De manhãzinha, tudo perfeito: céu nublado, tempo fresco, o Mondego a parecer um espelho, montes de aves no ar. Mesmo as estradas faziam-se bem.
Na parede de um viaduto, alguém escreveu a seguinte frase: NO CAMINHO NÃO EXISTE IDADE. Deve ter sido algum velho que a escreveu, mas olhem que existem diferenças. Os sete peregrinos que encontrei eram representativos da espécie humana: havia gordos, magros, altos e baixos, homens e mulheres, portugueses e estrangeiros. E todos a andar sozinhos…
Entretanto, fui-me divertindo a apreciar as muitas bandeiras do Sporting hasteadas em casas particulares e as imaginativas decorações nos seus jardins. Hoje ganhou uma casa que tinha um canhão no relvado, com o pormenor da bala a sair do cano!!!
Houve parte do Caminho ao longo da EN 1, onde um camião enorme, um monstro com uma série de rodas, travou para me permitir atravessar a estrada (fiquei sensibilizado!), mas houve partes onde não se via vivalma. Numa dessas, de repente, oiço alguém a falar muito alto e passa por mim um ciclista todo artilhado que parecia que estava a fazer uma reportagem. Ainda o ouvi dizer “…e acabo de passar por um peregrino…”.
Noutro registo, na capela da Mala, havia um cartaz a avisar que água estava disponível, bastando abrir o portão lateral. Fiz isso, soube bem e obrigado a quem teve a ideia.
Outra coisa, a malta que se queixa do estacionamento no Algarve devia ter em atenção que aqui até tem de haver parques para equinos e ovinos.
Pegando na frase que estava no viaduto, fazia-me jeito menos uns vinte anitos, pois o sol tinha rompido, estava um calor dos diabos e depois de passar por Adémia, Trouxemil, Sargento Mor, Santa Luzia e Lendiosa já estava era com a mira no leitão.
Passei pela Mealhada e, para a malta que está com inveja da foto do almoço, façam 26 quilómetros a pé, que depois o bicho tem logo outra perspetiva. Atenção: Tenho a dizer que, em termos nutricionais e para compensar, comi a salada de alface e cenoura toda, mais outra salada, de fruta.
Amanhã há mais…