Culatra tem plano para ter turismo sustentável, mas precisa da ajuda dos visitantes

Plano de Ação para o Turismo Sustentável na Ilha da Culatra foi apresentado na segunda-feira

A estratégia envolve, como se esperaria, os culatrenses e os agentes turísticos que operam na ilha. Mas o Plano de Ação para o Turismo Sustentável na Ilha da Culatra, que foi oficialmente apresentado no dia 30, segunda-feira, não se fica por aqui: quer envolver os turistas e os visitantes na difícil missão de “abrir as portas” ao turismo, sem pôr em causa a autenticidade desta comunidade piscatória e dos valores naturais que encerra.

A apresentação do plano de sustentabilidade decorreu durante um workshop, realizado no polidesportivo do clube União Culatrense, na Culatra, que também serviu para divulgar o programa “Formação + Próxima”, bem como para recolher (ainda mais) contributos, desta feita de representantes de diferentes entidades.

Afinal, uma palavra que está fortemente associada a todo o processo de elaboração do plano é participação.

«Este plano é um exercício que começámos há algum tempo e que é um documento estratégico. Aquilo que faz é propor uma série de medidas, que foram identificadas de forma participada pela comunidade culatrense», desde habitantes aos agentes turísticos, passando pelas três associações da ilha, revelou ao Sul Informação José Nunes, presidente da Make it Better, Organização Não Governamental, responsável pela elaboração e implementação do plano.

 

José Nunes – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Com estes contributos, criou-se um documento que quer «garantir que se protege a identidade deste núcleo piscatório, que está em risco, ao mesmo tempo que se garante que o espaço de que estamos a falar, que está dentro do Parque Natural da Ria Formosa e que é uma ilha com uma fragilidade muito grande, é respeitado por visitantes e turistas».

No fundo, e em linhas muito gerais, o plano pretende ser uma fórmula que permita «que os residentes vivam na ilha com conforto e com a sua privacidade respeitada, ao mesmo tempo que o visitante pode usufruir deste espaço, respeitando-o».

Neste momento, a implementação do plano está a dar os primeiro passos.

«O que nós estamos a começar por fazer é capacitar os atores locais – e aqui estamos a falar de todos: da comunidade, das marítimo-turísticas, dos pescadores, dos mariscadores, de residentes e alguns serviços locais – para que os produtos e serviços que oferecem estejam qualificados e que sejam eles próprios a passar ao visitante a mensagem de proteção, para garantir que entra no ouvido e fica na cabeça de quem cá vem», explicou José Nunes.

«Estamos a utilizar a prata da casa, que é toda a comunidade, para serem eles os elementos que capacitam e formam o visitante e que o sensibilizam para o facto de estarem a pisar um sítio frágil e com uma série de características muito próprias», acrescentou.

 

Os participantes no workshop – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Este trabalho faz-se no contacto direto, mas também através de uma campanha de sensibilização multiplataforma, que já está a decorrer.

Na Culatra, onde nos últimos dias decorreu o festival MaréS, está já a ser distribuído um “Manifesto de Visitante Responsável”, onde são elencadas as boas práticas e dados conselhos para uma estadia sustentável na ilha.

«Neste momento estamos a distribuir em papel, mas não queremos continuar a fazê-lo, embora se trate de papel reciclado. O manifesto vai estar disponível em QR Code em painéis à entrada da ilha, mas também no barco da carreira. Antes de entrar no barco, os visitantes vão igualmente ser confrontados com a mensagem, que é relativa à ilha da Culatra, mas é válida para todo o espaço da Ria Formosa. Depois, estará nas redes sociais e no site do Culatra 2030, que estamos a remodelar, de modo a dar espaço a mais informação sobre esta iniciativa», revelou o responsável pela Make it Better.

Outra dimensão do plano, que conta com seis eixos principais, é o da formação.

«Hoje apresentámos o seu terceiro eixo estratégico, o dos recursos humanos. Já foi protocolado com as escolas do Turismo de Portugal e com o município de Faro a aplicação desta formação localmente», anunciou José Nunes.

 

Daniel Queirós e Fernanda Costa – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

No âmbito do programa Formação + Próxima, iniciativa que, no caso da Culatra, junta a Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve (EHTA) e a Câmara de Faro, estão a ser (literalmente) oferecidas ações de formação orientadas às necessidades que os destinatários identificarem.

«O objetivo é descentralizar as formações damos. Em vez de serem feitas nas instalações da EHTA, estas ações vão até onde estão os formandos», explicou Fernanda Costa, da Escola de Turismo de Faro.

A ideia é criar ações específicas, «à medida das necessidades que forem identificadas» por quem as solicita. É aqui que entram as autarquias, que servem de ponte entre a EHTA e os agentes do setor turístico.

No caso de Faro, revelou Daniel Queirós, chefe da divisão de Turismo da Câmara da capital algarvia, já houve quatro formações, todas elas de curta duração – não mais de seis horas – e subordinadas a diferentes temas, que foram desde a “Introdução ao Marketing Digital” até à “Inteligência Emocional”.

A ideia é que sejam identificados os temas mais pertinentes para futuras ações de formação relacionadas com a Culatra.

Os autores e dinamizadores do plano estão ainda «preocupados e já a atuar quanto à questão da capacidade de carga da ilha», de modo a não matar “a galinha dos ovos de ouro”.

O plano tem uma duração de três anos, que podem ser prolongados, e está agora no início. «Esperamos que todos juntos consigamos levar as medidas previstas até à sua concretização».

O documento foi elaborado no âmbito do Projeto Sustowns, que visa promover um turismo mais sustentável em pequenas cidades costeiras de grande valor histórico, pequenas ilhas do litoral e pequenas cidades do interior, ao longo da bacia do Mediterrâneo.

 

 

 

 



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