Autódromo do Algarve quer ser o primeiro a nível mundial com «neutralidade carbónica»

Há muitos investimentos e projetos em curso, mas só os novos três núcleos de painéis fotovoltaicos equivalem a plantar 38.227 árvores

Paulo Silva, da SES Energia, e Paulo Pinheiro, da Parkalgar/AIA – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

O Autódromo Internacional do Algarve quer ser o primeiro circuito a nível mundial a ter «neutralidade carbónica», anunciou Paulo Pinheiro, CEO da Parkalgar, proprietária da pista de Portimão.

A intenção foi anunciada durante a apresentação, na semana passada, da comunidade energética do Autódromo, que está a ser desenvolvida em conjunto com a empresa especializada SES Energia.

Este projeto começou com a colocação de painéis fotovoltaicos nos edifícios do Centro Médico e Media Centre aquando do MotoGP, que decorreu em Março, prevendo-se agora a instalação de mais painéis, que serão colocados entre as curvas 2 e 3 do circuito.

A adição de mais painéis aos já existentes naqueles dois edifícios irá elevar o número total para 2000, evitando a emissão de 841 toneladas de CO2 – o equivalente a serem plantadas 38.227 árvores – e irá permitir ultrapassar um megawatt de capacidade de produção de energia instalada.

Paulo Silva, responsável pela SES Energia, explicou, em conferência de imprensa, que essa capacidade instalada irá assegurar 62% das necessidades da comunidade, «o que confere 45% de autonomia adicionais à autonomia que o autódromo já tinha nas outras instalações». Isso fará com que o complexo do Autódromo seja «100% autónomo na maior parte dos dias do ano, consumindo apenas 100% de energia renovável».

Ou seja, com a criação desta comunidade energética, o Autódromo e todos os equipamentos nele instalados ficarão totalmente independentes em termos energéticos, já que a eletricidade produzida será utilizada não só no circuito, mas igualmente no hotel, apartamentos, kartódromo e no Celerator, o pólo tecnológico que está em fase final de construção e será em breve inaugurado.

 

 

Paulo Pinheiro, CEO da Parkalgar, não tem dúvidas em afirmar que o Grande Prémio de MotoGP 2024, disputado entre 22 e 24 de Março no circuito algarvio, «foi o evento mais sustentável de sempre do campeonato mundial de MotoGP».

«Tínhamos exclusivamente scooters elétricas no paddock, os mototáxis à volta do circuito usavam exclusivamente combustíveis 100% renováveis, os carros que nós tínhamos de serviço no circuito utilizavam todos combustíveis renováveis», enumerou aquele responsável.

Por outro lado, contribuindo também para a sustentabilidade da prova internacional de MotoGP na pista algarvia, «toda a comida que não era consumida, através do protocolo que temos com o Banco Alimentar, era recolhida no final de cada um dos três dias do evento. E estamos a falar de largas toneladas de comida que foram entregues a essa instituição».

Outro aspeto teve a ver com o «sistema de recolha e separação dos lixos, que foi feito com recurso a uma empresa, que nos vai passar um certificado comprovando que mais de 90% de todo o lixo que foi aqui produzido teve um fim reciclável».

Aliás, salientou Paulo Pinheiro, «nos parques de estacionamento, onde as pessoas estacionavam, temos fotografias e fizemos os dados e a recolha, não havia lixo espalhado. Estamos a falar de um evento que teve mais de 80 mil pessoas aqui no domingo, a circular, o que é, na minha perspectiva, um motivo de orgulho para todos nós, para a nossa equipa e para o próprio espectador, porque, sem a participação ativa de todos, não tínhamos conseguido fazer isso».

Além das centrais de produção já instaladas nos telhados do Centro Médico e do Media Centre, em Maio começará a ser instalado o terceiro núcleo de painéis fotovoltaicos, pela SES Energia, para estarem concluídos «até ao final de Junho».

Paulo Silva adiantou que o investimento conjunto (Parkalgar e SES Energia) previsto na criação desta comunidade energética é de 1,3 milhões de euros, tendo «um período contratual de utilização de 15 anos», bem como «um período de payback na ordem dos 10, 12 anos».

Os novos polos de produção irão juntar-se a uma cada vez mais expressiva lista de ações e procedimentos ambientais, como a utilização de combustíveis sintéticos na frota de viaturas operacionais no circuito e kartódromo, a recolha selecionada de lixos ou o aproveitamento das águas pluviais, ações que pretendem levar à certificação ISO 20121 do Autódromo Internacional do Algarve.

 

Paulo Pinheiro, da Parkalgar/AIA, e Paulo Silva, da SES Energia – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

«A sustentabilidade não pode ser vista apenas e só como um negócio. Naturalmente, também tem que ter a componente do negócio, tem que haver um racional económico em todas estas coisas. A sustentabilidade é muito mais que um negócio, deve ser um pensamento a longo prazo», frisou o responsável pela SES Energia.

Mas o sonho de Paulo Pinheiro, o pai do Autódromo do Algarve, é ir ainda mais longe.

«Há aqui um segundo aspeto em que nós estamos muito empenhados: imaginem um dia de Agosto, quando temos uma quantidade de horas de sol com uma intensidade muito maior, portanto a produção elétrica é extremamente grande. O que nós, no parque tecnológico, queremos desenvolver, em conjunto com a SES, é criarmos packs de baterias de acumulação de energia», que armazenem «aquilo que não é consumido, nem por nós, nem pelo hotel, nem por nenhuma das outras estruturas, nesses dias de pico de produção».

Mas não se trata de umas baterias quaisquer. O projeto passa por utilizar «baterias de automóveis híbridos e elétricos que já perderam a sua validade» e às quais, atualmente, não se sabe muito bem o que fazer.

«Obviamente, à noite não conseguimos produzir eletricidade com a energia solar, mas teremos aquela energia que foi produzida de forma sustentável e que vamos voltar a usar, graças a essa segunda vida que queremos dar às baterias dos carros híbridos e elétricos», explicou.

«É um grande desafio para nós, mas é o próximo passo. Se conseguimos modularizar estes packs, é algo que depois toda a gente que tem este tipo de instalações terá que utilizar e só temos todos a ganhar com isso».

«Aí sim, é irmos até o fim da linha naquilo que é a sustentabilidade, pegando em produtos que, no ramo automóvel, já não tinham qualquer utilização, tinham que ser desmantelados, aos quais neste momento não se sabe que destino se pode dar. Nós daremos uma segunda vida e aproveitaremos, em benefício próprio, mas de uma maneira sustentável e equilibrada, com um racional económico para todos, esperamos nós».

«Este é o grande desafio no momento, é a última peça-chave deste puzzle, que é realmente muito excitante, para mim e para a Parkalgar», concluiu Paulo Pinheiro.

 

Painéis instalados no Media Centre do AIA

 

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