T1 E3 – Carrapateira>Arrifana
Foi duro. 24 quilómetros, 550 metros de subida acumulada, 500 m de descida acumulada. Classificado como “algo difícil”.
Logo à saída da Carrapateira, tivemos um problema. Lembram-se das melancias de ontem? A caixa onde iam, devidamente cortadinhas e prontas a comer, não vedou e derramou-se na mochila. Lá tivemos que improvisar uma limpeza a seco.
Iniciámos o caminho animados pelo canto dos piscos de peito ruivo…e bem precisávamos porque a subida era forte.
A equipa era a mesma e continuámos a encontrar muitos caminhantes. Só nos primeiros quilómetros, antes da Bordeira, cruzámo-nos com um brasileiro e três italianas.
Ao fim de 5 km, chegámos à aldeia, reabastecemos de água e tomamos um cafezinho. Foi aí que tivemos uma conversa muito interessante com o Francisco, um miúdo de nove anos que estuda em Lisboa, na Escola Alemã.
Continuando a caminhada, fui intimado pelos colegas biólogos a referir, cito, “o cheiro inebriante das estevas, dos eucaliptos e das figueiras” que fomos encontrando. O meu sistema de cheiro não é grande coisa, mas acredito no que eles dizem – e fiquei a saber que o medronheiro não deita cheiro.
Não deita cheiro, mas os medronhos que fomos comendo souberam muito bem. Pelo caminho, fomos apanhando uns marmelos, bem como umas pinhas para acender o churrasco previsto para a noite. E até a caixa da melancia foi cheia com caruma.
Começámos a equacionar fazer um desvio de 2 km para reabastecimento, mas o caminho, com as subidas e descidas, começou a fazer efeito e desistimos da ideia.
Mas a sorte também existe. Não é que nos deparámos, mesmo à beira do caminho, com o bar-restaurante “quarenta & quatro”? Se não tivéssemos comido as nossas sandes um quilómetro atrás, tínhamos almoçado ali, porque prometia. Assim, ficamos pelas tradicionais imperiais.
Uma nota muito importante: nós fazemos estas paragens técnicas porque gostamos de apoiar o comércio local, não nos levem a mal.
Apanhámos um troço de reta bem grande e até parecia que estávamos na Austrália: terra vermelha e eucaliptos de um lado e de outro.
Entretanto, as pernas e os pés começam a dar os primeiros sinais do esforço, acusando a brutal subida da praia do Canal. Nesta altura, já estávamos muito calados e introspetivos, variando desde “mas porque é que eu me meti nisto”, até “temos que tratar do churrasco”, passando por “vamos embora malta, que está quase”.
Nesta praia do Canal, estavam umas dezenas de surfistas e é muito interessante verificar a sua importância na região. Nos sítios mais remotos, lá estava um surf camp, uns alojamentos locais direcionados a este desporto, carrinhas a fazer o transporte do pessoal, toda uma economia assente nesta atividade.
Ao fim de seis horas e meia de caminhada, chegámos à Arrifana. Cansados, mas chegámos. A caminhante ainda foi dar um mergulho à praia, enquanto nós esperávamos no bar, ao som do “It’s a beautiful day”, dos U2.
Já agora: não é fácil arranjar um carimbo para documentar a Credencial do Peregrino. Desta vez, valeu-me a esposa do Senhor Virgílio, que telefonou ao marido para que ele me pusesse, na sede, o carimbo da Associação de Pescadores do Portinho da Arrifana e Costa Vicentina.
Leia também sobre os outros episódios da travessia da Rota Vicentina d’O Caminhante:
T1 E1 – Cabo de S. Vicente>Vila do Bispo
T1 E2 – Vila do Bispo>Carrapateira
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