Melancias

O Caminhante conta-nos como foi o segundo episódio da sua travessia da Rota Vicentina

T1 E2 – Vila do Bispo – Carrapateira

Depois de poucas horas de sono, o programa do dia apontava para 21,5 kms, duração aproximada de 7 horas e um percurso classificado como fácil.

A equipa foi totalmente renovada e hoje era constituída por mim e por dois biólogos, um terrestre e uma marinha. Isto quer dizer que era gente que chama aos bichos e às plantas aqueles nomes esquisitos em latim, mas estejam descansados que eu não vou nessa.

A coisa não começou muito bem, pois perdemo-nos em Vila do Bispo a tentar chegar ao campo de futebol, mas lá conseguimos encontrar as marcações junto ao museu que está em construção utilizando, segundo nos pareceu (e muito bem), a arquitetura tradicional da taipa.
O caminho era ao lado da estrada, meio arenoso, através dos matos e avistámos um papa moscas, um passarinho migrador, que deve ter vindo de Inglaterra e vai para África.

 

 

Passámos por alguns sítios cheios de medronheiros com os frutos vermelhinhos mesmo no ponto. É evidente que fomos petiscando uns quantos. Mas a maior surpresa foi, mais à frente, vermos umas belas melancias ao lado do caminho. Nitidamente, eram restos de alguma sementeira feita há anos, mas lá estavam, com a maior meio comida pelos javalis. Escolhemos uma que desse para nós e, contrariamente ao esperado, estava fresquinha e era mesmo doce. Foi o acompanhamento das sandes que levávamos.

Restabelecidas as energias, encontramos um painel com informação sobre um charco temporário. Isto é uma coisa muito simples mas muito importante para a biodiversidade, pois podem estar secos alguns anos mas, quando chove, pululam de vida, em especial com o aparecimento de uma espécie de camarão, com um aspeto mesmo pré-histórico.

 

 

Agora desculpem, mas vou dar um ar de especialista e, como o coiso só existe aqui nesta zona, tenho que lhe dar o nome em latim : Triops vicentinus. Isto de andar no meio de biólogos é contagioso.

Já estiveram mesmo junto a uma eólica? Acostumado a ver os parques eólicos da estrada não tinha a noção do tamanho daquilo. As torres são enormes e o barulho que fazem é bastante incomodativo. Não deve ser nada bom viver ao lado de uma coisa daquelas.

E assim chegámos à Pedralva onde, por unanimidade, foi decidido beber umas imperiais. Eu sei que o caminho implica sacrifícios, mas não se devem desperdiçar as oportunidades.

 

 

Como as ribeiras da Sinceira e Carrapateira estão secas, optámos por fazer a volta pelo vale, mais a direito, em vez de subir a serra, que é o caminho alternativo quando há cheias. Até parece impossível que as ribeiras possam alargar toda aquela área.

Se, até agora, tínhamos encontrado poucos caminhantes, passámos a encontrar muita gente de bicicleta, desde uma família com quatro miúdos, até um casal que levava o filhote num atrelado. Também encontrámos um pessoa da zona com um furo no pneu do carro, oferecemos ajuda, mas a situação estava controlada e fomos andando.

 

 

A paisagem continuava fantástica com os montes cobertos de pinheiros e, de acordo com o guião, deveríamos encontrar uma grande subida.
Já brincávamos a dizer que ela estava atrasada, quando apareceu. E foi dura, bem dura, a subida até ao marco geodésico, ao fim de vinte quilómetros. Mas lá em cima a vista sobre a terra e o mar valeu o esforço. E chegamos à Carrapateira, saudados por um bando de gralhas de nuca cinzenta.

O Caminhante

(Continua)


Leia também sobre os outros episódios da travessia da Rota Vicentina d’O Caminhante:

T1 E1 – Cabo de S. Vicente > Vila do Bispo

 



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