T1 E1 – Cabo de S. Vicente > Vila do Bispo
Isto é sobre “estórias” de caminhos e caminhantes mas, para a malta que não é adepta das séries, é necessário descodificar o T1 E1, que não é mais do que Temporada 1, Episódio 1.
Como nas séries de TV, há uns episódios piloto, para ver se o assunto tem pernas para andar (esta frase é mesmo adequada, não é?) e depois, se a coisa resultar, há uma continuação com várias temporadas.
Neste caso, os primeiros episódios servem para saber se as perninhas aguentam, e vamos ver até onde vou chegar. Para já, vamos seguir pela Rota Vicentina por um caminho que não é dos mais utilizado, o Caminho Histórico. Apesar de nalguns pontos este percurso acompanhar a mais famosa Rota dos Pescadores, achei mais interessante enveredar por zonas menos conhecidas, à espera de ver outras paisagens.
Tecnicamente falando, do Cabo de S. Vicente a Vila do Bispo são 14 km, com uma duração aproximada de 4 horas e classificado com “Fácil”. Saímos em pleno Festival de Observação de Aves, à espera de ver o pessoal a olhar para a passarada.
Mas não estava ninguém de nariz para o ar a ver a bicharada porque o dia estava carregado de nuvens, ameaçando chover, com muito vento, pelo que as aves quedaram-se quietinhas, porque as condições atmosféricas não convidavam a grandes voos.
E desatou a chover. Como é sabido, para um algarvio que se preze, qualquer pingo de água é um dilúvio. E tivemos mesmo um dilúvio. Muita chuva, vento forte, mas, com grande espanto nosso, chegámos à conclusão de que há muita gente doida, pois fomo-nos cruzando com outros (e outras, como se diz agora) que também andavam a caminhar mesmo com estas condições meteorológicas.
Mas caminhante é caminhante e lá fomos andando. A chuva durou umas duas horas, mas não se tornou muito desagradável, porque estávamos bem equipados e não fazia frio. Ao fim desse tempo, escampou, o vento secou-nos rapidamente, apareceu o sol e chegámos a Vila do Bispo já com os impermeáveis guardados nas mochilas e de camisola.
Umas palavrinhas para a paisagem, agreste, rude, como é timbre da Costa Vicentina, mas mais diversificada do que parece à primeira vista. Os matos estão bem e dá para perceber os diversos usos do solo: há zonas intocadas, onde há o esparto, zonas que já foram intervencionadas pelo homem, mas que o deixaram de ser e agora desenvolvem-se naturalmente, zonas recentemente usadas para a cultura de cereais (como o solo é pobre, só pode voltar a ser usado para este fim depois de ter sido deixado em pousio durante alguns anos), troços de areia, pinhal e algumas estradas…
Outro aviso prévio é que esta era para ser uma caminhada solitária mas, em boa hora e ainda bem, amigos e família resolveram tirar uns dias para partilhar a aventura. E assim, neste primeiro dia, a companhia foi muito abrangente, pois tínhamos gente da área do marketing, da arquitetura, dos jornais, do aprovisionamento, da educação e este escriba, (recém) reformado que se assina como:
O Caminhante.
(Continua)
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