Ana Varges Gomes critica baixo orçamento da futura Unidade Local de Saúde do Algarve

Presidente do Conselho de Administração do CHUA está de saída e até já se fala no nome do seu sucessor

Ana Varges Gomes – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

A ainda presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) criticou esta quinta-feira o baixo orçamento previsto para a futura Unidade Local de Saúde, a nova estrutura que vai gerir o setor na região algarvia a partir de Janeiro, juntando o CHUA e a Administração Regional de Saúde.

Falando na inauguração do novo Centro Oftalmológico do Algarve, que ocupa parte do Hospital Terras do Infante, em Lagos, e vai servir toda a região, Ana Varges Gomes salientou: «temos uma Unidade Local de Saúde (ULS) que vai entrar [em funcionamento] em Janeiro, com um orçamento expectável de 520 milhões de euros, para uma região que tem uma população residente de cerca de 450 mil habitantes e mais 400 mil, em média, que estão cá, mas que não são de cá».

Ora, acrescentou, «este orçamento é só metade daquilo que é o orçamento de outras ULS, cujos cuidados diferenciados não são exatamente os mesmos que nós», sendo menos exigentes e, portanto, precisando de menos recursos.

Além da população real do Algarve, que, em média, contando com os turistas e imigrantes, é o dobro da indicada pelas estatísticas, «nós somos fim de linha [em termos de cuidados diferenciados de saúde], não há ninguém para além de nós. Daqui, só para Lisboa».

Mas não foi apenas Ana Varges Gomes, que até está de saída da presidência do CHUA, a criticar o subfinanciamento do setor na região.

O socialista António Miguel Pina, presidente da Câmara Municipal de Olhão e da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), também não poupou nas palavras de crítica.

Aliás, a propósito do novo Centro Oftalmológico do Algarve, que só avançou porque 14 dos 16 municípios algarvios, através da AMAL, se chegaram à frente e garantiram grande parte do financiamento, António Pina já se tinha manifestado farto de que «sejamos sempre nós, os autarcas, a ser chamados para substituir as funções do Estado central».

Mas o presidente da AMAL foi mais longe: «é preciso repensar a forma como é financiado o Serviço Nacional de Saúde no Algarve, já que, nesta região, o SNS é «muito mal financiado em relação à nossa realidade económico-social».

É que, sublinhou o autarca olhanense, a futura ULS não vai servir apenas as 450 mil pessoas que as estatísticas dizem que residem na região. «Não sei mesmo se a ULS não irá servir um milhão de pessoas», avisou.

«Teremos de encontrar outra forma de sermos financiados», disse ainda, acrescentando: «nós, autarcas, temos de exigir ao Governo que o Algarve tenha outro tipo de financiamento». Na saúde e noutros setores.

 

Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

A médica oncologista Ana Varges Gomes não é a escolha do ministro da Saúde para a presidência da futura ULS, cargo que deverá ser assumido pelo economista António Ferreira, ex presidente da Comissão Executiva do Hospital de Braga. Ao que o Sul Informação apurou, do atual Conselho de Administração do CHUA, apenas deverá manter-se Paulo Neves, vogal executivo, na estrutura da nova ULS.

Mas Ana Gomes não quer deixar a presidência do CHUA sem dizer o que pensa sobre a situação da saúde no Algarve e o seu próprio trabalho. E, ao mesmo tempo, mostrar-se defensora de uma regionalização efetiva.

Na sessão de ontem, defendeu que a abertura do Centro Oftalmológico do Algarve é «sem dúvida, mais um exemplo de que, quando a região se une, consegue fazer coisas extraordinárias».

«Quando nós agimos como se fossemos uma região autónoma (no fundo era aquilo que deveríamos ser), podemos fazer coisas incríveis. E, neste momento, é isso que nós precisamos, é de nos juntarmos todos para fazermos coisas incríveis».

«Não precisamos de inventar nada: quando as regiões autónomas existem, há mecanismos através dos quais nós conseguiríamos contratar médicos, atraí-los para cá», recordou.

«O Algarve já demonstrou que é capaz. Mostrou isso na pandemia, quando foi capaz de montar um hospital de campanha em duas semanas e até deu resposta à capital. Mais uma vez, isso foi fruto do trabalho conjunto na região».

Só que, lamentou, «nós continuamos a contar pouco, porque, se este hospital de campanha tivesse sido em Lisboa ou no Porto, até medalhas de ouro tínhamos recebido. Nós, nem uma palavra de agradecimento recebemos da tutela. Fica para nós o bem que fizemos àquelas pessoas, que de outra forma não poderiam ter oportunidade de viver. E é isso que nos move, é isso que nos faz melhores», desabafou.

«Nós somos uma região e devemos agir como tal, porque, quando assim fazemos, somos muito fortes e conseguimos fazer muito muito bem. Porquê? Porque nós estamos a habituados a fazer muito com muito pouco».

A terminar, Ana Varges Gomes defendeu que o Algarve tem de «deixar de ser só o local das férias do resto do país e mostrar-lhes que somos muito mais do que isso».

Entretanto, para debater com os autarcas a difícil situação da Saúde no Algarve, o ministro Manuel Pizarro vai estar em Faro, na sede da AMAL, na próxima terça-feira.

 

 

Leia mais um pouco!
 
Uma região forte precisa de uma imprensa forte e, nos dias que correm, a imprensa depende dos seus leitores. Disponibilizamos todos os conteúdos do Sul Infomação gratuitamente, porque acreditamos que não é com barreiras que se aproxima o público do jornalismo responsável e de qualidade. Por isso, o seu contributo é essencial.  
Contribua aqui!

 



Comentários

pub