Centro Oftalmológico abriu no hospital de Lagos para acabar com as listas de espera

Centro inovador serve toda a região algarvia

Os autarcas com a presidente do CHUA junto a um dos novos equipamentos – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

No Algarve, há cerca de 10 mil doentes em lista de espera para uma consulta de oftalmologia, bem como perto de 2500 à espera de fazer uma cirurgia no âmbito dessa especialidade.

Os dados foram revelados esta quinta-feira ao Sul Informação por Ana Varges Gomes, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), pouco antes da inauguração do primeiro Centro Oftalmológico da região, que ocupa parte do Hospital Terras do Infante, em Lagos.

Aquela responsável espera que o novo Centro, que serve toda a região algarvia e já começou a funcionar no início deste mês de Outubro, «consiga recuperar toda a lista de espera de oftalmologia, no prazo de um ano, sensivelmente».

O Centro, que está dotado de duas salas de consulta e duas salas de bloco operatório dedicadas à Oftalmologia, dotadas com o equipamento mais moderno, representa um investimento de 1,2 milhões de euros.

A presidente do CHUA salientou que se trata de «um investimento que foi conseguido com o apoio dos Municípios», algo que também é inovador «porque foi a região que se juntou para resolver um problema da região». Dos 16 Municípios algarvios, apenas não contribuíram para o Centro Oftalmológico do Algarve os de Faro e Silves.

Ana Varges Gomes não quis alongar-se em comentários sobre a questão, dizendo apenas que «a participação não era obrigatória, era uma questão de vontade. Estes 14 foram os que se juntaram a nós».

E esclareceu: «Todas as pessoas da região vão ser tratadas, não há qualquer discriminação. Este centro é para todos os utentes da região do Algarve». Cheia de otimismo, acrescentou: «quando terminarmos as listas de espera, se calhar o Centro até será para os utentes de outras regiões que possam estar a necessitar também».

 

Sala cheia – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Numa sala cheia de autarcas de toda a região, António Pina, presidente da Câmara de Olhão e da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), salientou já estar farto de que «sejamos sempre nós, os autarcas, a ser chamados para substituir as funções do Estado central», financiando investimentos como este, que deveria ter sido assumido pelo Ministério da Saúde.

No entanto, como os autarcas são «incapazes de dizer que não» e «não há ninguém mais preocupado com os seus munícipes que os autarcas», o dinheiro apareceu e a obra fez-se…e já está a funcionar.

Hugo Pereira, presidente da Câmara de Lagos, recordou que «o desafio de criar este Centro Oftalmológico foi lançado pela Administração do CHUA, num primeiro momento, às Terras do Infante», associação de municípios que integra apenas Lagos, Aljezur e Vila do Bispo.

Mas depois, «atendendo à dimensão do investimento e às necessidades, envolveu-se nisto toda a região».

«Infelizmente, não foram todos, mas a grande maioria dos autarcas aceitou apoiar» o Centro Oftalmológico a funcionar no hospital em Lagos, acrescentou o edil.

No seu discurso na inauguração, a ainda presidente da Administração do CHUA recordou: «desafiámos uma equipa, de excelentes médicos, que embarcaram neste projeto connosco, que nos permitiram construí-lo, pensá-lo, fazê-lo de raiz com o espaço que tínhamos, adaptar, também foi preciso adaptar-nos uns aos outros e ao espaço, aquele que tínhamos».

«Quando pudermos fazer o balanço de um ano desta unidade, as listas de espera serão uma coisa do passado, a lista de espera que haverá será uma coisa natural e aceitável, nada daquilo que nós temos agora», vaticinou Ana Varges Gomes.

Mas o que tem este Centro Oftalmológico de novo? A responsável pelo CHUA respondeu: «Primeiro, todos os equipamentos que aqui estão são de última geração, portanto, são os mais recentes que existem».

Mas a própria forma como o serviço está organizado é inovadora em termos do Serviço Nacional de Saúde, já que «o circuito do doente permite aproveitar o tempo todo, não tem tempos mortos. O doente entra, é admitido, faz os exames que tem de fazer de pré consulta, e dali sai logo para consulta do médico. Não vai ter tempos mortos. Portanto, no fundo, rentabiliza-se muito mais», acrescentou.

«Qual é a vantagem? Temos uma equipa dedicada, com gabinetes dedicados, com duas salas de blocos dedicadas, enquanto nos outros sítios há as salas de bloco partilhadas, ou seja, disputadas por todas as outras especialidades cirúrgicas. Como nós temos poucos anestesistas, o rateio é sempre maior. Aqui são duas salas dedicadas só à oftalmologia».

 

Um dos novos blocos operatórios – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

O oftalmologista João Rosendo teve de suspender por momentos o atendimento aos doentes, quando as novas instalações foram visitadas pelos autarcas e jornalistas.

Em resposta a uma questão do presidente da Câmara de Aljezur, o médico adiantou que só na área das Terras do Infante, ou seja dos concelhos de Aljezur, Lagos e Vila do Bispo, há 1700 doentes na lista de espera. «Fora os do resto da região», esclareceu.

E trata-se de doentes que estão há muito tempo à espera? «Este doente que estava a ser agora atendido é de Março de 2020», respondeu. Mais de três anos à espera de uma consulta… As cirurgias às cataratas, por exemplo, demoravam no CHUA, entre três e seis meses.

A equipa atual do Centro de Oftalmologia do Algarve, além de enfermeiros e técnicos, é composta por quatro médicos, todos «nesta faixa de idades dos 30, 40 anos», acrescentou João Rosendo. «Temos outro colega que está a ponderar vir para cá, um pouco mais velho, mas com mais experiência de uma área específica da córnea. Esperemos que em 2024 isso aconteça».

Um dos autarcas que assistiu à inauguração da nova unidade do CHUA e cujo Município contribuiu financeiramente para a obra foi Francisco Amaral, presidente da Câmara de Castro Marim e ele próprio médico.

Aliás, um médico-autarca que foi pioneiro, então enquanto presidente da Câmara de Alcoutim, na resolução dos problemas de cataratas dos seus munícipes, como ele próprio recordou ao Sul Informação: «em 1999, contratei com uma clínica de Faro e mandei 70 doentes do meu concelho, alguns, pessoas que já estavam cegas há quatro ou cinco anos, fazer operações às cataratas». A iniciativa, inédita, de uma Câmara Municipal que se substituía ao Ministério da Saúde para resolver os problemas a que este não dava solução, deu brado e polémica a nível nacional.

De tal forma que «a ministra Manuela Arcanjo pediu a minha perda de mandato, argumentando que eu tinha ultrapassado as minhas funções. Como se as minhas funções, como autarca, não fossem resolver os problemas das pessoas…».

O que é certo é que «passados três meses, a Manuela Arcanjo já não era ministra. E eu, passados estes anos todos, ainda sou autarca».

Hoje, mais do que resolver o problema concelho a concelho, a solução passa pela união de todos, sob o chapéu da AMAL. Como disse a presidente do Conselho de Administração do CHUA, «se continuarmos a trabalhar em conjunto, podemos colocar o Algarve no mapa, mostrando que nós, com o mesmo dinheiro, conseguimos fazer muito melhor, porque há muitos, muitos anos, que fazemos muito com muito pouco».

 

Fotos: Elisabete Rodrigues

 

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