Municípios algarvios mais afetados pela seca resistem a aumentar tarifa de água

Aljezur e Lagos não decidiram ainda se vão acatar a recomendação do Governo para aumentar a conta de água dos grandes consumidores

Fonte em funcionamento numa cidade algarvia – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

O apelo do Governo é para que seja aumentada a tarifa de água para os grandes consumidores nos 43 concelhos mais afetados pela seca, mas Aljezur e Lagos, que estão nessa lista, admitem não o acatar, pelo menos na totalidade e antes de avaliar «alternativas».

Na quarta-feira, dia 24, na sequência da reunião da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento da Seca, os ministros do Ambiente e da Agricultura anunciaram 11 novas medidas para mitigar os efeitos da seca, que se juntam às 82 já lançadas.

Dez destas medidas destinam-se aos 43 concelhos «abastecidos por sistemas críticos» e, como tal, mais vulneráveis aos efeitos da seca, entre os quais se contam Aljezur, Lagos e Vila do Bispo.

Uma das decisões do Governo foi «recomendar o aumento da tarifa para os grandes utilizadores domésticos durante o período de seca», nomeadamente, «a partir do 3º escalão», ou seja, consumos de «15 metros cúbicos ou mais».

Da lista, fazia igualmente parte a recomendação aos municípios para que «apliquem medidas de suspensão temporária dos usos não essenciais de água da rede, designadamente lavagem de ruas, logradouros e contentores, rega de jardins e espaços verdes, novos enchimentos de piscinas, fontes decorativas e atividades com grande consumo de água».

Segundo Paulo Reis, vice-presidente da Câmara de Lagos, o concelho algarvio mais populoso entre os três visados, esta última recomendação não só é bem acolhida, como «já está a ser aplicada» neste concelho.

No entanto, a sugestão de aumento da tarifa da água acima do 3º escalão, gera algumas dúvidas.

«Já fizemos um levantamento, baseado em dados de consumo de Agosto, e há cerca de 4900 grandes consumidores no concelho, que consomem mais do que 15 metros cúbicos de água. Destes, cerca de 220 são contadores de rega de jardim e de piscinas», enquadrou, em declarações ao Sul Informação.

Segundo o autarca lacobrigense, há que «equacionar primeiro se não será possível reduzir os consumos aplicando outras medidas e se há ou não alternativa ao aumento do tarifário».

«Eventualmente, podemos optar só por aumentar os tarifários de contadores de piscina e de rega de jardim», admitiu.

No entanto, Paulo Reis não tem dúvidas de que terão de ser feitos sacrifícios. «Todos temos de nos convencer que temos de encher menos vezes as piscinas, regar menos e poupar água».

José Gonçalves, presidente da Câmara de Aljezur, afirmou ao nosso jornal que a sua autarquia ainda vai avaliar se «acata a medida ou não».

Isto porque, em Aljezur, «já há uma tarifa mais elevada para os grandes consumidores: vamos avaliar as situações, porque há grandes consumidores, como restaurantes, que podem ver o seu negócio ser inviabilizado com este aumento do preço da água».

Este foi, de resto, um dos temas abordados numa reunião da associação Terras do Infante, que junta os três municípios, realizada esta quinta-feira à tarde.

No entanto, avisou José Gonçalves, este problema não está circunscrito  a estes três municípios: «a falta de água é geral e a medida deve ser mais abrangente».

Uma mensagem que já havia sido transmitida ontem por Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente, que salientou que qualquer concelho pode seguir o exemplo. «Recomendaria essa medida para qualquer município do país», disse, na sequência da reunião.

Também o edil de Aljezur assegura que os municípios algarvios, «nomeadamente Aljezur, já têm estado a tomar medidas, como a redução das regas, dos gastos da própria Câmara e campanhas de sensibilização».

Estas medidas que têm vindo a ser implementadas na região algarvia foram acordadas pelos diferentes municípios, em reuniões da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve.

Mas há quem esteja disposto a ir ainda mais longe do que aquilo que foi recomendado pela AMAL, como é o caso de Loulé, que decidiu prolongar o fecho das piscinas interiores desta cidade e de Quarteira até ao final do mês de Setembro e encerrar as piscinas exteriores de Loulé e de Salir às segundas, terças e quartas-feiras.

Em Lagos, disse Paulo Reis, já está em curso a reformulação dos espaços verdes, de modo a torná-los menos dependentes da água.

«Estamos a reconverter alguns espaços verdes. Nos outros, estamos a deixar as plantas secar e depois veremos como faremos», explicou o vice-presidente da Câmara de Lagos.

«Já reduzimos em 60 ou 70% o volume de água que usamos para rega», acrescentou.

O mesmo se passa em Albufeira, onde estão em curso «intervenções nos espaços verdes», nomeadamente na Marina de Albufeira, onde a relva está a ser substituída «por outras plantas», para que «a rega não seja por aspersão, que desperdiça mais água, mas gota a gota», segundo revelou José Carlos Rolo, presidente da Câmara albufeirense.

Também há outros municípios dispostos a ir mais longe e a tomar novas medidas ou a intensificar as já em vigor.

Mas, ainda assim e um pouco por todo o Algarve, é possível ver fontes e repuxos a funcionar e espaços verdes a ser regados, com água a escorrer para a estrada, entre outras más práticas. Além do evidente desperdício de água, o que está em causa nestes maus exemplos é a mensagem contraditória que é passada à população.

 

 

 



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