Aljezur recorda mais 30 anos da sua vida em álbum fotográfico carregado de memórias

Livro é o resultado de dois longos anos de pesquisa junto das famílias aljezurenses

Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Algumas fotografias não têm grande valor enquanto tal, mas sim como memória de um acontecimento ou do dia a dia de uma população. É isso mesmo que se pode ver no livro «Aljezur 1970-2000 | Memórias» que foi lançado na sexta-feira, 19 de Agosto, naquela vila da Costa Vicentina, numa sessão muito participada, ao ar livre.

Este é o segundo volume editado no âmbito do projeto de investigação «Aljezur “entre visão“ do lugar e da memória – salvaguarda do património material e imaterial de um concelho (des)protegido», de que é investigadora responsável Maria João Pereira Neto, professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, investigadora do CHAM – Centro de Humanidades (CHAM – Nova FSCH), natural de Aljezur.

O primeiro álbum, lançado em Novembro de 2018, mostrava as fotografias guardadas nos baús das famílias aljezurenses entre 1869 e 1969, numa viagem de um século por imagens de um mundo ainda a preto e branco.

Agora, com esta nova edição, completa-se o ciclo, dando a conhecer mais 30 anos de vida, registada em fotografia, do concelho de Aljezur.

João Mariano, fotógrafo residente na vila e filho de uma família local (que também contribuiu para o livro) é proprietário da empresa 1000olhos, e, com a sua mulher Lénia dos Santos, foi responsável pela cuidada produção gráfica do livro e também pela recolha e seleção das fotos.

«Este volume, de 1970 a 2000, não existiria sem o primeiro», explicou João Mariano, salientando o facto de ter sido escolhida de propósito a data de 19 de Agosto, Dia Internacional da Fotografia, para lançar uma obra que tem sobretudo uma componente de imagens.

O livro é o resultado de «dois longos anos de pesquisa junto das famílias aljezurenses», através de «um imenso trabalho de recolha, seleção, digitalização, edição e identificação só possível graças a um vasto e abrangente trabalho de equipa que juntou técnicos, instituições, associações e as famílias do concelho de Aljezur».

 

João Mariano, Maria João Pereira Neto, José Gonçalves e Fátima Neto – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Maria João Pereira Neto salientou, por seu lado, com muita emoção, que o álbum é «uma obra coletiva, feita por todos, para todos, que irá ficar na memória de todos e na das gerações que hão-de vir».

No livro, a investigadora escreveu: «regressamos assim aos territórios da(s) memórias(s) individuais e coletivas do concelho de Aljezur, assumindo os ciclos dos tempos: de partidas, de mudança, de regressos, de sonhos e (des)esperanças, num futuro que teima em ser radioso».

Nesta baliza temporal de 1970 a 2000, continua Maria João Pereira Neto, «vislumbrou-se alguma possibilidade de progresso, que sempre tardou a chegar a um dos mais periféricos e deprimidos concelhos do Sul do país, sob o ponto de vista económico e demográfico».

João Mariano, lendo uma frase do texto que escreveu para o livro, disse: «As famílias de Aljezur voltaram a mostrar grande orgulho na sua terra, abrindo-nos as suas gavetas e mostrando de forma generosa e com o maior apreço as suas colecções de imagens. Em cada nova leva fomos descobrindo momentos nobres, situações de maior eloquência e vigor social, celebrações religiosas, desportivas e culturais, a fugacidade do dia-a-dia, o sentir emotivo de um cumprimento, o aceno à passagem dos dias, visitas a familiares, o trabalho do campo e do mar… Uma diversidade de eventos e situações que aqui agregamos de forma a podermos todos calcorrear as derradeiras três décadas de Aljezur do final do século passado, através destas 240 fotografias que tão eloquentemente sintetizam este período».

E, de facto, folheando o livro, há fotos de lugares, alguns deles hoje quase irreconhecíveis, de festas e celebrações, de jogos, atletas e equipas de futebol, de heróis e figuras locais, de turmas das escolas, de espetáculos e iniciativas das coletividades, de visitas ilustres quando Aljezur, finalmente, passou a estar na rota dos políticos, da construção de obras importantes e das suas inaugurações, dos trabalhos no campo e no mar, das alegrias da revolução de Abril, mas também do susto com as cheias na várzea ou com os incêndios.

As fotografias, muitas delas evidentemente amadoras, ali estão, em todo o seu esplendor e significado, sem correção cromática, nem retoques.

Como explica João Mariano no texto que assina no livro, «o tempo que foi derramado sobre as imagens permanece com elas. As marcas do manuseamento e as etiquetas que as identificam continuam a elas coladas…Estas imagens não precisam de maquilhagem nem de filtros de redes sociais. São belas com as suas marcas de vida».

 

José Manuel Fonseca a mostrar a sua fotografia de 1975 – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Porque se trata de um tempo, apesar de tudo, mais recente, há caras que se reconhece e alguns dos retratados nas fotos até estiveram presentes no lançamento do livro. Foi o caso de José Manuel Fonseca, que, abrindo orgulhosamente o livro, apontava para uma foto, com as cores esbatidas dos anos 70, onde aparece ao lado de outro jogador do Juventude Clube Aljezurense. «Este sou eu, há quase 50 anos…».

Ali quase ao lado, Fernando Barradinha, fundador e diretor do jornal local «Algazur», também folheava a obra, vendo as muitas fotos, da sua autoria e publicadas naquele periódico ao longo das últimas décadas do século XX.

Paula Marreiro, educadora de infância, sentada num banco com uma amiga, apontava para a foto de uma recriação da Via Sacra, nos anos 90, feita por jovens da paróquia. «Esta aqui, de costas, sou eu, fazia a Madalena. Foi daqui que me ficou o bichinho do teatro».

Na sua intervenção no lançamento do livro, que decorreu no Jardim da Liberdade, junto à ribeira de Aljezur e às suas pontes, José Gonçalves, presidente da Câmara Municipal, sublinhou que, nos dois volumes destas memórias fotográficas, estão «130 anos da nossa história, que ficam registados para a posteridade».

«É muito importante conseguirmos recuperar a nossa história, não deixar esquecer certos acontecimentos do passado», concluiu o autarca.

No final da sessão, o livro foi distribuído, parcimoniosamente, às pessoas presentes, muitas delas membros das famílias que contribuíram para o acervo fotográfico publicado na obra.

O livro vai ser vendido pela Câmara de Aljezur, bem como na loja Aljezur SW Portugal powered by 1000olhos, naquela vila. Mas ainda não se sabe quando.

A obra «Aljezur 1970-2000 | Memórias» resulta de uma parceria entre a 1000olhos – Imagem e Comunicação e a Câmara Municipal aljezurense, que tem um protocolo institucional com a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa desde Setembro de 2014.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

 



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