Há mais um casal de linces-ibéricos a “viver” em Alcoutim [com vídeo]

Sidra e Salao foram libertados perto do Pereiro, numa zona de caça turística

Um dos linces libertados – Foto; Cátia Rodrigues | Sul Informação

Às 15h00 desta terça-feira, 3 de Maio, estava tudo a postos para receber a Sidra e o Salao, um casal de linces-ibéricos que foi libertado na zona de caça turística do Pereiro, em Alcoutim.

Os animais, com treze meses de vida, foram, desde que nasceram, «treinados para ter medo dos humanos e para caçar», estando assim aptos para sobreviver sozinhos.

«Quando os libertamos na natureza, o esforço de caça que eles vão ter é muito idêntico ao que tiveram nos centros de treino, precisamente porque eles são treinados para não esperar que lhes seja oferecida a comida», explicou aos jornalistas Nuno Banza, presidente do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

À chegada ao local do concelho de Alcoutim onde foram libertados, os linces tinham já à sua espera dezenas de pessoas, incluindo um grupo de alunos do Agrupamento de Escolas de Alcoutim, bem como Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e da Ação Climática.

Após ter ajudado a soltar um dos animais, que correu a toda a velocidade, afastando-se dos humanos, Duarte Cordeiro frisou aos jornalistas a importância do momento.

 

António Eusébio, Duarte Cordeiro, Castelão Rodrigues, João Paulo Catarino, Osvaldo Gonçalves, João Portugal Ramos, Nuno Banza e Pedro Coelho – Foto; Cátia Rodrigues | Sul Informação

 

«Assistimos hoje a um momento extraordinário que foi a libertação de dois linces-ibéricos. Desde logo, há um agradecimento que se tem de fazer aos proprietários [da zona de caça turística], a João Portugal Ramos, e ao ICNF, por desenvolverem este projeto com muito sucesso. Recordo que, nos anos 90, tínhamos uma população de cerca de 100 linces-ibéricos e, atualmente, temos cerca de 1100 em Portugal e Espanha, mais de 200 em Portugal», começou por dizer o governante.

Quem também marcou presença, esta terça-feira, foi João Portugal Ramos, gestor da zona de caça turística, com quem o ministro assinou um protocolo. Portugal Ramos fez questão de frisar que «o acordo, que consiste em soltar mais dois linces-ibéricos neste ecossistema», só é possível «devido à grande vontade de 850 proprietários» que o que fazem é «gerir esses hectares, promovendo o equilíbrio das espécies».

«Equilíbrio é o termo fundamental e acredito que nós, os caçadores, somos quem tem mais noção do equilíbrio das espécies. Acho que isto é o verdadeiro mundo rural, que tem vários intervenientes: os proprietários, em primeiro lugar, nós, gestores de caça, em segundo, e o ICNF, que encontrou o sítio ideal, dado o ecossistema que aqui foi criado, para lançar mais dois linces», acrescentou.

Esta é a segunda vez que que um casal de linces é solto no Algarve, depois da libertação, em Fevereiro passado, mais ou menos na mesma zona, de Sismo e Senegal, que o Sul Informação acompanhou.

Para que a libertação pudesse ser feita nesta região, Nuno Banza, do ICNF, explica aos jornalistas que é necessário um trabalho posterior de monotorização para perceber o que é a «alimentação, a reprodução, a distribuição e a forma como os linces se estão a adaptar ao território».

 

Fotos; Cátia Rodrigues | Sul Informação

 

«Nós temos uma equipa vasta que, neste momento, já engloba profissionais do Alentejo e do Algarve, que promove o acompanhamento não só dos animais que estão marcados e que têm coleiras com radiotransmissores, como também de animais nascidos na natureza e que, por observação direta ou foto-armadilhagem, acabam por permitir acompanhar a evolução da população como um todo», continua.

Segundo Nuno Banza, o lince, apesar de ser um «predador generalista», acaba por ter áreas de «distribuição e de ocorrência relativamente fixas, o que permite consolidar a população e ir alargando a área de distribuição, quer do ponto de vista territorial, quer do ponto de vista da troca genética entre os animais que estão no terreno».

Este é também um aspeto relevante porque «só da diversidade genética conseguimos ter uma população viável» e a expectativa de «vir a consolidar a sua área de ocorrência».

Atualmente, são mais de 200 os linces que fazem parte da população portuguesa em vida selvagem – um número animador, mas que não permite, para já, dizer que o lince-ibérico deixou de estar em vias de extinção.

«Gostávamos de acreditar que todo o trabalho que foi feito vai permitir que o lince-ibérico seja salvo da extinção. Como sabem, esta é a experiência a nível mundial de maior sucesso em termos de reintrodução de uma espécie em vias de extinção, mas estamos sempre perante um equilíbrio instável e, por isso, precisamos de tempo», realça Nuno Banza.

 

 

 

 



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