CNRLI quer mostrar (ainda mais) como está a ajudar a recuperar o lince ibérico

ICNF está a pensar em novas forma de divulgar o trabalho que é feito no centro de reprodução de Silves

Dar com o local não é fácil e é suposto que assim seja, mas isso nunca impediu o Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico (CNRLI) de mostrar o importante trabalho que faz na recuperação desta espécie ameaçada. Agora, o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) quer levar ainda mais longe este esforço e arranjar novas formas de comunicar o que ali se passa.

Apesar de haver momentos muito mediáticos de contacto com  o público, nomeadamente as soltas de linces na natureza em território nacional, como a que aconteceu no dia 3 de Maio em Alcoutim, poucos têm a noção exata do que se faz, no dia a dia, na infraestrutura situada no interior do concelho de Silves, que tem dado novos linces ao mundo.

«Podemos pensar em ter aqui uma outra estratégia de comunicação do trabalho que está aqui a ser feito. É certo que não somos os únicos a fazê-lo, também há centros em Espanha. Mas nós temos tido muito mais preocupação em fazer intervenção e em criar condições para ela ter sucesso do que propriamente em comunicá-la», revelou ao Sul Informação Nuno Banza, presidente do ICNF.

«Estamos na fase de conseguir comunicar cada vez melhor, para mostrar que as pessoas em Portugal e em Espanha também conseguem fazer coisas extraordinárias pelo ambiente», acrescentou.

O caminho a seguir ainda não está definido, mas não passará, de certeza, por abrir o centro de reprodução ao público em geral. A solução deverá passar por uma maior – e diferente – presença na Internet.

 

Nuno Banza

 

Esta autêntica fortaleza de proteção de uma espécie ameaçada raramente recebe visitas, muito menos em grandes grupos.

Mas, em ocasiões especiais, o CNRLI abre as suas portas, como aconteceu no passado dia 3, para mostrar a uma comitiva que incluiu o ministro do Ambiente e representantes de diversas entidades, bem como a comunicação social, o novo Complexo de Treino e Recuperação de Lince-ibérico (CTRLI).

A ocasião serviu para apresentar publicamente este centro, que já está em funcionamento e até já deu “frutos”.

«Esta nova valência foi concluída em 2019, mas só há muito pouco tempo que começamos a dar-lhe uso. O centro tem duas funções muito importantes: a primeira é a possibilidade de nós termos um espaço para intervir em animais que nós tivemos de recolhemos na natureza, por alguma razão  – porque se feriram ou porque começaram a ter comportamentos desviantes, designadamente a demasiada proximidade aos humanos», enquadrou Nuno Banza.

«É muito importante que quando trazemos animais do campo nós consigamos mantê-los completamente separados dos outros animais que estão aqui no centro, sobretudo, por razões sanitárias», acrescentou.

Isto porque «nós não controlamos a presença de bactérias, vírus ou outro tipo de micro organismos» nestes animais, que podem estar em equilíbrio no campo, «mas que podem ter um efeito negativo na população de animais que temos aqui».

«Portanto, era muito importante ter um espaço onde nós pudéssemos fazer não só uma quarentena, mas também  ter esses linces e treiná-los de novo, para poderem ser reintroduzidos no mundo natural. Isso era algo que nós não tínhamos ainda», ilustrou o mesmo responsável.

A primeira inquilina do centro foi a lince fêmea Paprika, «que esteve aqui a fazer uma espécie de desmame dos humanos».

 

 

«Depois, há outra valência que também é muito importante, a possibilidade de treinarmos os animais que estão preparados para serem introduzidos pela primeira vez na natureza. Há uma necessidade muito grande de conseguirmos garantir que eles adquirem comportamentos selvagens, que os comportamentos que adquirem não são comportamentos condicionados pela relação nem com a alimentação, nem com os próprios humanos», explicou Nuno Banza.

«É muito importante que nós consigamos garantir que o espaço onde eles são preparados para ser colocados no campo é o mais próximo possível do local onde eles vão passar a viver», concluiu.

Os cercados deste centro de treino e recuperação têm uma parte de ocupação florestal, uma parte em mosaico, uma zona de mato, mas também tem clareiras de campo aberto.

Este conjunto «faz com que eles consigam verdadeiramente ter aqui uma condição facilitada para terem uma maior taxa de sucesso na reintrodução, portanto é uma infraestrutura muito importante para nós».

Neste caso, foram treinadas este ano duas crias de lince, tendo em vista a sua introdução na natureza em território espanhol.

Outra boa notícia para os que têm carinho por esta espécie é a reconstrução do observatório do CNRLI que existia na barragem do Funcho, destruído pelo grande incêndio de 2018, que já está a ser preparada.

A partir dali, pode-se observar à distância, através de binóculos ou do telescópio ali existente, os cercados dos linces e, com alguma sorte, alguns exemplares destes animais.

 

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 

 

 

 



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