Há 3 milhões de euros para garantir mais água no Sotavento a curto prazo

Projetos de aproveitamento do volume morto da Barragem de Odeleite e de reutilização de águas residuais da ETAR de VRSA foram hoje apresentados

Barragem de Odeleite – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Aproveitar água que já está armazenada na Barragem de Odeleite, mas que não se conseguia ir buscar, e dar nova vida aos esgotos, depois de serem tratados, são os objetivos de dois projetos com um prazo de execução relativamente curto e com um custo global de 3 milhões de euros, hoje apresentados em Castro Marim.

Uma das obras, a realizar no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que destina 200 milhões de euros para aumentar a eficiência hídrica no Algarve, visa o aproveitamento de parte do volume morto da Barragem de Odeleite, que permitirá tirar mais 15 milhões de metros cúbicos de água desta albufeira.

Na prática, isto significa aproveitar mais 11,5% da água armazenada nesta barragem, cujo volume útil são 130 milhões de metros cúbicos.

A outra intervenção preconiza a reutilização de águas residuais tratadas na ETAR de Vila Real de Santo António para rega de campos de golfe.

Foi para conhecer melhor estas e outras obras que João Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Ação Climática, esteve esta quarta-feira no Algarve.

 

João Matos Fernandes e Inês dos Santos Costa – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

O primeiro ponto de passagem do governante, que foi acompanhado por Inês dos Santos Costa, secretária de Estado do Ambiente, foi, precisamente, a barragem de Odeleite.

No que toca ao projeto do “Sistema de elevação de água para o túnel de Odeleite/Beliche”, consistirá, em termos simples, na criação de uma solução técnica, assente numa estação de bombagem, que permita tirar água «que não é utilizável de forma gravítica», segundo João Sousa, diretor de Gestão de Ativos da Águas do Algarve, empresa que irá assumir a realização desta e da maioria das obras previstas na rubrica do PRR dedicada à eficiência hídrica na região.

A Barragem de Odeleite usa um sistema baseado na gravidade, com comportas que abrem e permitem que a água “desça” até à barragem do Beliche, que se situa a menor altitude. No entanto, há uma boa percentagem de água que não é possível tirar, por estar num nível abaixo das comportas.

Desta forma, será criada uma estação de bombagem, «à base de bombas flutuantes», na parte Norte da albufeira, que permitirá enviar mais água para a Barragem do Beliche. Daqui, a água é encaminhada para tratamento, na estação existente em Tavira.

 

Barragem de Odeleite – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Para levar a cabo esta obra é preciso, não só, dinheiro – 1,5 milhões de euros, segundo João Sousa -, mas, também, que… haja menos água na barragem.

É que, ao contrário do que vinha acontecendo, o ano hidrológico atual está a ser chuvoso e permitiu compor as barragens do Algarve, o que deixou o sistema de albufeiras existentes na região a 70% da sua capacidade.

Isto é, claro, uma excelente notícia para a região algarvia, que saiu da situação de seca, mas que inviabiliza que boa parte desta intervenção possa ser feita neste momento.

«Atualmente, a barragem está à cota 45. Temos de esperar que esteja à cota 38» para poder concluir a obra, disse o engenheiro da Águas do Algarve.

Para já, é possível avançar com uma outra intervenção. «Vamos fazer isto em duas fases, a primeira da qual pode ser feita já, porque a comporta tem de ser fechada», disse João Sousa.

O projeto desta solução «está em fase de conclusão» e deverá estar pronto, «no máximo, dentro de dois meses». A obra em si demorará «cerca de seis meses», mas não é possível apontar uma data para o seu início, uma vez que está dependente do nível da barragem.

 

 

João Sousa – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Mais a Sul, em Vila Real de Santo António, vai avançar um projeto ligado à reutilização de esgotos tratados na rega de dois campos de golfe existentes nas imediações da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) deste concelho.

Neste caso, trata-se de concluir um sistema que até já foi implementado, em parte, faltando apenas uma Estação Elevatória e um sistema de cloragem para que fique totalmente operacional.

Serão estas duas infraestruturas que serão instaladas, numa intervenção que «durará cerca de dez meses», que João Sousa estima que deverá estar pronta «dentro de ano e meio», de tudo correr bem.

 

ETAR de Vila Real de Santo António – Foto: Águas do Algarve

 

Ao contrário destas duas intervenções, cujo avanço deverá ser pacífico, tendo em conta que se trata de aproveitar recursos que já existem, há outras previstas no PRR que não reúnem, nem de perto nem de longe, um consenso, nomeadamente a ligação ao Pomarão e a central de dessalinização.

Estas obras, para as quais serão destinados cerca de 100 milhões euros, serão complementares a outras medidas e investimentos, nomeadamente a redução das perdas tanto nos sistemas de abastecimento urbano, como nos agrícolas, explicou Matos Fernandes. Para este desígnio, o plano destina, respetivamente, 35 e 17 milhões de euros.

Já para a reutilização de águas residuais, há 23 milhões de euros – o projeto em VRSA não está neste “bolo”. Ou seja, serão realizadas intervenções noutras ETAR, para que possam fornecer água para rega de campos de golfe e agrícola.

O ministro do Ambiente garantiu, mesmo, que as medidas ligadas ao uso mais eficiente da água, no Algarve, «são ações centrais neste PRR».

«A palavra tem de ser sempre eficiência, nós temos mesmo que ser mais eficientes. Quando nós reduzirmos imenso as perdas de água nos sistemas urbanos, quando formos muito mais eficientes, reduzindo também as perdas de água na agricultura, quando nós conseguirmos reintroduzir novas fontes, sem ter que ter mais origem que não seja a reutilização das águas residuais, estamos mesmo a fazer o melhor para garantir que estes sistemas são sistemas mais robustos», acredita.

 

João Matos Fernandes Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

«Mas há, de facto, dois projetos de maior dimensão aqui», admitiu o governante.

Um é captação de água no Guadiana, provavelmente no Pomarão, «sem provocar impactos ambientais, porque construir uma barragem é sempre cortar um rio, nós queremos é ter água nas barragens que temos».

«É uma captação que só funciona quando faz falta (…). Mas é um seguro que nós temos que ter para garantir que não vamos ter situações de falta de água no futuro», acredita.

O outro projeto é a dessalinização.

Recordando que Portugal «não tem uma dessanilizadora no Continente, as que tem são muito pequenas ligadas a instalações hoteleiras», Matos Fernandes considera que será, «de facto, muito importante» poder fazer esta unidade, para o país poder testar a tecnologia, «mais ainda, quando ela vai ser financiada a 100%» pelo PRR.

«Nós não podíamos perder uma oportunidade destas para ter aqui um projeto, que, não sendo um projeto piloto, é um projeto pioneiro, porque de facto não temos nenhuma dessalinizadora com esta dimensão», disse.

«Nunca podendo eu pôr um sorriso muito grande quando falo da água no Algarve, porque ela será sempre escassa, quero acreditar que, com a ajuda de todos, isto é, com uma consciência maior de como é importante ser eficiente na utilização deste recurso, o Algarve vai passar uns anos sem a aflição que passou nos anos anteriores», rematou o ministro do Ambiente.

 

 

 

 



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