Ana Castro: «As pessoas que moram no Algarve também merecem ter uma saúde em condições»

A nova responsável máxima pelos hospitais algarvios trouxe consigo um modelo de gestão e uma visão «diferentes»

Imagem de Arquivo – Foto – Hugo Rodrigues | Sul Informação

Quando aceitou o desafio de liderar o Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Algarve, Ana Castro sabia bem que este não era um emprego de sonho. No entanto, aceitou, porque «as pessoas que moram no Algarve também merecem ter uma saúde em condições».

A nova responsável pelos hospitais algarvios chegou em Julho com um modelo de gestão e uma visão «um bocadinho diferentes» dos antecessores, que julga que poderão fazer a diferença. Porque é disso que se trata: «Eu vim para cá na perspetiva de poder fazer alguma coisa, de poder mudar algumas coisas», afirmou Ana Castro ao Sul Informação, na primeira grande entrevista que deu desde que tomou posse.

«Não estou com isto a dizer que as pessoas que estiveram cá antes não tiveram intenções de o fazer ou que não o quiseram fazer. Agora, na realidade, trago um modelo de gestão que se calhar é um bocadinho diferente do que tem sido feito até aqui, trago uma visão que também é um bocadinho diferente da que foi utilizada até aqui», ilustrou.

Além disso, considerou, conta «com uma grande vantagem: Não sou da zona, portanto não tenho nenhuma relação especial nem com privados nem com públicos, nem com este nem com aquele, para mim está toda a gente ao mesmo nível. Portanto, trabalho com todos de uma forma perfeitamente transversal».

E que modelo de gestão é este e que diferenças introduz?

«O meu modelo de gestão responsabiliza muito mais os serviços, os departamentos, e procura capacitá-los com ferramentas de gestão. Ou seja, são eles próprios a gerir o seu orçamento, algo que neste momento não é feito. Nós só lhes pedimos números, mas depois não lhes vamos dizendo o que é que esses números implicam», explicou a nova responsável pelos hospitais algarvios.

Desta forma, «cada um dos serviços vai ser convidado a rever o seu plano de atividades e orçamento. Nós temos reuniões mensais de produção para saber o que é que as pessoas estão a produzir e o que é que faz falta para se conseguir chegar lá. Vamos monitorizando mensalmente, para quando chegarmos ao final do ano termos o objetivo cumprido, aquilo a que nos propusemos e contratualizámos».

«Mas, para isto, as pessoas têm que perceber exatamente, quando pedem alguma coisa, o que é que isso vai implicar no orçamento e qual é que é o retorno desse investimento. É esta a diferença. Os próprios diretores de serviço vão ter essa consciência, vão ter essa capacitação e vão falar connosco. Acho que esta é a grande diferença de gestão», revelou Ana Castro.

 

Ana Castro – Foto: Nuno Costa | Sul Informação

 

Estes primeiros meses ao serviço serviram para conhecer a casa e para a reorganizar. E Ana Castro confessa: «O que encontrei foi um bocadinho pior do que aquilo que me tinham contado».

«Mas, também, já esperava isso. Não me iriam contar totalmente aquilo que eu iria encontrar, se não era logo meio caminho andando para a pessoa pensar 35 vezes», disse, a sorrir.

Muito do trabalho feito esteve ligado à resposta à Covid-19 e à preparação para a ativação da Fase 2 do Plano de Contingência, que foi decretada no dia 10 de Novembro.

Mas o novo CA também já está a preparar o futuro, ao nível da contratação de pessoal e aquisição de novo equipamento.

A escassez de recursos humanos foi, de resto, um dos principais problemas identificados, mal a nova equipa da administração entrou.

«As questões mais complicadas são, sobretudo, o pessoal. O centro hospitalar tem um quadro de pessoal reduzido, o que não nos dá grande margem, e é nisso que temos tentado trabalhar. Estamos a tentar captar pessoas para ficarem cá, ir buscar profissionais de fora para completar os quadros, porque nós precisamos», revelou.

No que toca a médicos, o CHUA «tem muita falta em algumas áreas. Já fomos buscar médicos que vieram trabalhar connosco, de várias especialidades».

Quanto a enfermeiros, os hospitais do Algarve «já estão a contratar». Desde que o novo CA entrou «fomos buscar ao mercado, para contratar, cerca de 103 enfermeiros, 60 auxiliares e 40 técnicos», revelou Ana Castro.

«Neste momento estamos a tentar reforçar os quadros, estamos a tentar, também, trazer mais anestesistas, que é uma área que está sempre em défice. Temos determinada especialidade, mas depois não temos anestesia, por isso não resolve o assunto. E o nosso objetivo é, no fundo, termos mais gente que trabalhe no CHUA a tempo inteiro, com contratos individuais de trabalho e não como prestadores de serviço. É a nossa aposta, que o pessoal do CHUA seja um quadro maioritariamente nosso», acrescentou.

«Temos, neste momento, cirurgia vascular a funcionar no Algarve, desde há um mês, que era uma especialidade que nós não tínhamos. E, provavelmente, queremos trazer a cirurgia torácica. Temos um colega interessado em vir trabalhar para cá e assim teríamos mais especialidades disponíveis. Vieram colegas, por mobilidade, da pediatria do Hospital D. Estefânia e temos estado a admitir mais ortopedistas e oftalmologistas», enumerou Ana Castro.

 

Foto: Nuno Costa | Sul Informação

 

No que toca a equipamento, a palavra de ordem é renovação.

«Temos isso previsto no plano de investimentos do próximo ano, para tentar renovar alguns equipamentos e para ter outros disponíveis», disse.

Por outro lado, há um plano de manutenção, mas que está longe de resolver todos os problemas, tendo em conta que os equipamentos vão chegando ao seu fim de vida.

«Habitualmente os equipamentos que avariam são consertados em tempo útil. Portanto, existe quem faça manutenção. Agora, a questão maior é a renovação de parte deste material, porque começa a ficar obsoleto. Um dia qualquer eles vão-se avariar e nós não temos forma de reparar», explicou.

Para fazer face a esta situação «foi feito um plano de investimentos para tentar começar a renovar e ter outro tipo de equipamentos que não temos. Há o caso da angiografia, por exemplo, que é um equipamento que queremos ter para poder apoiar a cirurgia vascular».

Quanto a infraestruturas, a nova administração tem um plano para o Hospital de Lagos, mas que Ana Castro ainda não pode discutir «porque carece de aprovação pela tutela. Mas eu acho que poderá ter uma resolução a curto prazo».

Para levar a cabo estes investimentos, o Conselho de Administração do CHUA conta com um maior financiamento da parte do Estado.

«É  também por isso que achamos que vai ser possível fazê-lo. Vamos ver se conseguimos com que o orçamento que submetemos seja aprovado. A partir do momento em que o seja, já estarão lá contemplados estes investimentos. Esse é o objetivo», rematou a presidente do Conselho de Administração do CHUA.

 

Fotos: Nuno Costa | Sul Informação

 

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