Reino Unido não confia em Portugal, mas estuda método algarvio de combate à Covid-19

Interesse internacional «é um reconhecimento para o ABC e para o nosso trabalho»

Portugal foi excluído da lista do Reino Unido de países seguros para viajar, mas a estratégia do Algarve – e do país – de combate à Covid-19 está a suscitar interesse britânico. Cientistas da UK Science & Innovation Network Office estiveram reunidos com o Algarve Biomedical Center (ABC) com o objetivo de implementar, no Reino Unido, o método de pool que permite fazer análises «de forma mais rápida e barata». 

A notícia foi avançada pelo jornal The Telegraph que, na sua edição do passado domingo, 19 de Julho, escrevia que o Reino Unido «se virou para Portugal» e para a sua estratégia de «testes massivos» à Covid-19.

É que este método, escreve o jornal, pode «ajudar a prevenir o avanço da doença, reduzindo o número de mortes».

Ao Sul Informação, Nuno Marques, presidente do ABC, explicou que os cientistas britânicos estiveram reunidos, em Junho, com o Algarve Biomedical Center para «lhes explicarmos o nosso protocolo de pooling», desenvolvido por este consórcio que junta o Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e a Universidade do Algarve (UAlg).

A ideia é «facilitar a sua implementação» no Reino Unido. «O que eles nos disseram foi que querem implementar, mas a decisão de avançar ou não pode não passar apenas pelos cientistas», acrescentou.

E que método é este? «No pooling, basicamente agrupamos amostras. Ou seja, em vez de estarmos a fazer a análise amostra a amostra, juntamos 10 a 10. Analisamos em conjunto e isto permite que, quando estamos a fazer testes em rastreio com prevalência de negativos, se um for negativo, quer dizer que todos o são», explicou Nuno Marques ao nosso jornal.

No fundo, o benefício desta estratégia é que aumenta a capacidade laboratorial e dá uma resposta mais rápida.

«Se houver algum positivo, vamos ver individualmente qual é e isso permite uma maior facilidade e rapidez», exemplificou o presidente do ABC.

Este foi um método desenvolvido pelo Algarve Biomedical Center e que surgiu depois «da leitura de um artigo em Março».

 

Nuno Marques

«O que fizemos foi uma aplicação prática do que estava no artigo e passámos de algo que era investigação para aplicação prática», explicou.

Além da rapidez, o pooling é um método «mais barato», uma vez que, «em termos de reagentes, usa menos para um grupo de 10».

«É mais barato e mais rápido. Não necessita também de equipamentos e de tecnologia mais avançada do que aquela que já estávamos a usar. Estamos a usar equipamentos de PCR. Não há tecnologia nova», explicou.

Para Nuno Marques, este interesse internacional (também já houve reuniões com entidades espanholas, italianas e polacas) é a prova do trabalho que o ABC tem vindo a desenvolver no combate à Covid-19.

«É um reconhecimento para o ABC e para o nosso trabalho, principalmente pelo facto de estarmos a aliar a questão da investigação à sua execução prática», considerou.

E este interesse surge até de nações que excluíram Portugal da lista de países seguros… como o Reino Unido. Esta decisão, disse Nuno Marques, foi tomada usando apenas «um único indicador: o número de casos por 100 mil habitantes».

«Ora, isso não teve em conta o facto de estarmos a testar mais, a identificar assintomáticos… Estamos, sim, a tornar o país mais seguro», atirou.

De resto, a fórmula “testar, testar, testar”, que tem sido usada por Portugal desde o início da pandemia, merece elogios de Nuno Marques.

«É o que nos dá mais segurança. Há uma correlação direta entre o número de testes que fazemos e a mortalidade. Ou seja: quanto maior o número de testes que são feitos, menor é a mortalidade e o nosso país está muito bem neste índice. Ao fazer mais testes, vamos descobrir mais casos assintomáticos e não testamos apenas quem tem sintomas, como fazem outros países. Temos mais casos, mas aumentamos a segurança», concluiu.

 

 

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