Lagos recordou 1969 para prevenir risco sísmico

Avisos deixados, quanto ao pouco que é feito para prevenir os riscos sísmicos, foram fortes

Começou com uma sessão inaugural, em Sagres, com o Presidente da República e continuou, na parte da tarde, com investigadores e especialistas. 50 anos depois, Lagos recordou o sismo de 28 de Fevereiro de 1969, para, com isso, ajudar à prevenção dos riscos.

Maria Joaquina Matos, presidente da Câmara de Lagos, abriu os trabalhos vespertinos, após ter participado na sessão com Marcelo Rebelo de Sousa.

Segundo a autarca, «em Lagos, os efeitos do sismo de 1969 fizeram-se sentir de forma significativa, sendo a cidade com localização mais próxima do seu epicentro».

Daí a razão pela qual o Município decidiu fazer esta iniciativa, bem como o trabalho que «Lagos desenvolve há 17 anos no âmbito da prevenção do risco sísmico», explicou.

Frederico Mendes Paula

Esse trabalho foi, de resto, apresentado depois por Frederico Mendes Paula, arquiteto e técnico superior da autarquia, recordando as investigações do já falecido professor Luís Mendes Victor, que deram origem à publicação, em 2006, do livro “Risco Sísmico no Centro Histórico de Lagos”, e os projetos desenvolvidos em parceria com o Centro Europeu de Riscos Urbanos (CERU), o Centro Euro-Mediterrânico para Avaliação e Prevenção do Risco Sísmico (CEPRIS) e outras entidades.

Em termos concretos, foram feitos, por exemplo, colóquios, bem como ações de sensibilização, além da instalação de sinalética de evacuação em caso de tsunami.

Perante Marcelo Rebelo de Sousa, de manhã, João Azevedo, presidente da Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica (SPES), não foi brando nas palavras. Aquele responsável disse que não tem sido dada a devida atenção ao risco sísmico e é preciso «agir enquanto o pesadelo não nos atinge».

À tarde, o especialista continuou bastante crítico, começando por definir o significado da palavra risco, que resulta da conjugação de três fatores: a perigosidade, algo que depende exclusivamente do que a natureza nos dá, a exposição, que decorre da localização das edificações e já depende da ação humana, e a vulnerabilidade, vertente onde se pode investir muito mais, construindo e reabilitando de forma mais segura ou até demolindo, quando não é possível reabilitar de modo seguro.

João Azevedo

Tal como de manhã, o presidente do SPES sublinhou a particular atenção que é necessário ter relativamente aos edifícios de utilização coletiva e de utilidade pública, como escolas, hospitais, infraestruturas da proteção civil, centros de operação, assim como com as vias de comunicação (pontes, viadutos) e infraestruturas (energia, comunicações, entre outras).

A desadequação da legislação vigente no que concerne ao dimensionamento sísmico dos projetos de estruturas e de edifícios e à reabilitação de edifícios foi apontada por este especialista como uma das maiores preocupações nesta matéria. Sublinhou também a necessidade de haver mais e melhor fiscalização, quer dos projetos, quer da construção.

Olavo Rasquinho, antigo presidente da Associação Portuguesa de Meteorologia e Geofísica, interveio à tarde, depois de ter sido igualmente muito crítico na sessão da manhã. Em declarações ao Sul Informação, o especialista dizia, então, que «não há uma fiscalização eficiente para que a legislação seja aplicada».

Outro dos especialistas convidados foi Miguel Miranda, presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que ainda se lembra do sismo de Fevereiro de 1969 e do «pavor» que gerou.

O responsável considerou que o abalo foi um «marco importante» por ter conseguido acordar o sistema político para a necessidade de criar uma rede sismológica.

Já Carlos Sousa Oliveira, investigador e professor catedrático jubilado do Instituto Superior Técnico, referiu-se ao sismo de 1969 como «o parente pobre da sismologia», pelo facto deste ainda não ter sido suficientemente analisado.

Miguel Miranda

Neste sentido, o especialista pediu às entidades presentes para se empenharem no estudo que importa fazer para compreender melhor esse evento e os danos que provocou.

É que, dessa forma, seria mais fácil até às próprias populações estarem mais preparadas para lidar com esses fenómenos.

Quanto a António Carrilho, técnico superior da Câmara de Lagos, fez uma incursão pela imprensa para mostrar como foi, à época, tratado o sismo de 1969.

Recordar para alertar foi, no fundo, o grande objetivo deste dia, promovido pela Câmara de Lagos.

É que, no entender dos especialistas, um grande sismo, como de 1969 ou o de 1755, voltará a acontecer. Só não se sabe quando e o próprio Presidente da República ficou «alertado» para a necessidade de fazer mais e melhor na prevenção dos estragos.

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

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