E se o sismo de 1969 acontecesse hoje?

Marcelo Rebelo de Sousa participou numa sessão de evocação dos 50 anos do sismo de 28 de Fevereiro de 1969

Presidente da República recebeu oferta da Associação Terras do Infante

Foi há 50 anos que a terra tremeu, no Algarve, num grande sismo com magnitude estimada em 7.9 na escala de Ritcher. Como seria se acontece hoje um abalo semelhante? Especialistas dizem que «pouco está a ser feito» para prevenir os estragos e o próprio Presidente da República, que participou, em Sagres, numa sessão de evocação do Sismo de 28 de Fevereiro de 1969, confessa estar «atento» a esta questão. 

O Chefe de Estado deslocou-se ao Algarve para participar, na manhã desta quinta-feira, 28 de Fevereiro, nesta sessão organizada pela Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica (SPES), a Associação Portuguesa de Meteorologia e Geofísica (APMG) e a Câmara Municipal de Lagos.

E a verdade é que os alertas deixados foram fortes. Olavo Rasquinho, antigo presidente da APMG, não foi brando nas palavras: «os sismos são inevitáveis, mas as tragédias são evitáveis», disse.

Na opinião deste especialista, «pouco está a ser feito» em termos de prevenção. «Há uma regulamentação bastante avançada, mas, na prática, não há uma fiscalização eficiente para que essa legislação seja aplicada. No binómino custo-benefício, muitas vezes olha-se para o custo e no curto prazo», lamentou ao Sul Informação. 

É que, «apesar de haver um técnico que diz que todos os regulamentos foram aplicados, sabe-se que nem sempre é assim», acrescentou.

«Isto acontece tanto em edifícios públicos, como em habitações. Um grande sismo vai mesmo acontecer outra vez, quando é que ainda não sabemos», explicou ainda.

O sismo de 28 de Fevereiro de 1969, que foi o mote da sessão de hoje, foi o que, a seguir ao sismo de Benavente de 1909, causou danos mais importantes no território continental.

O epicentro foi na zona do banco de Goringe (a sudoeste do cabo de S. Vicente), com uma magnitude estimada em 7.9 e uma intensidade máxima entre 7 e 8, sentindo-se em todo o país, com maiores danos no Barlavento algarvio.

Este abalo causou um número não determinado de mortos (referências apontam para 13 mortes, embora apenas duas devido aos efeitos diretos do sismo).

Olavo Rasquinho

Marcelo Rebelo de Sousa ainda se lembra bem do sismo. «De repente, perderam-se as comunicações. O abalo foi muito intenso. A minha avó, que morava comigo naquela altura, assustou-se e foi para a rua. Lembro-me também de que houve estragos domésticos, com estantes a cair», disse aos jornalistas.

50 anos volvidos, e agora enquanto Presidente da República, Marcelo confessou estar «atento» e não «alarmado» quanto à «necessidade de ver o que é possível fazer rapidamente em termos de prevenção».

«O acompanhamento ao nível das estruturas podia ser mais exigente. Há edifícios públicos que poderiam ter garantias de proteção sísmica maior. Foram aqui referidos hospitais e fiquei naturalmente preocupado com o facto de haver património antigo que pode sofrer as consequências de um sismo».

A este propósito, João Azevedo, presidente da Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica, referiu o perigo que representam, por exemplo, o Museu Nacional de Arqueologia, em Belém (Lisboa), e o Museu Nacional de Arte Antiga, junto ao Tejo, também na capital portuguesa.

Na opinião deste responsável, também não tem sido dada a devida atenção à fiscalização. «Há infraestruturas industriais que não estão seguras», exemplificou. «É preciso agir enquanto o pesadelo não nos atinge», disse ainda.

Olavo Rasquinho, Marcelo Rebelo de Sousa e João Azevedo

Na verdade, leis até existem. Só que, como explicou Marcelo Rebelo de Sousa, «se as leis forem mal aplicadas e pouco acompanhadas, de pouco serve tê-las». «É preciso garantir que as leis são postas em prática», atirou.

Por isso, na opinião do Presidente da República, há a «necessidade de sensibilizar mais». «As pessoas estão atentas a outras calamidades e não a esta porque é menos provável», considerou.

Só que, segundo Olavo Rasquinho e João Azevedo, ela vai mesmo acontecer e pode ser destrutiva.

«Apesar de as novas construções estarem mais bem preparadas, o risco é muito grande. Se acontecesse agora, as condições seriam nefastas. Basta ver a Baixa de Albufeira que, em 1755, foi afetada pelo tsunami e agora está invadida de lojas e hotéis. Continuamos a construir em zonas que são suscetíveis de serem afetadas por um sismo», concluiu, em jeito de lamento, Olavo Rasquinho.

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

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