A pensar as periferias, se prepara um “Verão Azul” especial

Festival Verão Azul passa por Lagos, Loulé e Faro mas só em 2019

Foram quatro «dias super intensos» passados a discutir o que são as periferias e como se fazem produções artísticas longe dos grandes centros. O Shock Lab juntou, em Loulé e Faro, 14 artistas, de diferentes idades e países, para pensar estas questões. A ideia é que, no futuro, alguns dos trabalhos possam vir a ser apresentados na edição de 2019 do Verão Azul, festival organizado pela associação casaBranca, que vai passar por Faro, Loulé e Lagos.

Neste laboratório, que terminou na segunda-feira, 22 de Outubro, houve três figuras provocadoras que agitaram os participantes: Mónica Calle (encenadora, atriz e diretora da Casa Inconveniente), Gustavo Ciríaco (coreógrafo, performer) e o artista plástico Fernando Pinheiro.

Na tarde do último dia de Shock Lab, foi tempo de os três grupos apresentarem o resultado dos quatro dias de reflexão, momento a que o Sul Informação assistiu.

Um dos grupos expôs, por exemplo, um texto sobre o que é a arte, tendo por base a questão da periferia. «A arte não é exclusiva dos artistas. A arte não é moda. Não é só para agradecer», escreveram. Outro dos grupos, através de um diálogo entre várias personagens, resumiu o que foram as discussões sobre o centro e as periferias ao longo dos quatro dias.

Catarina Saraiva, uma dos curadoras do “Verão Azul”, estava visivelmente feliz no final do Shock Lab.

«Foram dias super intensos. Estou rouca e não é por acaso: tem muito a ver com aquilo que estas emoções provocam. O laboratório foi muito positivo porque juntou pessoas de diferentes proveniências, não só dentro do meio artístico, como de idades e regiões distintas. Houve pessoas do teatro físico, do teatro mais performance, outras do cinema, das artes plásticas», disse ao Sul Informação. 

«O Verão Azul é um festival que quer juntar todas as artes. A ideia é que possa ser pensada a possibilidade de os trabalhos do laboratório serem apresentados, depois, no festival. Aqui nada ficou terminado, mas estão mapeados artistas interessantes», acrescentou.

Este é um festival que passou a bianual e cuja próxima edição só se vai realizar em 2019. O objetivo de mudar a periodicidade do Verão Azul foi fazer com que haja mais tempo para a reflexão. «Queremos aprofundar as relações com o território, envolver os artistas com o local. Aqui também há massa crítica que, às vezes, só precisa de um empurrão», considerou Catarina Saraiva.

A própria ideia do festival é, de certa forma, esbater essa ideia de periferia. «Pensa-se nisso como uma barreira. “Estamos na periferia, não há cá nada”. Queremos que não haja esse pensamento, apesar de termos consciência de que há um trabalho prévio de formação de públicos muito importante», disse ainda.

O programa do “Verão Azul” ainda está a ser definido, mas a associação casaBranca já conseguiu um «importante financiamento da Direção-Geral das Artes». «A preparação do festival está a correr bem. Temos um quadro bem definido que divulgaremos a seu tempo», disse Andrea Sozzi, da direção desta associação, ao nosso jornal.

Até lá, continuam as residências artísticas. Gustavo Ciríaco, por exemplo, estará em residência, em Loulé, até 4 de Novembro, com “Entre cães e lobos”.

«Vou criar um espetáculo de raiz que fala sobre a relação do homem com a natureza através da paisagem, convocando duas paisagens: a da imaginação das crianças e outra que apenas existe na memória de pessoas mais velhas», explicou o artista brasileiro ao Sul Informação.

Para o artista, as «expetativas são grandes» para o Verão Azul. «É importante esta ideia de estar no território de muitas maneiras», concluiu.

Para acompanhar todo o desenrolar do “Verão Azul”, clique aqui.

 

Fotos: Pablo Sabater | Sul Informação

 

Participantes no Shock Lab:

Alexandre Valinho Gigas
Poesia, música (Português, Coimbra)

Ana Galvão
Artes plásticas (Portuguesa, Almada)

Ana Sofia Peixoto (o_phe_lia)
Performance (Portuguesa, Braga)

Annabelle Pirlot
Dança (Francesa, Paris)

Bruno Caracol
Artes visuais (Português, Lisboa)

Catarina Bota Leal
Artista plástica, performance (Portuguesa, Coimbra)

Gabriela Pas
Artes interdisciplinares (Brasileira, Lisboa)

Mauro Amaral
Música, performance (Português, Faro)

Miguel Alexandre de Oliveira
Cinema (Português, Tavira)

Diana Bernedo Tarragona / Coletivo Jat
Teatro físico (Espanhola, Faro)

Miguel Martins Pessoa / Coletivo Jat
Teatro físico (Português, Faro)

Paulina Szczesna
Teatro (Polaca, Berlim)

Sofia Guerreiro
Artes visuais / design (Portuguesa, Faro)

Valentina Parravicini
Dança (Italiana, Lisboa)

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