Visconde Bívar, um distinto portimonense, um insigne algarvio

A 9 de Janeiro de 1824 nascia em Vila Nova de Portimão um dos mais ilustres defensores dos interesses do […]

A 9 de Janeiro de 1824 nascia em Vila Nova de Portimão um dos mais ilustres defensores dos interesses do Algarve e de Portimão do século XIX, Francisco de Almeida Coelho de Bívar.

Era filho do Juiz de Fora de Lagoa, o bacharel José Lino de Bívar Weinholtz de Almeida Coelho e de sua esposa e prima Maria Feliciana de Bívar Gomes da Costa, uma distinta e abastada família, com ramos ascendentes em Holstein (Alemanha), Monchique e também em Guimarães (Prazins).

As ideias liberais que a família defendia motivaram o assassinato do pai por um partidário da guerrilha de Remexido (José de Oliveira – o Trovoada), durante a fatídica Guerra Civil, em 1833.

Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra em 1845, Francisco Bívar cedo se interessou pela política, militando no Partido Regenerador.

Aos 29 anos de idade foi eleito deputado por Lagos, cargo que ocupou por três legislaturas (1853 a 1858), para em 1860 ser eleito por Portimão, cumprindo mais quatro legislaturas (1860 a 1868).

A sua ação na Câmara dos Deputados, hoje Assembleia da República, foi multifacetada, embora se centrasse fundamentalmente nos problemas do Algarve e dos algarvios. Desde a problemática dos impostos sobre o pescado, às deficientes condições dos portos algarvios, o cais em Portimão, a reorganização e criação de comarcas (entre estas a de Portimão em 1875) ou à navegabilidade do Arade até Silves, sem esquecer as vias de comunicação, como a construção de estradas ou o prolongamento do caminho de ferro de Beja ao Algarve, Francisco Bívar foi incessante na defesa dos interesses dos seus conterrâneos.

A sua intervenção na Câmara dos Deputados aquando da discussão do traçado da via-férrea a adotar entre Beja e o Algarve foi, juntamente com outros deputados algarvios, determinante para que esta se dirigisse a Messines, ao invés de terminar em Mértola para se reiniciar depois em Vila Real de S. António até à capital algarvia, fazendo-se o percurso intermédio de barco.

Se na realidade este último traçado era economicamente muito vantajoso pela proximidade às Minas de São Domingos, não era menos verdade que ele não servia condignamente o Algarve.

A ação de Francisco Bívar foi ainda basilar quanto ao traçado da estrada litoral do Algarve (Estrada Real n.º 78, hoje E.N. 125), concretamente ao local onde devia surgir a nova travessia sobre Arade, estando em disputa Silves e Portimão.

A favor de Silves existia o argumento da economia, pelo pequeno comprimento da ponte a construir, e logo menos dispendiosa para o tesouro da Nação.

Portimão, porém, não queria ficar alheada do desenvolvimento que a estrada e a ponte lhe proporcionariam, pelo que o deputado Francisco Bívar apresentou nas cortes um projeto com várias premissas e entre as quais, que a ponte fosse feita na então Vila Nova sem encargos para o Estado (exclusivamente à custa de um imposto aplicado sobre o peixe vendido na lota).

A Câmara de Silves, face a esta proposta, reuniu-se em 9 de Junho de 1858, juntamente com a vereação transata e com doze dos “principais cidadãos” da cidade, convocados para o efeito, os quais “unanimemente acordaram: Que reprovarão a opinião ou a ideia da construção da ponte sobre o rio de Portimão (…) porque com ela se vai entorpecer, ou interromper intensamente a navegação com Silves”.

Igualmente reprovaram a construção de um lanço de estrada de Portimão a Lagoa, argumentando que esse traçado devia ter em conta a estrada do litoral de Lagos a Faro, e que obviamente os silvenses pretendiam que passasse por Silves.

Mas tudo foi em vão, o governo com os cofres depauperados, como sempre acontece, aprovou o projeto do ilustre portimonense, altamente vantajoso para o tesouro.

Francisco Bívar conseguiu assim, de uma forma brilhante, que a ponte fosse projetada e mais tarde construída em Portimão (e pelo Estado, pois as receitas recolhidas pelo imposto revelaram-se demasiado baixas).

Membro da Comissão organizadora dos festejos da inauguração daquela infraestrutura, juntamente com outros ilustres conterrâneos, a ponte de Portimão era à época a maior a Sul do Tejo, com 311 metros de comprimento e 6 de largura.

Na festa de lançamento da primeira pedra, a 28 de Junho de 1874, participaram as duas filarmónicas silvenses, Fraldas e Moleiros, como recordaria João Suave, em Novembro de 1924, no periódico silvense “Voz do Sul”: “Ambas foram convidadas a tomar parte nas festas da inauguração, em 1874, da construção da ponte do rio Arade, em Portimão, com a assistência de um dos melhores estadistas que Portugal tem tido na sua galeria política, Fontes de Pereira de Melo, então ministro”.

A vinda do ministro das Obras Públicas e também primeiro-ministro ao Algarve e a sua participação nos festejos do início da construção da ponte (ficou concluída em Julho de 1876) não terá sido alheia à amizade pessoal que partilhava com Francisco de Almeida Bívar, então já Visconde de Bívar.

Foi a 7 de Março de 1872, que o rei D. Luís I “atendendo aos merecimentos e mais circunstâncias que concorrem no Bacharel […] Francisco d’ Almeida Coelho Bívar, antigo Deputado da Nação Portuguesa e querendo dar-lhe um público testemunho da Minha Real Consideração: Hei por bem Fazer-lhe mercê do título de Visconde de Bívar, em sua vida”.

Mas o percurso político do agora Visconde estava longe de ter cessado. Por Carta Régia de 16 de Maio de 1874, foi elevado a Conselheiro do Rei e a Par do Reino.

Mais uma vez, os interesses do Algarve mereceram a sua atenção, pedindo por exemplo, a continuação do caminho de ferro de Faro a Vila Real de Santo António, ou ainda a assistência aos algarvios aquando da terrível seca de 1875, como já o havia feito com as inundações de 1856.

A sua ação no novo cargo fez-se sentir em diversas comissões (Agricultura, Obras Públicas, Fazenda, Verificação de Poderes, etc.) e com elas a sua participação em muitos pareceres.

Casado com D. Isabel Margarida de Mendonça Pessanha, o casal residia no palácio do Sapal em Portimão (onde atualmente se encontram os Paços do Concelho). Detentor de uma vasta fortuna, Francisco Bívar foi em 1874 o 4º maior contribuinte de Portimão (188$501 réis de décima) e a ele pertenciam as mais afamadas e extensas salinas de Alvor.

Ocupou ainda os cargos de Procurador à Junta Geral do Distrito de Faro por Portimão, e foi Juiz e Conselheiro do Tribunal de Contas.

Francisco de Almeida Coelho de Bívar, o Visconde de Bívar, faleceu em Lisboa a 2 de Janeiro de 1890.

Mas a sua Vila Nova de Portimão não o esqueceu, atribuindo o seu nome à principal praça da localidade e na qual descerrou, em Novembro de 1942, um busto em sua homenagem.

Volvidos 121 anos do seu desaparecimento, a sua ação em prol do Algarve e de Portimão contínua viva, seja pela ponte velha ou pelo cais da cidade, seja pelas estradas então construídas por esse Algarve fora, ou pelo caminho-de-ferro, veículo de progresso e riqueza para o qual se empenhou de sobremaneira.

Que falta fazem nos nossos dias deputados da índole de Francisco Coelho de Bívar!

 

Aurélio Nuno Cabrita é engenheiro de Ambiente e investigador de História Local e Regional

 

 

 

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