Reitor Paulo Águas toma posse com piscar do olho às empresas e avisos ao Governo

A intenção «não é avaliar», muito menos «corrigir». O périplo que o novo reitor da Universidade do Algarve Paulo Águas […]

A intenção «não é avaliar», muito menos «corrigir». O périplo que o novo reitor da Universidade do Algarve Paulo Águas diz  que vai fazer, muito em breve, por empresas da região visa, sobretudo, aproximar a universidade do tecido empresarial e potenciar a colaboração que já existe e a que ainda pode surgir entre a academia e estas organizações.

O aprofundar da relação com a região foi um dos temas abordados por Paulo Águas na sua primeira intervenção enquanto reitor da UAlg, na cerimónia de tomada de posse da nova equipa reitoral, que decorreu ontem, dia 13 de Dezembro, no Grande Auditório do Campus das Gambelas da instituição, em Faro.

Além de anunciar como prioridade o contacto com as empresas da região, mas também um périplo interno, Paulo Águas também fez questão de falar do financiamento do Ensino Superior, avisando o Governo que espera que os compromissos assumidos no passado sejam cumpridos e que o aumento de encargos motivados por alterações a leis sejam, não só, compensados, como pagos atempadamente.

Momentos depois de ser eleito, no dia 16 de Novembro, o agora oficialmente reitor já havia anunciado que a sua prioridade seria o contacto com as empresas da região. À margem da sessão, numa conversa com o Sul Informação e a Rádio Universitária do Algarve RUA FM, Paulo Águas reafirmou esta intenção e explicou melhor o que pretende fazer.

«Ainda não tenho nenhuma data agendada, mas acredito que a partir do mês de Janeiro estaremos aí no terreno. Vamos visitar, em primeiro lugar, empresas com as quais já temos projetos e espero ser acompanhado pela comunicação social, para mostrar o que de bom se faz no Algarve, mas não só, pois admito ir a empresas de fora da região com a qual a UAlg mantém colaborações», revelou.

No fundo, o novo reitor quer demonstrar «o quão virtuosa pode ser a relação entre a universidade e as empresas».

Outro objetivo deste périplo é «contagiar outras empresas, que por vezes têm receio de contactar a Universidade do Algarve, por pensarem que é algo que está fechado e tem barreiras intransponíveis. A universidade não é nada disso. É uma casa com janelas transparentes e todos são bem vindos, nomeadamente as empresas», garantiu.

Este contacto com as empresas não é, de resto, uma novidade para Paulo Águas. A Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo (ESGHT) à qual está ligado desde 1986 e que já dirigiu, é reconhecida pela sua forte ligação ao tecido empresarial, nomeadamente através dos estágios que garante a todos os alunos.

Talvez por isso, o novo reitor tem já uma ideia muito concreta da abordagem que irá fazer ao tecido empresarial. «Eu irei às empresas de uma forma muito humilde, com a ideia de com elas encetar parcerias. A Universidade do Algarve não vai com a intenção de avaliar ou de corrigir o que as empresas estão a fazer, mal ou bem. A nossa perspetiva é que há competências que estão a ser desenvolvidas na UAlg, que podem ser benéficas para as empresas», enquadrou.

Paralelamente a esta ronda pelas empresas, Paulo Águas irá realizar um périplo interno pelas Unidades Orgânicas, Centros de Investigação e Serviços da UAlg e «visitar todos os cantos à casa».

«Quero dar sinais de que o reitor também estará presente, respeitando sempre a autonomia das unidades orgânicas, não me vou intrometer naquilo que são as suas competências. Mas o conhecimento das unidades orgânicas não pode passar apenas por uma reunião entre o reitor e o diretor das faculdades ou escolas. Devo ir até lá, para conhecer melhor os problemas e os desafios com que se debatem», defendeu.

Nova equipa Reitoral (da esquerda para a direita): Saúl de Jesus, Maribela Pestana, Alexandra Teodósio, Paulo Águas, Ana de Freitas e João Rodrigues

Paulo Águas também aproveitou o seu discurso para lembrar a mais recente luta entre as universidades e o Governo, na sequência da informação que chegou a algumas universidades de que «não iriam receber o reforço» de verbas para compensar o aumento de despesas decorrente de alterações à lei, «o que a concretizar-se constituiria uma quebra de compromisso por parte do Governo».

Em 2016, o Governo acordou com as Instituições de Ensino Superior públicas (IES) que, até 2020, a dotação para as universidades não seria inferior à daquele ano e seria acrescida «dos montantes correspondentes aos aumentos dos encargos salariais, incluindo os que decorram do valor da remuneração mensal mínima garantida, e dos montantes necessários à execução de alterações legislativas com impacto financeiro que venham a ser aprovadas».

Apesar dos reitores das universidades portuguesas já terem recebido do Governo a garantia de que o dinheiro prometido, afinal, vai mesmo ser pago em Janeiro, Paulo Águas não deixa de lamentar, desde logo, que tenham surgido informações em sentido contrário, bem como o timing do pagamento.

«Há alguma apreensão dos reitores, nesta matéria. Houve um compromisso que não foi cumprido e que, depois, não foi comunicado da forma mais feliz. As instituições receberam um ofício, sem qualquer contacto prévio, que contrariava aquilo que tinha sido contratualizado. E, obviamente, isso deixas as instituições apreensivas», enquadrou.

Apesar de, entretanto, o Governo ter dado o dito por não dito e assumido o compromisso de pagar as verbas em causa no mês que vem, Paulo Águas também chamou a atenção para «o momento em que ele é cumprido».

«Isto pode ter uma influência decisiva no funcionamento das instituições, nomeadamente ao nível da liquidez. São produzidas alterações legislativas que têm impacto em Maio, Junho ou Julho. Mas o reforço não chega nessa altura. Nós já nem discutimos isso, ele chega no final do ano. Mas se nem aí chega, isso pode dificultar a vida às universidades. Mesmo chegando há dificuldades e, para algumas universidades, esta verba nem sequer está a chegar no final do ano», disse.

Para o novo reitor da UAlg, seria importante que esse dinheiro «fosse disponibilizado mais cedo», pois isso permitiria às IES ter «uma folga», o que lhe permitiria «executar projetos de forma mais eficiente». Desta forma, «com a falta de liquidez, temos dificuldade em fechar todos os projetos».

A cerimónia de ontem foi de boas vindas ao novo reitor, mas também de despedida ao cessante, António Branco. O até ontem reitor da Universidade do Algarve aproveitou a sua última intervenção pública nesta condição para frisar o cariz histórico da eleição de Paulo Águas, seu vice-reitor, para este cargo, tendo em conta que é o primeiro professor do subsistema politécnico a liderar uma equipa reitoral.

António Branco manifestou a sua «profunda comoção e alegria pelo momento que estamos a viver», que, considera, é o iniciar de um novo ciclo na história da Universidade do Algarve, que a coloca «definitivamente no século XXI e na vanguarda do tipo de respostas que todos teremos de ser capazes de dar à exigência do tempo que vivemos em Portugal, na Europa e no Mundo».

A eleição de Paulo Águas, considera o ex-reitor, é a prova de que foi conseguida a paridade total entre os subsistemas universitário e politécnico, consagrada nos estatutos da UAlg, uma instituição que, neste aspeto, é única no país.

A bola ficou, agora, do lado de Paulo Águas, que irá ser o principal responsável pelos destinos da UAlg até 2021, ajudado pelos vice-reitores Saúl de Jesus, Ana de Freitas e Alexandra Teodósio, e pelos pró-reitores Maribela Pestana e João Rodrigues.

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