Ir à «Faina» no Museu com o Arade no horizonte

Um piso inferior com comida em marmitas e latas, um superior onde não haverá ementa (mas «experiências» que vão mudando), […]

Um piso inferior com comida em marmitas e latas, um superior onde não haverá ementa (mas «experiências» que vão mudando), e até uma esplanada com um palco. O «Faina», que abre em Abril, será o restaurante do Museu de Portimão e pretende aliar duas vertentes: a gastronomia e a programação cultural.

O Rio Arade será o pano de fundo de um lugar que nunca esteve verdadeiramente em funcionamento, mas que agora quer também ser, em parte, uma extensão do Museu.

Aliás, a localização do espaço, mesmo junto ao Arade, foi preponderante para que Emídio Freire, o futuro chef, apostasse neste restaurante. «É um local com muito potencial. Queremos dinamizar esta zona, com o restaurante a servir de âncora para fixar pessoas. Quem for ao Museu pode vir aqui, almoçar, por exemplo. Será positivo para ambos», diz ao Sul Informação.

A primeira amostra daquilo que será o «Faina» até já foi dada: o chef Emídio confecionou dois pratos, servidos ao almoço do passado sábado, dia 4 de Março, no âmbito da iniciativa “Fazer Render o Peixe”, que faz parte do 365 Algarve, e na qual a arte contemporânea e gastronomia se cruzam em torno do mar e da cultura algarvia.

Um creme de batata doce e pimento assado abriu as hostilidades, seguido de uma tempura de polvo com brás de grelos. Tudo com a “mão” de Emídio. Nos copos: vinho algarvio rosé Malaca. Para sobremesa, a proposta foi do chef Francisco Siopa, com uma pavlova recheada com mousse de limão.

Não faltaram o mel e a amêndoa, que, mais tarde, quase à hora do jantar (18h30), foram o “rei” e a “rainha” de uma demonstração de receitas, por parte do chef Siopa.

Voltando à faina: o passado conserveiro da zona que hoje acolhe o premiado Museu de Portimão não será esquecido no restaurante. «Não vamos ter só conservas na ementa, mas também vamos passar por aí», revela, entre risos, Emídio.

O próprio nome do restaurante remete para atividades ligadas a esse passado e não foi escolhido ao acaso. «Quis um nome que estivesse associado ao trabalho, em conjunto, no mar. A  palavra”faina” fica no ouvido: as pessoas podem decorar e até pegar no nome para o incluir em conversas», explica Emídio. Assim, os portimonenses, algarvios (e não só), vão poder, imagine-se,”ir à faina”, sem sair da sua cadeira.

Esta homenagem vai fazer-se notar também na hora de servir refeições, como os almoços, em latas ou em marmitas. «A ideia é termos um sítio para o trabalhador vir e fazer um intervalo. Queremos dar alma ao sítio e criar um conceito para as pessoas virem cá descontrair», acrescenta.

Ora, tudo isto, a que se somam os «pequenos almoços com menu especial», está reservado para o piso inferior, que vai estar aberto o dia todo, tal como a esplanada.

Piso inferior do restaurante

No segundo piso, a ideia é criar um espaço diferente para «25 pessoas no máximo» degustarem experiências que serão mudadas «todas as semanas ou de 15 em 15 dias». «Tudo estará muito relacionado com produtos locais, da época, e ligados à dieta mediterrânica», conta Emídio. Aos ingredientes vai juntar-se um twist do chef e fica “pronto a servir”.

Para José Gameiro, diretor científico do Museu de Portimão, o objetivo é que o restaurante seja uma espécie de «sala gastronómica do museu». Até porque a ideia do chef Emídio é «chegar a todo o tipo de público». Aqui insere-se a programação cultural que vai existir ao fim-de-semana, por exemplo com música.

Quanto ao equipamento do futuro «Faina», espaço que tem estado parado desde a abertura do museu, foram precisas «algumas modificações», uma vez que o aspeto técnico desta futura cozinha será «mais elaborado».

Por agora, o único chef será mesmo Emídio Freire, mas, no futuro «não vou conseguir estar sozinho aqui», perspetiva, sorridente. «Quando tens um chef, é só a ideia dele. Eu quero ter mais gente e trabalhar em equipa», explica. Tal como acontece com a faina. O restaurante, nas expetativas de Emídio, vai criar «seis ou sete postos de trabalho».

O almoço de sábado acabou por não ser apenas o primeiro confecionado pelo futuro chef no seu «Faina», servido com o sol a refletir-se nas águas plácidas do Arade, para fazer “render o peixe” em Portimão.

No mesmo dia, e no âmbito daquela iniciativa, foram também inauguradas, no Museu de Portimão, as exposições “Bivalvia”, de Beatriz Lobo, “Uma casa portuguesa”, de Miki Leal, e “Na Mesa”, de Bela Silva.

As obras ocupam, agora, o átrio de entrada do Museu e não esqueceram o Algarve. Por exemplo: para o mural de azulejo de Beatriz Lobo, muito contribuíram as paisagens dos viveiros de bivalves da ria de Alvor.

Já Miki Leal explora, nas suas peças, que fazem um serviço completo de loiça, as formas do figo de pita, que tem uma forte expressão no Sotavento algarvio, ao passo que as pequenas esculturas de “Na Mesa” têm como inspiração a doçaria regional algarvia e suas formas.

No dia anterior – sexta-feira, dia 3 – foi o reputado chef galego Fernando Agrasar del Rio, estrela Michelin desde 2010, e cofundador do restaurante “As Garzas”, a estar aos comandos na cozinha. O menu incluiu uma entrada de espuma de batata trufada e lâminas de polvo, seguida de uma sopa de peixe e mariscos.

Para pratos principais não faltaram as vieiras, com parmentier de cogumelos e trufas negras, e pescada com ervilha lágrima em molho de sapateira. Uma maçã em gin tónico e uma improvável sobremesa de spaghetii carbonara fecharam a carta.

E assim se fez “Render o Peixe”… já a pensar em ir à «Faina».

 

Veja mais fotos deste almoço e do futuro restaurante:

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

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