Muito mais do que esverdear!

A Arquitetura Paisagista em Portugal tem sido relegada para segundo plano, sendo os representantes desta área, os arquitetos paisagistas, apelidados […]

A Arquitetura Paisagista em Portugal tem sido relegada para segundo plano, sendo os representantes desta área, os arquitetos paisagistas, apelidados com os mais espetaculares nomes, como lunáticos ou simplesmente maluquinhos da cabeça que só pensam em esverdear.

Sendo eu um dos profissionais desta área, posição da qual muito me orgulho, é com enorme espanto, mas sobretudo satisfação, que vejo todos os jornais nacionais e até alguns internacionais darem ênfase a um prémio da classe dos arquitetos paisagistas, o prémio Sir Geoffrey Jellicoe.

Tenho a certeza de que todos reparamos que o Arquiteto Paisagista (sim é arquiteto paisagista e não arquiteto como muitos jornais referiram) Gonçalo Ribeiro Telles foi assunto em todos os jornais nacionais por ter sido galardoado com o dito prémio.

A meu ver é mais do que merecido, pois este senhor, com 90 anos de idade, continua a defender os seus ideais, defendendo desta forma a nossa paisagem e o nosso território, que, segundo ele, pode assumir-se como a base da sustentabilidade económica de uma nação, tendo para isso de ser aprofundado o conhecimento sobre o território, nomeadamente por parte dos decisores.

Gonçalo Ribeiro Telles é de longe o arquiteto paisagista português mais conhecido, no entanto existem outros aos quais lhes deve ser reconhecido o mérito, tais como António Viana Barreto, Fernando Pessoa, João Nunes, Alexandre Cancela d’Abreu, Manuela Raposo Magalhães, Teresa Andresen, entre outros.

Na semana em que Ribeiro Telles é galardoado com o prémio Jellicoe na Nova Zelândia, Teresa Andresen é galardoada com o Fábos Award Medalist, nos EUA, fazendo com esta seja uma semana de orgulho nacional na área da arquitetura paisagista.

Ser arquiteto paisagista é muito mais do que esverdear e a atividade dos arquitetos paisagistas está presente no quotidiano de cada um de nós, no parque urbano onde vamos passear, na área industrial recuperada que vamos visitar, no nosso jardim particular ou até na ribeira que vamos contemplar, daí que não se perceba o porquê de tamanha aversão a estes profissionais (talvez seja pela baixa rentabilidade económica de um espaço verde em detrimento da alta rentabilidade económica de um terreno destinado ao imobiliário, quem sabe?).

O principal objetivo do trabalho dos arquitetos paisagistas é a melhoria das condições de vida das populações, indo ao encontro do estabelecido pelo “pai” da arquitetura paisagista em Portugal, Francisco Caldeira Cabral, que defendia que a atividade da arquitetura paisagista era o ordenamento do espaço em função do Homem.

São estes prémios internacionais que garantem o reconhecimento a esta jovem profissão em Portugal, tornando cada português orgulhoso de ter profissionais competentes e reconhecidos no estrangeiro.

Já é tempo, contudo, de sermos nós a reconhecer o bom que temos e, sobretudo, a reconhecer que a atividade da arquitetura paisagista é necessária para que possamos ter uma maior e melhor qualidade de vida, com a qual se pode atingir a sustentabilidade económica.

Por fim, muito melhor que felicitar o Gonçalo e a Teresa é agradecer-lhes pelo excelente trabalho desenvolvido ao longo dos anos e pelos conhecimentos que passam às gerações mais novas desta profissão que é muito mais do que esverdear.

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