Qual a cor do fumo branco

Esta quinta-feira, dia 28 de fevereiro, foi o último dia do Pontificado do Papa Bento XVI. É inédito, pelo menos […]

Esta quinta-feira, dia 28 de fevereiro, foi o último dia do Pontificado do Papa Bento XVI. É inédito, pelo menos nos últimos 600 anos (e antes só aconteceu por duas vezes, em dois milénios de história da Igreja), que um Papa em funções abdique delas e se retire. E isso é, na minha opinião, muito significativo.

Bento XVI, o antigo cardeal Ratzinger, sempre teve má imprensa, ou seja, nunca foi muito querido dos órgãos de comunicação social, ao contrário do seu antecessor, João Paulo II, que foi o primeiro Papa verdadeiramente superstar.

Por ser alemão, por não sorrir muito, por ser considerado um frio intelectual, demasiado racional, pouco emotivo, Bento XVI nunca foi, de facto, um Papa muito querido e popular.

Mas isso são superficialidades de uma comunicação social mais atenta às aparências, ao espetáculo, à imagem, que à profundidade e ao pensamento.

Pessoalmente, gostaria que o novo Papa, que há-de ser eleito em março, pudesse trazer uma lufada de ar fresco a uma Igreja Católica que considero demasiado retrógrada e incapaz de acompanhar o rápido evoluir dos tempos. Um Papa mais aberto ao mundo atual, aos seus problemas concretos, ao crescente papel das mulheres na sociedade e ao que isso implica até ao nível da religião e dos seus dogmas, às novas formas e composições das famílias, à emergência social e ao crescente fosso entre ricos e pobres. Um Papa que não tivesse medo de discutir as questões de hoje, como o uso de contracetivos, do preservativo, o casamento dos padres. Um Papa, enfim, que fosse alguém verdadeiramente do século XXI.

Mas duvido que uma mudança tão grande possa acontecer, numa estrutura tão pesada e cheia de inércia como a Igreja Católica.

Pode ser que, pela primeira vez, tenhamos um Papa vindo de fora da Europa – talvez da América do Sul ou, menos provavelmente, de África. Mas tenho a impressão que essa será toda a mudança (no fundo, apenas uma mudança na aparência, na espuma das coisas) que poderemos esperar.

Esta é, porém, uma oportunidade histórica para a Igreja Católica mostrar que ainda pode ter um papel importante a desempenhar no Mundo. A Igreja tem 1200 milhões de fiéis em todo o mundo, dizem as estatísticas oficiais. Mas muitos, como eu, há longo tempo que andam arredados da religião, precisamente por causa desta incapacidade de a Igreja se adaptar realmente aos tempos atuais.

Aguardemos, por isso, apesar de tudo com alguma esperança, qual a cor do fumo branco que vai sair das chaminés da Capela Sistina, em março.

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