«Cansados e ignorados», professores fazem greve em Faro

Docentes prometem continuar a lutar pelos seus direitos

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

«Os professores não são ouvidos e está aqui a prova. Estamos cansados e o que vemos é que o Governo faz tudo, menos tornar atrativa a carreira de docente». As palavras, de Elsa Correia, espelham o que ia na alma dos cerca de 50 professores da Escola EB 2,3 Joaquim Magalhães, de Faro, que fizeram greve aos primeiros dois tempos da manhã desta terça-feira, 11 de Janeiro. 

“Educação sem valorização, Portugal em autodestruição”. “É greve porque é grave”. “A lutar também estamos a ensinar”.

Estas eram apenas algumas das frases de ordem que se liam nas dezenas de cartazes que os professores empunhavam, ao início da manhã, à porta da escola.

Clotilde Nunes, docente de francês do 3º ciclo, era uma delas. «Eu sou contratada e vim de Coimbra sem nenhum apoio», começa por dizer à reportagem do Sul Informação. 

Desde Dezembro, mês do início desta greve, por tempo indeterminado, esta foi a primeira manifestação realizada pelos professores da EB 2,3 Joaquim Magalhães.

As «muitas» reinvindicações dos docentes são explicadas por Clotilde Nunes.

«As nossas lutas passam pela valorização da nossa carreira docente, a progressão, a avaliação justa, o fim das quotas, a vinculação dos contratados, a atualização rápida dos salários, menos burocracia, menos grelhas, menos papelada e menos reuniões», diz.

 

 

Outra das principais questões, que motivou esta greve, convocada pelo Sindicato de Todos os Professores (S.T.O.P), e à qual já se juntaram outros sindicatos, passa pela ideia da municipalização – transformando os concursos de professores em listas municipais.

O Governo tem insistido que isso não está em cima da mesa, mas os professores não acreditam enquanto «não houver nada escrito».

João Costa, ministro da Educação, já antecipou, de resto, a ronda negocial com os sindicatos e até prometeu propostas «além» do proposto pelos professores sobre a revisão do regime de recrutamento e a mobilidade do pessoal docente.

«Não vamos acreditar nas falas do senhor ministro. Se a municipalização podia ser uma solução? Obviamente que não. É um convite à corrupção e ao compadrio», considera Clotilde Nunes.

Ao seu lado, está Cláudio Brito. Professor de História e Geografia no Agrupamento de Escolas Padre João Cabanita (Loulé), decidiu juntar-se a este protesto, em Faro, porque «esta não é uma luta de escolas, mas, sim, de todos».

«Quando me formei, foi-me dada a garantia de que iria para uma carreira atrativa e estável. Porém, nestes últimos 10 anos, entre os vários Governos e ministros que tivemos, o que eu vejo são professores há demasiado tempo com a casa às costas, a hipotecarem o seu futuro e a sua vida», lamenta ao Sul Informação.

Cláudio é professor há 10 anos, é de Coimbra e também se viu obrigado a rumar ao Algarve, onde já trabalhou em várias escolas.

«Há muita gente que desiste da carreira, o que é ingrato para o país e para esta geração», diz.

E qual seria a solução?

«Na minha opinião, deveria ser criado um subsídio para professores deslocados ou ajuda nos custos, especialmente em sítios como Lisboa e Algarve que têm rendas muito caras, ou, em compensação, dar verdadeiramente uma estabilidade salarial e progressão maior no salário dos professores – ao invés dos 1050, 1100 euros que um docente contratado pode ganhar durante 20 anos», defende Cláudio Nunes.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

Elsa Correia é um dos principais rostos da manifestação. Vai cantando palavras de ordem, como “Costa, escuta, os professores estão em luta!”.

«Eu estou insatisfeita. Não concordo com a forma como o Governo nos tem tratado ao longo destes anos. A carreira não é atrativa: é muito desgastante, cada vez há mais burocracia, há mais grelhas, mais confusões que não têm efeito prático na aprendizagem dos alunos», conta ao Sul Informação.

Para a docente de Físico-Química, «há, cada vez, mais, uma dificuldade enorme em encontrar professores».

«Todas as alterações que têm feito não trazem nenhum objetivo para aquilo que se pretende que é a melhoria da qualidade do ensino. A questão das quotas, para subir de escalão, também não faz sentido», defende.

Elsa Correia queixa-se, acima de tudo, de que os professores «não são ouvidos».

«Deviam falar com os professores: nós temos reuniões, para dar a nossa opinião, mas isso tem de chegar lá a cima. Chega-se a uma direção de uma escola e daqui não passa», lamenta.

Se não forem ouvidos, a grande preocupação destes docentes é transversal:

«A base de um país é a educação e corremos o risco de ficar sem professores».

 

Fotos e vídeo: Pedro Lemos | Sul Informação

 

 

 

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