Rede de resposta com Câmara, instituições e Estado evitou «tragédia social» em Albufeira

Albufeira Summit começou com o debate sobre as questões sociais causadas pela pandemia

José Carlos Rolo, presidente da CM Albufeira – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Devido aos efeitos económicos da pandemia, «Albufeira tinha tudo para estar numa situação de tragédia social, se não tivesse havido a intervenção» em rede da Câmara Municipal, das Instituições Particulares de Solidariedade Social e dos organismos públicos. As palavras são de Valdemar Saleiro, presidente da Fundação António da Silva Leal, um dos convidados da Albufeira Summit, que começou na tarde de ontem e se prolonga até sábado, dia 10.

Mas a crise criada pela paragem quase total do turismo e dos setores a ele ligados, que são a base da economia do Algarve em geral, e de Albufeira em particular, pode ainda não batido no fundo. No primeiro painel, dedicado à Ação Social, Carlos Santos, presidente da Associação Humanitária de Solidariedade de Albufeira (AHSA), disse temer «que venha aí uma crise ainda mais profunda».

«Se o Verão não nos trouxer alguma dinâmica económica, as coisas a nível social podem complicar-se ainda mais no concelho. E digo-vos que a situação já está complicada!», acrescentou o dirigente da AHSA.

Na abertura desta Albufeira Summit, José Carlos Rolo, presidente da Câmara de Albufeira, já tinha salientado isso mesmo, recordando que o município apoiou «tudo o que foi possível apoiar e certamente estaremos cá para apoiar ainda mais».

«Fizemos tudo o que foi possível para apoiar as empresas, para que se mantivessem ativas e de portas abertas», «incentivámos a economia circular», acrescentou.

E, frisou o autarca, «se não o tivéssemos feito, quando retomássemos a atividade, apenas teríamos fantasmas no tecido empresarial de Albufeira».

 

Patrícia Seromenho, provedora da SCMA – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Outro dos oradores do painel sobre Ação Social, o padre Pedro Manuel, presidente do Centro Paroquial de Paderne à Pessoa, salientou, por seu lado, as implicações que a pandemia está a ter «na saúde mental dos utentes, famílias e colaboradores», defendendo que, agora e no futuro, haverá que «dar resposta a necessidades novas».

Talvez por isso, Patrícia Seromenho, provedora da Santa Casa da Misericórdia de Albufeira e primeira palestrante do dia, já tinha dito que era preciso passar da «ação social» para a «intervenção social».

Patrícia Seromenho elencou as debilidades de um concelho demasiado dependente de uma só atividade económica, o Turismo, sublinhando que dois dos principais problemas são «os trabalhadores com falta de qualificação» e o «emprego sazonal». Mas também o «tecido empresarial necessita de se requalificar», defendeu.

Nos tempos mais próximos e no pós pandemia, é preciso saber «como nos organizamos para dar resposta» a questões como o desemprego, «que aumentou», aos «problemas de saúde mental, que aumentaram», «à comunidade que envelhece todos os dias» e à qual é preciso dar uma resposta que não passe apenas, nem maioritariamente pela «institucionalização».

O presidente da Câmara de Albufeira, na abertura do Summit, já tinha explicado que «a razão para organizar este evento é pensarmos o futuro». A partir da intervenção dos mais de 80 especialistas convidados, das mais variadas áreas, o que se pretende, defendeu o autarca, é «ouvir e aprender com os que sabem mais do que nós».

Agora que se aproxima o retomar da atividade económica, José Carlos Rolo garantiu: «estamos prontos para seguir em frente». É que, sublinhou, «Albufeira tem a responsabilidade de estar preparada para ter uma oferta real logo que o desconfinamento, mesmo parcial, se verifique».

 

Paulo Morgado, presidente da ARS Algarve – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

O segundo painel da tarde, sobre Saúde, começou com uma conferência de Paulo Morgado, presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, que deixou palavras de esperança, mas também de alerta: «a pandemia irá passar, a situação pandémica resolver-se-á, mas isso não significa que a doença desapareça. Vai continuar connosco e condicionar as nossas vidas».

E que mundo é este que sairá da pandemia? É, para já, um mundo em que «as pessoas tendem a desconfiar mais das instituições» e de «quem as governa».

Os «hábitos pandémicos» vão «tender a continuar nas nossas vidas», nomeadamente o «distanciamento físico» em algumas situações, e o «uso da máscara».

Para o presidente da ARS Algarve, é «mais ou menos evidente, que é preciso continuar a investir cada vez mais no Estado Social. Os Estados que não investem, ou que investiram pouco, são os que estão a passar com mais dificuldade por esta crise».

«No futuro, para termos mais resiliência quando tivermos uma nova crise», é preciso criar um «Estado Social mais forte, uns Serviços de Saúde mais preparados e mais adequados, para conseguirmos reagir melhor».

Uma das lições a tirar da situação atual, disse ainda Paulo Morgado, é a necessidade de «criar redes de suporte social e incluo nisso os cuidados de saúde, nomeadamente os primários, aqueles que estão mais próximos».

Serão necessários «serviços focados nas pessoas, na proximidade, mas também termos a capacidade de tratar problemas à distância, com eficácia».

Por isso, defendeu, uma das «coisas boas» que sai desta pandemia é a «perceção» de que se pode incrementar o uso da telemedicina e da telessaúde.

 

Painel sobre saúde – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Este tema seria de seguida abordado no painel sobre Saúde, que teve como moderadora Sílvia Cabrita, diretora da ACES Central, e como oradores Margarida Feteira, diretora da Unidade de Saúde Familiar de Albufeira, Jorge Queiroz, dono do Aqualab, e André Pinto, administrador do Hospital Lusíadas.

Jorge Queiroz falou do «desafio de adaptação a toda a situação pandémica», que teve de ser feito pelo seu laboratório. «Atualmente, temos toda uma atividade extra que tem a ver com as análises de Covid», além da outra atividade normal.

André Pinto salientou a quebra verificada na unidade privada de saúde da qual é responsável, até porque uma fatia importante dos utentes eram turistas. Mas, sublinhou, «as doenças continuaram a existir e os efeitos de não recorrer aos serviços de saúde vão sentir-se no futuro».

Margarida Feteira abordou um tema que já antes tinha sido falado, frisando que vai haver um «desafio na área da saúde mental», defendendo a necessidade de contratar mais profissionais na área da Psicologia e de «trabalhar em parceria com as equipas do município, das IPSS e do Centro de Saúde».

«A pandemia pôs a nu as necessidades que existem» no setor da saúde, defendeu Jorge Queiroz, acrescentando que «deveremos estar mais bem preparados para pandemias futuras».

 

José Carlos Rolo na abertura da Albufeira Summit- Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Até ao início da noite, o intenso programa da Albufeira Summit incluiu ainda um painel sobre Património Natural e Cultural, que teve como palestrante Filipa Mascarenhas Neto, da Direção Geral Patrimonial e Cultural, e outro sobre Juventude e Desporto, onde o palestrante foi Custódio Moreno, diretor regional do IPDJ. O primeiro dia terminou com a discussão sobre Segurança e Proteção Civil, cujo palestrante foi Vítor Vaz Pinto, Comandante Regional do Algarve de Emergência e Proteção Civil.

Esta sexta-feira, dia 9, a Albufeira Summit terá como temas o Turismo, a Hotelaria e Restauração, a Animação Turística, a Indústria, Comércio e Serviços, Emprego e Empreendedorismo, Agricultura e Mar, Educação e Formação Profissional, Transportes Urbanos, Higiene Urbana, Eficiência Energética, Águas e Saneamento.

Entre os palestrantes programados, conta-se João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve, António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal, Madalena Feu, delegada regional do IEFP, Pedro Valadas Monteiro, diretor regional de Agricultura, Alexandre Lima, delegado regional de Educação, Élio Vicente, da ANIMA, ou o hoteleiro José Carlos Leandro.

No sábado, a fechar, irá falar-se de Transição Climática, Transição Digital, a estratégia Portugal 2030 e, finalmente, sobre o lançamento da Marca Albufeira e do plano Albufeira Safe. Neste último dia, alguns dos convidados serão Francisco Ferreira, dirigente da associação ZERO, Miguel Castro Neto, professor da Universidade Nova de Lisboa, João Aragão Azevedo, secretário de Estado da Transição Digital, ou ainda José Apolinário, presidente da CCDR Algarve.

Todas as sessões da Albufeira Summit estão a ser transmitidas em direto na página de Facebook da Câmara de Albufeira e podem ser acompanhadas clicando aqui.

Para conhecer o programa em detalhe, clique aqui (PDF).

Para rever o primeiro dia, clique aqui

Mais informação aqui.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

 



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